Maior religiosidade pode inibir abuso de bebidas alcoólicas

Publicado em
Fernanda Marques
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Maior religiosidade, maior freqüência a cultos e pertencimento a uma igreja evangélica parecem exercer um efeito inibidor do uso e da dependência de álcool. A conclusão é de um estudo desenvolvido na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Publicada no periódico científico Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, a pesquisa teve como objetivo identificar se a prevalência de transtornos mentais é diferente em pacientes com ou sem religião e com distintos níveis de religiosidade.


 Para os autores do estudo, os resultados provavelmente relacionam-se ao fato de as religiões, de modo geral, considerarem o uso excessivo de bebidas alcoólicas um comportamento condenável

Para os autores do estudo, os resultados provavelmente relacionam-se ao fato de as religiões, de modo geral, considerarem o uso excessivo de bebidas alcoólicas um comportamento condenável


O trabalho envolveu cerca de 250 pacientes internados nas enfermarias cirúrgicas e clínicas, exceto a de psiquiatria, do Hospital das Clínicas da Unicamp. Os indivíduos tinham, em média, 47 anos de idade e 6 anos de escolaridade. Em 60% deles foi diagnosticado pelo menos um problema de saúde mental, como transtornos depressivo, bipolar e de ansiedade, risco de suicídio e dependência de álcool. Nas entrevistas, 47,2% disseram ser religiosos e 41,6% se consideravam muito religiosos, contra 10% e 1,2% que afirmaram ser pouco ou não religiosos, respectivamente. Havia 62,8% de católicos, 23% de evangélicos, 5,9% de espíritas e 7,9% sem religião. Quanto à freqüência à igreja, os entrevistados iam, em média, 4,5 vezes ao mês.


De acordo com o artigo, pessoas pouco religiosas ou sem religião tiveram sete vezes mais chance de receber diagnóstico de abuso ou dependência de álcool, se comparadas a indivíduos muito religiosos, e seis vezes mais chance de apresentar transtorno bipolar, se comparadas a indivíduos religiosos. Contudo, em relação a pessoas moderadamente religiosas, as muito religiosas tiveram três vezes mais chance de receber diagnóstico de transtorno bipolar. Os resultados, portanto, sugerem que os extremos do envolvimento religioso podem estar associados a uma maior prevalência de problemas de saúde mental.


“Tais resultados provavelmente relacionam-se ao fato de as religiões, de modo geral, e as igrejas evangélicas, de forma particularmente marcante, considerarem o uso excessivo de bebidas alcoólicas um comportamento condenável”, dizem o psiquiatra Paulo Dalgalarrondo e co-autores no artigo. “É possível que pessoas sem religião sejam também aquelas com uma pior rede de apoio social ou que, por seu transtorno, se afastaram da vida religiosa”, completam. No entanto, os pesquisadores destacam que seus resultados ainda não são conclusivos e não devem ser generalizados para a população geral.