A Prefeitura de Paulo de Frontin (RJ), município que fica a 85 quilômetros da capital, pretende desenvolver uma rede de saneamento básico para a região e atuar de forma mais incisiva na proteção e recuperação das bacias hidrográficas locais. Para isso, serão feitas obras que receberão verbas do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal. O planejamento para o próximo ano inclui colocar em prática as medidas do projeto e buscar maior conscientização da comunidade para os problemas ambientais. O anúncio foi feito na reunião de encerramento do primeiro ano do projeto Agente das Águas, desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz no município. Coordenadores e voluntários comemoraram os resultados do programa, desenvolvido em parceria com a prefeitura.
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Ponte sobre o Guandu, que abastece a capital e tem como afluentes rios de Paulo de Frontin |
A proposta do projeto Agente das Águas é avaliar a qualidade da água de rios e nascentes de forma mais simples, barata e eficaz. A qualidade da água é monitorada por meio de quatro critérios: ambiental, que analisa a qualidade das matas ciliares, o fluxo do rio e o grau de sedimentação; físico-químico e bacteriológico, que analisa o grau de poluição da água; biológico, que estuda as condições em que se encontra a fauna aquática da região; além de análises da pluviosidade e da vazão do rio.
Para fazer as análises, o projeto conta com a participação da comunidade, por meio de voluntários que passaram por um curso de capacitação. O grupo reúne 18 moradores de Paulo de Frontin e de municípios vizinhos, que foram divididos em grupos de quatro pessoas para fazer avaliações semanais da qualidade da água, por métodos simples e eficientes. “Nos primeiros meses selecionamos e treinamos voluntários para garantir que os resultados pudessem ser utilizados para embasar planos de gerenciamento dos recursos hídricos”, descreve o biólogo Daniel Buss, coordenador do projeto e pesquisador do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC.
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Voluntários do projeto Agente das Águas em frente ao Castelo da Fiocruz |
"As análises utilizadas pelo projeto reduzem significativamente os custos envolvidos no monitoramento da qualidade da água. Além disso, a metodologia empregada, que pode ser aprendida em apenas 48 horas, tem quase a mesma eficiência das técnicas tradicionalmente utilizadas", afirma Daniel. O biológo ressalta ainda ser impossível monitorar as bacias hidrográficas de um país gigantesco como o Brasil sem a participação das populações locais: “As agências ambientais e a academia não têm condições de estar em todos os lugares e acabam concentrando seus esforços em pequenas áreas ou realizando o monitoramento de forma dispersa e sem periodicidade, por meio de análises de satélite que impossibilitam a detecção de um problema no momento em que ele ocorre. Por isso, as comunidades devem funcionar como vigilantes ambientais, detectando pequenas alterações a tempo de solucionar o problema”, diz.
O Agente das Águas surgiu a partir de análises feitas por outro grupo de voluntários, do município de Paracambi, também no Rio de Janeiro, que denunciaram a péssima qualidade da água vinda de Paulo de Frontin, que já chegava poluída à cidade. Os resultados obtidos no primeiro ano do projeto comprovam a situação precária da rede fluvial da região: apesar de muitos dos rios parecerem limpos, quase todos se mostraram em péssimo estado, sobretudo quando considerados os medidores biológicos. “Os rios de Paulo de Frontin pareciam abandonados, não recebiam a atenção que deveriam”, analisa o voluntário Márcio Ramalho, de 35 anos. “Mas não podemos esquecer que aqui nasce, por exemplo, o Rio dos Macacos, um dos principais afluentes do Guandu, que abastece o Estado do Rio de Janeiro”, alerta.
A parceria entre o IOC e a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Paulo de Frontin já possibilitou muitas conquistas. A principal delas é a elaboração de um projeto de saneamento para Paulo de Frontin, que será executado a partir de 2008 com verbas federais do PAC. “Com base nos dados levantados, foi possível criar um plano para implementar uma rede de infra-estrutura sanitária no município, além de trabalhos com potabilidade da água e de recuperação das matas ciliares”, explica a secretária de Meio Ambiente de Paulo de Frontin, Regina Marques. O município tem cerca de 12 mil habitantes.
Para Valesca Alves, uma das coordenadoras do projeto, a adoção dessas políticas públicas seria impossível sem o trabalho da comunidade. “Graças ao estudo, a prefeitura conseguiu sair na frente de vários municípios da região na busca de verbas para resolver os problemas. E nós também conseguimos produzir informação suficiente para que empresas poluidoras fossem notificadas e tivessem que modificar suas práticas”, conta com orgulho.
Outro aspecto importante do projeto, destacado pelo voluntário Márcio Ramalho, é a conscientização da comunidade, que passa por um processo de educação ambiental. “Passamos a ter mais consciência de que somos peças dentro da engrenagem, que temos responsabilidade na preservação”, afirma. "A longo prazo, este tipo de atividade tende a fortalecer a comunidade para atuar em comitês de gestão de bacias hidrográficas, que hoje atendem somente aos interesses das grandes empresas. O que pretendemos com o Agente das Águas é capacitar a comunidade para gerar dados e qualificar seu discurso no processo de tomada de decisão. Esta conscientização é nossa meta para os próximos anos", diz Daniel.
Para o segundo ano do projeto o objetivo é pôr em prática as soluções criadas e expandir a conscientização sobre a importância da preservação a toda comunidade. “É preciso mostrar às pessoas que vale a pena lutar por isso, transformando a iniciativa de 18 voluntários no esforço de 18 mil moradores”, propõe Daniel. O projeto Agente das Águas já foi realizado em outras regiões do Rio de Janeiro, como Guapimirim, Baixada Fluminense e em bairros da capital. É desenvolvido também no Amazonas, Espírito Santo e Paraná e tem centenas de voluntários.