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11/11/2005

Micos-leão-dourados podem ser infectados por grupo de parasito causador da doença de Chagas

Pablo Ferreira



















André Az/Fiocruz




Ana Claudia Duarte, em frente ao

seu trabalho, que foi apresentado

na Sessão de Pôsters

Assim como os humanos, os micos-leão-dourados também podem ser infectados pelo parasito causador da doença de Chagas (conhecido como Trypanosoma cruzi). Pesquisadores do Laboratório de Biologia de Tripanosomatídeos da Fiocruz já haviam constatado que 44% dos exemplares da Reserva Biológica de Poço das Antas, no município de Silva Jardim (RJ), carregam o protozoário. Agora, em pesquisa feita na mesma região, a estudante de biologia Ana Claudia Machado Duarte (bolsista do mesmo laboratório) identificou, de modo inédito, que esses animais também apresentam um grupo de T. cruzi conhecido como TCI - devido a uma série de complexas diferenças, costuma-se dividir o T. cruzi em dois grupos principais; até então, acreditava-se que aqueles micos eram afetados somente pelo outro grupo, denominado TCII.

Ana Claudia investiga micos-leão-dourados há dois anos. Durante esse tempo, a estudante analisou amostras de sangue de 72 primatas, certamente infectados e nativos de Poço das Antas. Na seqüência, ela isolou os parasitos presentes nas amostras, extraiu seu DNA e, por meio de técnicas moleculares, apurou que 11 deles apresentavam T. cruzi do tipo TCI. "Até então, sabíamos que o TCI infectava outros macacos e animais silvestres, mas é a primeira vez que o encontramos em micos-leão-dourados", diz.


A reserva foi criada em 1974, para tentar salvar o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) da extinção. Hoje, existem no local pouco mais de mil primatas. Apesar de 44% deles estarem infectados com o T. cruzi, acredita-se que somente 30% destes chegam a desenvolver sintomas da doença. Perguntada se a presença do T. cruzi colocaria em risco a vida dos animais, Ana Claudia afirma que esta questão esta sendo avaliada por outros pesquisadores da Fiocruz. Porém, para que o T. cruzi não represente uma ameaça para o animal em extinção, a estudante alerta para a continuidade do monitoramento. "Juntamente com o programa de conservação da espécie, realizamos exames, coletas de sangue e outros procedimentos e até aqui, encontramos excelentes condições de trabalho", afirma a estudante.










Rodrigo Mexas




O mico-leão-dourado (Leotopithecus rosalia)

Embora haja sido encontrado o TCI, a maioria dos micos infectados carrega o TCII, atualmente considerado o grupo de T. cruzi principal responsável pela da doença de Chagas no Brasil. Contudo, apoiada por seus orientadores, a estudante deixa bem claro que mesmo que alguns micos-leão-dourados estejam infectados com o T. cruzi, isto não necessariamente representa ameaça para os humanos residentes próximos às áreas de preservação. "O ciclo de transmissão está restrito à reserva, ou seja, só ocorre eminentemente dentro da floresta e enquanto houver monitoramento, não há nenhum risco para a população", esclarece Ana Claudia. "É bom que isso fique bem claro, para absolutamente tranqüilizar fazendeiros que cedem locais em suas propriedades para a reintegração de micos (por exemplo, vindos de zoológicos) de que não há nenhum risco para a saúde de suas famílias", completa.


O trabalho de Ana Claudia é intitulado Trypanosoma cruzi em Leontopithecus rosalia: o estudo da correlação entre o perfil molecular do parasita e as diferenças no padrão da infecção experimental em camundongos e foi apresentado durante a 13a Reunião Anual de Iniciação Científica, promovida pela Fiocruz.

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