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20/06/2022

Medicina nazista e Holocausto são destaques da revista 'HCS-Manguinhos'

César Guerra Chevrand


A medicina durante o período nazista e as suas relações com o Holocausto são os temas da entrevista com o professor e diretor do Instituto de História da Medicina da Universidade de Giessen, na Alemanha, Volker Roelcke, publicada na nova edição da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). O número 2 do volume 29 (abril/junho de 2022) está disponível na íntegra no portal SciELO.

Em depoimento à jornalista Vivian Mannheimer, Roelcke utiliza evidências históricas para refutar suposições equivocadas sobre atrocidades cometidos por médicos durante o nazismo, discute as implicações de suas atuações para a medicina e bioética na atualidade e analisa a historicidade do termo “genocídio”. Além de pesquisador do tema, Volker Roelcke também é um dos organizadores da Lancet Commission on Medicine and the Holocaust, fundada em janeiro de 2021.

Neste mesmo número, o editor científico da HCS-Manguinhos, Marcos Cueto, destaca as conquistas da revista no ano passado, apesar de todas as “adversidades que sufocam a vida política, social e cultural no Brasil”. Além de citar as mudanças na política editorial da revista, com a adoção das diretrizes da ciência aberta, Marcos Cueto também ressalta os números expressivos da audiência do blog e das redes sociais da HCS-Manguinhos e a crescente internacionalização do periódico, que em 2021 registrou 165 submissões provenientes do Brasil e 120 de outros países.

Análise

A emergência da dengue como desafio virológico de doença-fantasma à endemia “de estimação”, 1986-1987 é um dos artigos em destaque da seção Análise. Escrito pelo doutorando do Programa de Pós-Graduação de História das Ciências e da Saúde da COC Jorge Tibilletti de Lara, o texto tem o objetivo de analisar “o papel dos estudos virológicos na compreensão da doença e a construção de uma expertise em arboviroses”, ressaltando, em especial, as iniciativas dos cientistas ligados ao Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Nesta mesma edição, outros artigos inéditos discutem o Programa Nacional de Defensivos Agrícolas e as mudanças na produção e no consumo de pesticidas no Brasil; o papel da astronomia na expansão territorial do Chile; a xenofobia contra os chineses no Peru por causa do coronavírus; a mortalidade em Porto Alegre na Guerra dos Farrapos; o uso de pesticidas em campos espanhóis durante o regime franquista; a internacionalização da ciência na Europa na primeira metade do século 20; a criação do Ministério da Saúde Pública na Colômbia; a comparação sobre história oral e ética entre Brasil, Canadá e Itália; e as práticas científicas na Estação Biológica do Alto da Serra, em São Paulo.

Fontes

O Fundo Virgínia Portocarrero da Casa de Oswaldo Cruz é destaque na seção Fontes desta edição. Doado em vida pela titular para custódia na COC, o fundo reúne fontes do período de 1917 a 2010, com distinção para a sua participação como enfermeira na Força Expedicionária Brasileira (FEB), durante a Segunda Guerra Mundial. Ao apontar as potencialidades deste material, que reúne documentos textuais, iconográficos, tridimensionais, eletrônicos e sonoros, ressalta-se o sentido das "lutas propriamente simbólicas de mulheres brasileiras para se fazer ver, dar-se a conhecer e a se reconhecer".

No outro artigo da seção, debate-se a situação das mulheres e da higiene industrial no México pós-revolucionário, tendo-se como referência o relatório de Juan de Beraza, de 25 de outubro de 1919, sobre a fábrica La Perfeccionada. Assistente de gabinete do Secretário de Indústria, Comércio e Trabalho, Beraza preparou um documento sobre as condições das mulheres trabalhadoras desta fábrica na capital, com detalhes sobre a história das mulheres no “mundo do trabalho" nas primeiras décadas do século 20.

Debate

A pandemia de Covid-19 na América Latina é o tema do debate dos historiadores Claudia Agostoni (Universidad Nacional Autónoma de México), Karina Ramacciotti (Universidad de Buenos Aires) e Gabriel Lopes (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). As reflexões sobre os impactos da pandemia são baseadas nas intervenções apresentadas no evento História em tempos pandêmicos: reflexões sobre um ano de crises, organizado pelo Departamento de Pesquisa em História das Ciências e Saúde da COC, em junho de 2021.

Resenhas

Quatro textos compõem a seção Resenhas da nova edição da HCS-Manguinhos. O livro Peripheral nerve: health and medicine in Cold War Latin America, de Anne-Emanuelle Birn e Raúl Necochea López, é o tema de Mariola Espinosa. Fernando Tadeu Germinatti escreve sobre Desastres: velhos e novos desafios para a saúde coletiva, de Vânia Rocha e Luciana de Resende Londe. Morir en las grandes pestes: las epidemias de cólera y fiebre amarilla en la Buenos Aires del siglo XIX, de Maximiliano Fiquepron, é o objeto da resenha de María Silvia Di Liscia. Por fim, Haydeé Lópes Hernández analisa a obra Memoria y disciplinas: aproximaciones a la historia de las ciencias, de Rafael Guevara Fefer e Miguel García Murcia.

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