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22/07/2009

Mortalidade infantil por diarreia reflete desigualdades regionais

Fernanda Marques


Anualmente, nos países em desenvolvimento, a diarreia de origem infecciosa é responsável pela morte de 4 milhões de crianças menores de cinco anos. Nas regiões onde o problema é mais frequente, crianças chegam a passar 15% de seus dias com diarreia, causa de um terço das hospitalizações pediátricas em muitos países. No Brasil, assim como em outros países, as doenças diarreicas são mais comuns nas regiões mais pobres. Esta afirmação foi comprovada pelos pesquisadores Juraci Vieira Sergio, médico sanitarista do Ministério da Saúde, e Antônio Carlos Ponce de Leon, do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que assinam artigo recentemente publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, periódico científico da Fiocruz.


 Crianças chegam a passar 15% de seus dias com diarreia, problema mais frequente nas regiões mais empobrecidas (Foto: Rogerio Reis/CCS) 

 Crianças chegam a passar 15% de seus dias com diarreia, problema mais frequente nas regiões mais empobrecidas (Foto: Rogerio Reis/CCS) 


Os autores utilizaram um modelo matemático de análise da mortalidade por diarreia infecciosa em 122 municípios brasileiros com mais de 150 mil habitantes, exceto as capitais, durante uma década. Os municípios estudados estavam distribuídos por todas as regiões do país: três do Norte, 20 do Nordeste, 71 do Sudeste, 24 do Sul e cinco do Centro-Oeste.


Na análise de dados, os pesquisadores visavam determinar se as taxas de mortalidade por diarreia infecciosa variavam entre os municípios, qual era a tendência temporal dessas taxas e se as diferenças geográficas podiam explicar as diferentes mortalidades nos municípios. “Os resultados responderam a estas questões. Houve uma variabilidade significativa entre os municípios, parcialmente explicada pelas regiões, onde o Norte e o Nordeste apresentaram taxas maiores que o Sudeste. Uma tendência de queda na mortalidade por diarreia infecciosa também foi observada e, de novo, as regiões parcialmente explicaram as diferenças das quedas entre os municípios”, dizem no artigo. 


Ao analisarem uma série histórica de dados, os autores verificaram que, para o total dos municípios estudados, em 1990, houve 79 óbitos por diarreia infecciosa em cada 10 mil crianças menores de cinco anos, sendo que esta taxa caiu para 61 óbitos em cada 10 mil crianças, em 1995, e para quatro óbitos em cada 10 mil crianças, em 2000. “De 1990 a 1995, houve queda importante nas taxas, ao passo que, de 1995 a 2000, as taxas caíram de forma mais heterogênea”, resumem os pesquisadores.


Para o conjunto de municípios de cada região, os números foram diferentes. Em 1990, as taxas de mortalidade do Norte e Nordeste eram superiores à média geral, enquanto as do Sudeste, Sul e Centro-Oeste ficavam abaixo dessa média. Em 1995 e em 2000, embora as taxas tivessem caído em todas as regiões, as diferenças permaneciam: as mortalidades por diarreia infecciosa continuavam acima da média no Norte e Nordeste e abaixo da média no Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Mesmo em 2000, quando se registraram as menores mortalidades para o total dos municípios, a taxa no Nordeste era três vezes maior que a do Sudeste (seis óbitos em cada 10 mil crianças contra dois óbitos em cada 10 mil crianças). 


“O reconhecimento de que a ocorrência de doenças diarréicas infecciosas está relacionada às desigualdades sociais tem conseqüências para o estabelecimento de políticas públicas que visem controlar estas doenças. O chamado efeito regional exige estudos epidemiológicos mais profundos para identificar os fatores que diferenciam as regiões e determinar as tendências de mortalidade para estas doenças”, ressaltam os pesquisadores. Segundo eles, os dados mostram que houve uma queda importante na mortalidade por diarreia infecciosa no conjunto dos municípios estudados, sendo que as taxas atuais estão estabilizadas em níveis bem inferiores aos observados nas últimas décadas. Os autores lembram, ainda, que estas doenças têm causas evitáveis, de modo que, com a adoção de políticas públicas adequadas, é possível melhorar ainda mais os indicadores de saúde.


Para ler o artigo científico original, clique aqui.


Publicado em 22/07/2009.

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