08/04/2020
Com ferramentas de computação avançada, o MonitoraCovid-19, sistema que agrupa e integra dados sobre o novo coronavírus no Brasil e no mundo, tem observado como anda a adesão às medidas de isolamento social recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) pela população brasileira. O aumento da movimentação em grandes centros urbanos, como São Paulo e Porto Alegre, preocupa especialistas. Outro ponto sensível é a tendência de interiorização da pandemia para além das capitais dos estados brasileiros. O MonitoraCovid-19 faz parte do Observatório Covid-19 Fiocruz, que tem o objetivo produzir análises integradas, gerando informações para a tomada de decisão e ação no enfrentamento da pandemia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pela sociedade brasileira.
De acordo com as análises de dados do MonitoraCovid-19, como as dos mapas de trânsito e de monitoramento de transportes públicos disponíveis em tempo real na internet, em um primeiro momento, houve grande redução de circulação nos grandes centros urbanos. Contudo, nos últimos dias, os dados apontam uma tendência de aumento da circulação, sendo registradas mais ocorrências de trânsito e engarrafamentos.
“Observando a curva de trânsito das primeiras semanas do período de isolamento social nestas cidades, pode-se notar a redução do número de engarrafamentos desde o início de março e, principalmente, após o dia 16 desse mês, quando foram aprovados decretos de restrição de mobilidade em diversos estados brasileiros”, explica Christovam Barcellos, um dos pesquisadores da Fiocruz que está à frente do projeto. O monitor também mostra que houve grande redução do número de pessoas que frequentam parques, lojas e locais de recreação e outros locais públicos e maior número de pessoas que permaneceram em suas casas.
Mais engarrafamentos a partir da última semana
A tendência pôde ser claramente observada no gráfico que demonstra a intensidade de congestionamentos na cidade de São Paulo, que caiu vertiginosamente a partir do início de março, e manteve-se baixa após a publicação de decretos restringindo algumas atividades e o transporte público. “Mas, nos últimos dias, houve um retorno dos congestionamentos, verificado a partir de 3 de abril, o que acionou alertas das autoridades locais. O aumento também foi verificado no município do Rio de Janeiro, mas com menor intensidade”, aponta Barcellos.
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No estado do Rio Grande do Sul, a equipe observou grande adesão da permanência de pessoas nos seus domicílios durante as primeiras semanas do período de isolamento, com um relevante aumento da presença de pessoas em postos de trabalho externos a partir do início do mês de abril.
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Para o pesquisador, os dados preocupam os gestores da área de saúde por aumentar as chances de um crescimento rápido do número de novas casos de Covid-19. “A maioria das análises aponta que ainda é cedo para deixarmos as medidas de isolamento social”, avalia o pesquisador do Instituto de Comunicação em Informação em Saúde (Icict/Fiocruz).
A equipe do MonitoraCovid-19 utilizou dados captados pelo aplicativo Waze, para as análises de tráfego, e dados obtidos pelo Google Maps com base na geolocalização pelo GPS dos celulares, para a análise da permanência de pessoas nos seus locais de moradia e em locais públicos. Essas informações vêm complementar outros conjuntos de dados disponibilizados pela plataforma, como o quantitativo de casos e óbitos por coronavírus no Brasil e outros países, com o objetivo de analisar e compreender essas e outras situações de risco para a saúde da população.
Nota técnica avalia cenários de interiorização
Outra análise realizada a partir de dados da plataforma MonitoraCovid-19 e outras metodologias epidemiológicas avalia cenários de interiorização da pandemia de Covid-19 para além das capitais brasileiras.
Em nota técnica, a equipe do projeto, em parceria com pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), observa a disseminação da transmissão do coronavírus no tempo e no espaço, com base nas lógicas de circulação de pessoas e mercadorias que configuram as hierarquias dos centros urbanos brasileiros, utilizando as informações do pesquisa Regiões de Influência das Cidades (Regic).
Para os autores, as grandes cidades estão posicionadas no centro de uma rede de trajetos entre pessoas de cidades vizinhas, e o aumento da circulação, tanto nas capitais quanto nos municípios com os quais se comunicam, favorece o aumento da propagação da doença por essas regiões. A íntegra da nota técnica está publicada no site do MonitoraCovid-19.
Observatório Covid-19
O sistema de monitoramento e análises faz parte do Observatório Covid-19 Fiocruz, cuja função é produzir informações para a tomada de decisão e ação. Seu objetivo geral é o desenvolvimento de análises integradas, tecnologias, propostas e soluções para enfrentamento da pandemia por Covid-19 pelo SUS e a sociedade brasileira.
Os dados estão sendo permanentemente coletados, organizados e atualizados pela equipe do MonitoraCovid-19. As análises são realizadas utilizando a base tecnológica da Plataforma de Ciência de Dados Aplicada à Saúde (PCDAS) pelo Laboratório de Informação em Saúde do Icict/Fiocruz, em cooperação a Coordenação de Geomática do IBGE.
Informações para imprensa
Ascom Icict/Fiocruz
Juliana Krapp
juliana.krapp@icict.fiocruz.br
André Bezerra
andre.bezerra@icict.fiocruz.br