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27/07/2018

Mesa aborda alternativas ao modelo de desenvolvimento neoextrativista

Emerson Rocha (Fiocruz Mata Atlântica)


No primeiro dia do Abrascão 2018 (26/7), o Auditório Victor Valla foi palco de uma mesa-redonda bem complexa e com convidados de extrema relevância. Com o título de Alternativas ao modelo de desenvolvimento neoextrativista e as populações do campo, floresta e das águas, o debate contou com grande presença de público para assistir as opiniões e estudos de nomes como: Eliete Paraguassu, do Movimento Nacional dos Pescadores e Pescadoras Artesanais da Bahia (MPP); João Pedro Stédile, membro da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST); e Paulo Frederico Peterson, coordenador-executivo da Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA). A mesa foi dirigida pelo pesquisador da Fiocruz do Ceará, Fernando Ferreira Carneiro.

Assim que foi iniciado o debate, Eliete Paraguassu revelou os problemas que vem enfrentando na Ilha de Maré, que é uma comunidade quilombola localizada na Baía de Todos os Santos, em Salvador, Bahia. Segundo ela, o local é um dos mais poluídos do país, por causa do derramamento de diversos compostos químicos nas águas, por grandes empresas instaladas na região. A ativista ainda denuncia algumas práticas contra a população, o que ela denomina de “racismo ambiental”.

“Infelizmente a Ilha da Maré é cercada por grandes empreendimentos, que não têm nenhuma pretensão ecológica. Pelo contrário. Eles só trabalham em nome da ganância. Só fazem isso, por ser uma comunidade quilombola e indígena. É um racismo ambiental. Mas somos livres para denunciar e lutar pelo nosso lar. Não quero sair do meu território. A gente que sustenta e alimenta todo mundo, com nosso trabalho. Eles não se dão conta disso. Vamos seguir na luta, em nome de nossas causas”, garantiu Eliete.

Após a baiana, quem fez algumas ponderações foi o João Pedro Stédile. Com um histórico de lutas dentro do MST, ele abriu sua análise com elogios ao Sistema Único de Saúde (SUS), por garantir a universalização da saúde para os brasileiros. Economista, Stédile fez uma comparação com os dois modelos de agricultura que são realizados no Brasil. Para ele, um é o capital, praticado pelo chamado “Agronegócio”, e o outro por trabalhadores de forma artesanal e sem a presença de químicas nas plantações.

“O primeiro tem o objetivo simples de lucro máximo, por um menor tempo possível. São investimentos de capital exterior e de grandes empresas. Eles transformam capital especulativo em lucro. É um modelo destruidor e que mata a natureza e toda forma de vida. É obvio que isso causa desiquilíbrio nas plantações, florestas e águas. Ainda causa a proliferação de doenças, como o câncer, devido aos alimentos contaminados com agrotóxicos. No segundo, são os trabalhadores que são os mais importantes. Eles são donos do território e produzem alimentos saudáveis para a população próxima. Isso se chama de Agroecologia”, comentou Stédile.

Já Paulo Frederico Peterson fez uma exaltação à Saúde Coletiva. Como membro da AS-PTA, ele lamentou que o Brasil esteja voltando para o mapa mundial da fome, mesmo sendo um país com forte na agricultura. “O Brasil exporta o que produz e importa o que consome, como feijão da China. O governo libera credito barato para subsidiar o agronegócio, que por sua vez, recorre ao governo quando precisa. Isso atrapalha a balança comercial e destrói postos de trabalho. Até a agricultura familiar não produz mais alimentos. Eles acabam focando em matérias-primas para grandes empresas, como soja e eucalipto. É um absurdo, pois o lucro é mais rápido e garantido. Com a proliferação de alimentos com agrotóxicos, a população fica mais doente. O retrato disso é o crescimento de supermercados e farmácias nos bairros e grandes cidades, um do lado do outro. Um tem a ver com o outro. O papel dos acadêmicos é desmentir o discurso dos agrotóxicos”, finaliza Paulo Frederico.

No final, foi aberto para o público fazer algumas perguntas e considerações. Os temas abordados pelos participantes foram a indústria medicinal, domínio e politica de territórios, valorização do conhecimento popular e ideias para melhorar a luta pela agricultura saudável e popular.   

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