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18/12/2014

Mais vivas do que nunca

Lucas Rocha / Ascom IOC


Fruto de parceria entre o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), o projeto ‘Preservo: Complexo de Acervos da Fiocruz’, destinado à preservação, organização e modernização de parte do extenso patrimônio científico e cultural da Fundação, receberá, em breve, o aporte de R$ 2,4 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Esse valor representa parte dos R$ 5 milhões a serem liberados pelo órgão. O lançamento do projeto, realizado no dia 17/12, no Castelo Mourisco da Fiocruz, contou com a participação do presidente da Fundação, Paulo Gadelha; do presidente do BNDES, Luciano Coutinho; dos diretores de Unidades envolvidas, Wilson Savino (IOC), Paulo Elian (COC) e Umberto Trigueiros (ICICT); do coordenador geral do projeto, Marcos José Pinheiro; e do diretor Executivo da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec/Fiocruz), Maurício Zuma.

Dentre o patrimônio Arquivístico, Museológico e Bibliográfico da Fiocruz contemplado, estão nove Coleções Biológicas do Instituto, de importância nacional e internacional. Os acervos incluem insetos, helmintos e peças histopatológicas relacionadas a casos de febre amarela. De acordo com a vice-diretora do IOC, o investimento contribuirá para o contínuo trabalho de aperfeiçoamento na infraestrutura, organização e divulgação das milhões de amostras sob a guarda da Unidade. “Seguindo uma tendência internacional, três novos e modernos equipamentos nos permitirão acelerar a digitalização dos nossos acervos. Esse será um benefício para toda a Fiocruz e para instituições de ensino e pesquisa do Brasil e do mundo”, destacou Eliane.

A cerimônia marcou a assinatura do contrato entre as instituições. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, salientou a importância do investimento. “Preservar a memória científica é uma das missões mais nobres do conhecimento. A ciência não avança sem o aprendizado e o aprendizado não se faz sem a memória. É um privilégio contribuir para o resgate de acervos que possuem grande riqueza científica, documental e biológica e que contribuem para a produção científica de alta qualidade”, destacou. “A iniciativa valoriza cientistas pioneiros que foram ao campo e tiveram o cuidado de coletar, organizar e preservar amostras que possuem grande valor científico e histórico. Preservar esses acervos hoje é um compromisso histórico e uma questão que faz parte do projeto de desenvolvimento institucional da Fiocruz”, complementou Gadelha.

O projeto inclui as Coleções: Entomológica, Helmintológica, de Simulídeos, de Triatomíneos, de Moluscos, de Ceratopogonidae, de Culicídeos, de Artrópodes Vetores Ápteros de Importância em Saúde das Comunidades, além da única coleção Histopatológica da Fundação, a de Febre Amarela. Todas receberão melhorias estruturais e terão seus acervos digitalizados e disponibilizados para consulta e estudo online. “Ao mesmo tempo em que possuem um aspecto histórico que precisa ser preservado, essas Coleções contribuem para o desenvolvimento de diversos estudos científicos atualmente. Um projeto que alia a conservação e a inovação, por meio de modernos equipamentos de infraestrutura, tende a garantir saltos de qualidade”, enfatizou o pesquisador Marcelo Pelajo, representante do IOC no projeto e curador da Coleção de Febre Amarela.

Para estudar e pesquisar

Além do forte valor histórico, as Coleções Biológicas permanecem ativas, disponíveis para consulta com finalidade de Ensino e Pesquisa. Em geral, os espaços prestam serviço de empréstimo de espécimes, recebem depósitos de diversas instituições de ensino e pesquisa do mundo, e prestam apoio por meio de consultoria, cursos e treinamentos.

Ampliando o acesso

A instalação de equipamentos de microscopia digital será uma das estratégias para ampliar o acesso ao conteúdo das Coleções. O projeto contempla um scanner capaz de produzir imagens de alta resolução de preparados histológicos – lâminas de vidro que guardam fatias extremamente finas de tecidos, órgãos ou células, além de dois equipamentos capazes de criar imagens digitais tridimensionais de amostras de maior porte, como insetos e vermes. Inovadores, os equipamentos conseguem reproduzir exatamente a visão que o pesquisador tem ao analisar este material ao microscópio. Com isso, quando forem disponibilizadas online, cientistas e estudantes terão acesso a milhares de exemplares em qualquer lugar do mundo. O ‘Preservo’ também vai garantir a produção de fotografias em 360° do acervo da Seção de Anatomia Patológica do Museu da Patologia do IOC, que conta com exemplares de ilustres patologistas, como Gaspar Vianna e Emmanuel Dias.

Mais espaço e segurança

Com o aporte recebido, serão instalados mobiliários deslizantes e climatizados que facilitam o manuseio e permitem a expansão dos acervos com novos depósitos. Além disso, dois novos freezers com capacidade para atingir até 86°C negativos atenderão os exemplares mais sensíveis. O tradicional Castelo Mourisco da Fiocruz e diversos pavilhões situados no campus da Fundação, em Manguinhos, no Rio de Janeiro, que abrigam diferentes tipos de acervos, receberão um novo sistema de segurança para prevenção e combate a incêndios.

A riqueza das Coleções

Os caminhos da história e da ciência se cruzam na trajetória das Coleções Biológicas do IOC. A mais antiga delas, a Coleção Entomológica, foi fundada ainda em 1901 pelo próprio Oswaldo Cruz, a partir da descrição do mosquito Anopheles lutzi, primeira espécie nova proposta no então Instituto Soroterápico Federal. A composição do acervo, um verdadeiro registro da biodiversidade, conta com materiais obtidos a partir das primeiras expedições científicas da Instituição, com colaborações de pesquisadores renomados, como Carlos Chagas e Arthur Neiva. Instalada no Castelo Mourisco, no campus da Fiocruz, no Rio de Janeiro, a Coleção atualmente abriga cerca de cinco milhões de exemplares de insetos, incluindo amostras da fauna brasileira e de outras regiões do mundo, representando quase todas as ordens conhecidas.

De acordo com a curadora da Coleção e chefe do Laboratório de Biodiversidade Entomológica do IOC, Jane Costa, um dos benefícios do projeto será o desenvolvimento de novas pesquisas e parcerias com outras instituições. “A chegada de equipamentos capazes de gerar imagens de alta resolução vai permitir a digitalização dos bens mais preciosos das Coleções, os exemplares-tipo, que são os depósitos de espécies inéditas, considerados padrões para consultas taxonômicas e fonte de comparação para as demais espécies”, explicou.

Também centenária, a Coleção Helmintológica, que reúne mais de 37 mil amostras provenientes dos cinco continentes, começou a ser formada a partir de coletas realizadas pelos célebres pesquisadores José Gomes de Faria e Lauro Pereira Travassos em trabalhos de campo realizados no final do século XIX e início do XX. Outros expoentes da ciência brasileira, como Oswaldo Cruz, Adolpho Lutz e Gaspar Viana, também depositaram ali exemplares utilizados em seus estudos, que, até os dias de hoje, permanecem disponíveis para consulta e pesquisa.

Tesouro em recuperação

Na década de 1970, durante o regime militar, além de dez renomados cientistas vinculados ao IOC terem seus direitos políticos cassados, no episódio conhecido como ‘Massacre de Manguinhos’, a estrutura de algumas Coleções, como a de Febre Amarela, foi afetada pela perda inestimável de parte de seu acervo. Apenas o material mantido em formol foi preservado. Como verdadeiros sobreviventes, ainda hoje, os acervos passam por transformações estruturais, visando suprir as deficiências herdadas desse acontecimento histórico.

Integração

A implementação do ‘Preservo’ é baseada na integração de esforços contínuos entre as Unidades da Fiocruz envolvidas na iniciativa. Os eixos Bibliográfico e Museológico do projeto contam com a coordenação do Icict e da COC, respectivamente. O primeiro contempla ações de restauração, digitalização e divulgação do patrimônio histórico bibliográfico das ciências da saúde, incluindo a preservação do acervo de Obras Raras da Fundação. Já o segundo assegura intervenções quanto à proteção de peças e pessoas, no que diz respeito ao armazenamento correto, fluxo de conteúdos e segurança contra incêndio e intempéries. As Coleções Biológicas do IOC estão inseridas no eixo Arquivístico.

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