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02/02/2007

Mais da metade dos moradores de assentamento tem parasitose intestinal

Fernanda Marques


Ramal do Granada e Reserva da Linha 14 – duas localidades pertencentes ao assentamento agrícola Padre Peixoto, no Acre – foram alvo de um estudo publicado na edição de fevereiro da revista Cadernos de Saúde Pública. O objetivo da pesquisa era avaliar a prevalência e a distribuição espacial das parasitoses intestinais. Cistos, ovos ou larvas de parasitos foram detectados nos exames de fezes de mais da metade dos moradores. Conduzido pela equipe da médica Mônica da Silva-Nunes, da Universidade de São Paulo (USP), o trabalho também mostrou que apenas seis domicílios concentravam mais de 48% dos casos de verminoses cuja transmissão depende da contaminação fecal do solo. Esses domicílios eram mais pobres e tinham uma média maior de moradores por cômodo.


 Horta da Escola Nacional Florestan Fernandes (Foto: MST)

Horta da Escola Nacional Florestan Fernandes (Foto: MST)


Áreas com grande ocorrência de doenças como malária e anemia, Ramal do Granada e Reserva da Linha 14 somavam, na ocasião da pesquisa, 114 domicílios e 473 habitantes, de um dia a 90 anos de idade. Foram analisadas amostras de fezes de cerca de 430 moradores. Os indivíduos infectados receberam tratamento gratuito, oferecido pelos médicos que realizaram a pesquisa de campo. Um terço dos moradores relatou já ter usado remédios contra vermes nos seis meses anteriores ao estudo.


O parasito intestinal de maior prevalência foi Giardia duodenalis, protozoário que infectava quase 20% dos habitantes. E esse percentual, segundo os autores da pesquisa, pode estar subestimado. Vermes transmitidos pelo solo, como Ascaris, Trichuris e Strongyloides, foram encontrados nas fezes de mais de 12% dos indivíduos. Chamou a atenção dos pesquisadores o fato de que um quarto dos moradores estava infectado por mais de um tipo de parasito. Uma pessoa foi diagnosticada com seis parasitos diferentes.


Em torno de 80% dos domicílios de Ramal do Granada e Reserva da Linha 14 tinham eletricidade e vaso sanitário. Poços particulares eram a principal fonte de água e em 30% das casas o lixo se acumulava a céu aberto. As pessoas diagnosticadas com parasitoses intestinais, em geral, viviam em habitações mais precárias, sem água filtrada nem vaso sanitário. Além disso, os domicílios mais afetados pelas parasitoses intestinais tinham chefes de família com menor escolaridade.


“A epidemiologia de parasitismo intestinal nas populações da Amazônia rural tem recebido pouca atenção”, diz o artigo da revista Cadernos de Saúde Pública. Analisar a distribuição espacial das parasitoses intestinais e os fatores de risco associados a elas permite planejar ações de controle direcionadas às regiões mais vulneráveis. Permite também a adoção de medidas para reduzir o risco dessas doenças, o que vai além do uso de remédios e envolve intervenções sócio-ambientais, como a melhoria das condições sanitárias. Estima-se que parasitoses intestinas atinjam mais de três bilhões de pessoas no mundo.

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