03/07/2013
Carolina Landi e Priscila Sarmento
Começou nesta semana o 3º Curso Internacional de Doença de Chagas e Dengue, uma parceria da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) com a Fiocruz. O curso, que tem apoio da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fundação, está sendo realizado no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz) entre 2 e 5 de julho e no Museu da Vida de 8 a 10 deste mês. A iniciativa tem como objetivo formar profissionais que trabalham em programas da MSF e se deparam com epidemias de doença de Chagas e dengue no trabalho de campo.
Posto de saúde lotado durante epidemia de dengue no Rio de Janeiro
O curso possibilita aos gestores, médicos e técnicos que, ao retornarem às suas áreas de campo, renovem e modifiquem práticas para obterem melhores resultados. Para o presidente da MSF no Brasil, Mauro Nunes, a ação consolidar e aperfeiçoa a parceria com a Fiocruz, assinada em setembro. “É necessário melhorar as condições de vida dos pacientes de doença de Chagas e dengue, oferecer conforto às pessoas que sofrem com doenças negligenciadas”. Segundo a coordenadora da Unidade Médica no Brasil da MSF, Maria Carolina Batista dos Santos, é importante que o curso seja feito na Fundação, que é referência em estudos sobre essas enfermidades. “A Fiocruz tem a maior concentração per capita de especialistas nesses assuntos. É natural que a formação seja realizada em uma instituição com esse histórico”.
A metodologia do curso é composta por aulas teóricas e em laboratório, para desenvolver a aplicabilidade das evidências das pesquisas em áreas rurais e remotas dos diversos países. Os médicos também serão treinados em abordagens práticas, como avaliação e resposta rápida para diagnóstico e tratamento. Além de profissionais de campo, representantes dos ministérios da Saúde de países afetados, como a Bolívia, estão presentes às aulas. “Isso é muito importante, porque acredito que seja uma via de mão dupla, tanto para a MSF como para a Fiocruz, pela interface com as pessoas que vieram de campo e trabalharam com o manejo da doença in loco. É uma ponte entre o saber acadêmico e a prática”, diz Maria Carolina.
O infectologista e pediatra Hector Freilij, que representa o Ministério da Saúde da Argentina, acredita que todo o esforço contra a doença de Chagas é muito bem-vindo e necessário. “A colaboração com iniciativas como a da MSF é fundamental para alcançar os locais em que o governo não chega. O curso traz muitas reflexões de experiências, tanto da MSF quanto da Fiocruz”. Freilij informa que, na Argentina, o maior desafio é conscientizar o sistema de saúde da necessidade de tratar o paciente. “Na América Latina existem dificuldades por conta do sistema de saúde, dos médicos e dos gestores para diagnóstico e tratamento. A conscientização está crescendo, mas historicamente há mais dificuldades no controle do vetor, dos bancos de sangue e no acesso aos medicamentos”.
“A cada edição o curso fica melhor. Dessa vez, a MSF separou por módulos (doença de Chagas e dengue), o que é uma grande oportunidade de ampliar um pouco mais os estudos”, complementa José Augusto de Britto, assessor da Vice-Presidência de Ambiente e Atenção e Promoção da Saúde e coordenador da Rede Dengue/Fiocruz. “A MSF tem a doença de Chagas e a dengue como enfermidades prioritárias atualmente. O curso é voltado para essas linhas de cuidado e é bem prático. Além de fornecer o local, oferecemos parte da nossa expertise, por meio de médicos e pesquisadores que trabalham com doença de Chagas”, informa o diretor do Ipec, Alejandro Hasslocher.
Segundo dados da organização Drugs For Neglected Diseases iniciative (DNDI), a doença de Chagas é responsável, por cerca de 12 mil mortes por ano na América Latina. A enfermidade representa um custo global de US$ 7,2 bilhões por ano. O Brasil está no topo do ranking em perdas de produtividade, que chegam a US$ 129 milhões por ano.
Fiocruz e MSF
A Fiocruz e a Médicos sem Fronteiras assinaram, em setembro, um acordo de cooperação que prevê ações até 2017 nas áreas de atenção à saúde, apoio técnico, qualificação e treinamento, pesquisa operacional e elaboração de material científico. A coordenadora da Médicos sem Fronteiras no Brasil, Maria Carolina Batista dos Santos, informou que o acordo amplia a parceria existente entre as duas instituições desde 2007, além de incrementar os cursos anuais sobre dengue e doença de Chagas realizados pela Fiocruz desde 2010 para profissionais de saúde da organização.
MSF
A ONG tem experiência de mais de 40 anos em situações de desastres naturais e na vigilância epidemiológica de pandemias e epidemias. Para o Brasil é de suma importância, uma vez que a organização é especialista em atuar nessas áreas, com uma ação ímpar na capacidade operacional e de assistência. Criada na França em 1971 para atender às demandas de populações atingidas por conflitos, epidemias, catástrofes naturais e fome, a MSF recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1999.