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08/02/2008

Ipec faz campanha para uso racional de medicamentos

Isis Breves


A promoção do uso racional de medicamentos faz parte das estratégias da Organização Mundial de Saúde (OMS). Assim, com o aval da OMS, o ensino da boa prescrição teve início na Europa e expandiu-se para a América Latina. No Brasil, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) lançou a campanha nacional de uso racional de medicamentos e Florianópolis sediou, recentemente, o 2º Congresso Brasileiro sobre Uso Racional de Medicamentos. O evento teve como foco a equipe multi-profissional de saúde e o eixo condutor foi a institucionalização do uso racional de medicamentos na prática dos serviços de saúde. O Serviço de Farmácia do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec) da Fiocruz participou do congresso com seis trabalhos apresentados em pôsteres. Além disso, no 5º Riopharma o trabalho Avaliação das devoluções de medicamentos por pacientes ambulatoriais do Ipec-Fiocruz foi premiado com menção honrosa. Para falar sobre o assunto, a Agência Fiocruz de Notícias (AFN) entrevistou o chefe do Serviço de Farmácia do Ipec, o farmacêutico José Liporage, e o coordenador de Ensino e Pesquisa do Serviço, o farmacêutico Gilberto Silva.


 Silva: A educação em saúde é a maneira de orientar sobre os riscos que a automedicação traz

Silva: A educação em saúde é a maneira de orientar sobre os riscos que a automedicação traz


AFN: A assistência farmacêutica padronizada surge como alternativa que busca melhorar a qualidade do processo de utilização de medicamentos. De que maneira a prática da padronização da assistência farmacêutica em uma unidade hospitalar, como promoção do uso racional de medicamentos, contribui para a saúde e qualidade de vida?


Gilberto Silva: A padronização de procedimentos de protocolos clínicos representa uma enorme economia e uma melhora no critério para seleção dos medicamentos na hora de prescrição, ou seja, para garantir o melhor tratamento pelo menor custo. No caso do Ipec, existe uma comissão técnico-científica que busca os medicamentos de menor custo possível, com maior efetividade, considerando as doenças de maior prevalência na comunidade. A comissão se reúne freqüentemente, vê e revê se a lista padronizada e analisa se é adequada a nossa realidade. Se for o caso, retira os medicamentos obsoletos e inclui os medicamentos novos que estejam de acordo com a nossa realidade.


Com a padronização o médico vai seguir a indicação pelo princípio ativo, reduzindo a pressão exercida pelas indústrias farmacêuticas. Podemos citar como exemplo as heparinas de baixo peso, que na marca de  referência custam em torno de R$ 16,60. O mesmo medicamento, de outro laboratório, com perfil de qualidade bastante semelhante, tem preço de R$ 8,50, o que representa uma economia anual de R$ 9.412,20. O estudo da demanda reprimida, que avalia o que o paciente deixou de usar, permite identificar os tratamentos que não foram atendidos. Esse estudo é importante na questão do uso racional de medicamentos porque dá um parâmetro estatístico financeiro para garantir o acesso ao medicamento pelo paciente, isto é, para usar o que se precisa. Permite que possamos nos planejar e montar uma logística de orçamento para atender de forma mais eficaz os usuários. Remédio garantido, qualidade de vida também.


AFN: As principais causas de morbidade previsível relacionadas a medicamentos são prescrição inadequada, reações adversas, não adesão ao tratamento, superdosagem ou sub-dosagem, falta de farmacoterapia necessária, inadequado seguimento de sinais e sintomas e erros de medicação. Quais as estratégias que devem ser tomadas para evitar esses problemas?


José Liporage: O Serviço de Farmácia do Ipec tem como medida a assistência farmacêutica humanizada, que é um diferencial para um hospital que atende pacientes com doenças infecciosas. E funciona na prática da seguinte forma: o usuário apresenta a receita para o serviço, onde recebe toda as orientações sobre o medicamento, inclusive para evitar o abandono do tratamento. Informações como a dose certa e a indicação medicamentosa.


Foi desenvolvido no serviço a monitoração e avaliação de eventos adversos a medicamentos nos pacientes assistidos na unidade através do sistema de notificação espontânea de casos, que a farmacovigilância cumpre esse papel. A diferença da notificação feita no Ipec é que os próprios usuários são orientados a informar qualquer tipo de reação medicamentosa. Para isso, a prefeitura do campus da Fiocruz disponibilizou duas telefonistas para que o paciente, além da recepção do serviço, tenha a opção de entrar em contato por telefone e notificar.


A educação em saúde para orientar a população é uma estratégica que evita a automedicação, um dos grandes desafios enfrentados pela política do uso racional de medicamentos. Além disso, fornecemos cartões com o endereço e telefone do serviço, porta-comprimidos, seringa para medidas de medicamentos líquidos, preservativos femininos e masculinos. Participamos ainda de um projeto de adesão e de preenchimento de face dos pacientes com lipodistrofia causada pelos medicamentos anti-retrovirais.


AFN: A promoção do uso racional dos medicamentos é uma ferramenta importante para, senão eliminar, minimizar problemas como a automedicação e os efeitos adversos. Como se dá a atuação do farmacêutico em equipes multidisplinares?


Liporage: O papel do farmacêutico é fundamental para a promoção da saúde, em especial no uso racional de medicamentos. No Ipec, a preocupação é redobrada, já que atendemos a pacientes com doenças como tuberculose e Aids, em que o medicamento é fundamental para o tratamento e a qualidade de vida. O farmacêutico, além de acompanhar e verificar a prescrição médica, avalia os efeitos adversos e atua na orientação de como o remédio deve ser utilizado.


Silva: Vale ressaltar que a educação em saúde é a maneira de orientar a população sobre o assunto, principalmente dos riscos que a automedicação traz. No Ipec estamos sempre preocupados em orientar e educar nossos usuários com uma linguagem acessível com ilustrações, jogos educativos, quadrinhos entre outros. O material educativo com direitos do paciente e as informações sobre controle e prevenção de doenças são medidas estratégicas.

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