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29/07/2018

Mesa-redonda discute racismo e saúde pública

Erika Farias (Agência Fiocruz de Notícias)


Foi realizada na manhã de domingo (29/7), último dia do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão 2018), a mesa-redonda Racismo e Saúde Pública, na Tenda Marielle Franco. Com coordenação de Denise de Almeida Ribeiro, a mesa recebeu a pesquisadora do Distrito Federal e membro do GT de Racismo e Saúde da Abrasco Fernanda Lopes; a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e também membro do GT da Abrasco, Dora Chor; e a coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Desigualdades Sociais em Saúde (Nudes), da Bahia, Edna Maria de Araújo.

Mesa-redonda debateu racismo e saúde pública (foto: Erika Farias)

 

“Discutir racismo e saúde no Brasil, em especial neste contexto político e socioeconômico que estamos vivendo é revisitar aquilo que a gente chama de estado democrático de direito, é consolidar uma nova narrativa orientada nas pessoas para os seus direitos fundamentais”, afirmou Fernanda Lopes, ao explicar a necessidade de se considerar o racismo como estruturante para compreender seu impacto na saúde. A pesquisadora também frisou que não existe como defender o Sistema Único de Saúde (SUS), como reconstruir uma ‘missão’ de democracia, sem enfrentar o problema. “Não existe a possibilidade de negar essas vozes que vêm gritando há tantos anos e resistindo”.

Fernanda também apresentou números do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que demonstram a imensa desigualdade entre brancos e negros. Dados de 2016 mostram que a polícia brasileira matou três vezes mais negros, que brancos. “Foram 963 mortes de brancos contra 3.240 mortes de negros”. Entre as mulheres, nos últimos dez anos, houve uma redução de 8% nos homicídios contra mulheres brancas, enquanto contra mulheres negras este número aumentou em 15.4%. “Esses dados retratam iniquidades, desigualdades que são injustificáveis. Eles são a expressão mais pura da injustiça e da violação de direitos”, concluiu a pesquisadora.

Racismo residencial

A pesquisadora da Ensp Dora Chor apresentou resultados do estudo científico publicado em 2017, Interseção de lugar, raça e saúde: Segregação residencial e estudo de riscos cardiometabólicos no Brasil, realizado pelo Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil). Desde 2008, o estudo recolhe dados de servidores públicos de seis instituições brasileiras, que tem como objetivo investigar a incidência e os fatores de risco para doenças cardiovasculares e o diabetes tipo 2, incluindo determinantes sociais, ambientais, ocupacionais e biológicos. “Pretos e pardos morrem mais e morrem antes, mesmo entre os servidores públicos”, afirmou Dora. 

Segundo a pesquisadora, a segregação residencial é uma das causas fundamentais das desigualdades em saúde. “Brancos representam 80% dos residentes de lugares mais caros no Rio de Janeiro.” Esses números apontam que a segregação residencial é um importante determinante estrutural de fatores de risco cardiometabólicos nesta população. “Quanto mais segregada é a área, maior a diabetes”, revelou. “Mas só quem pode dar conta do racismo estrutural é o Estado, a sociedade organizada”, finalizou Chor.

Descontruindo o racismo

Desconstruir o racismo na academia por meio da formação em saúde. Este é o objetivo da pesquisadora Edna Maria de Araújo, da Bahia, criadora e coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Desigualdades Sociais em Saúde (Nudes). “Tento desconstruir o racismo tomando como parâmetro que o conhecimento é capaz de promover mudanças”, disse.

A implantação do núcleo representa um avanço na produção de pesquisas e realização de práticas na comunidade com vistas a redução das desigualdades em saúde em Feira de Santana e região. “Eu, como mulher negra, que sempre estudou em escola pública e teve grande dificuldade de chegar aonde chegou, em uma sociedade racista, vejo como a minha trajetória não deve nada aos meus colegas que não são negros e estão na academia”, ressaltou Edna. 

Na Fiocruz

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