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22/03/2007

Municípios experimentam modelo integrado para controlar o dengue

Rita Vasconcelos


Estudos referentes a um modelo integrado de controle do dengue desenvolvidos pelo Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco, feitos nas cidades de Araripe (CE), Cabo de  Santo Agostinho (PE) e Recife vão contribuir para que municípios adotem medidas intersetoriais, transdisciplinares, participativas e ecologicamente sustentáveis para o controle do dengue. Uma oficina promovida em Montevidéu pelo Instituto de Desenvolvimento da Ciência do Canadá (IDRC) pré-selecionou o projeto apresentado pelo CPqAM para disputar um financiamento com 12 outros, de países da América Latina.


O projeto consiste numa abordagem do dengue baseada na capacitação técnica de profissionais de saúde, controle mecânico do vetor e estímulo para que a população local conheça, participe e ajude no controle da doença. A abordagem levará em conta especificidades culturais, políticas, sociais e ambientais do território onde vivem comunidades expostas a situações condicionantes que favorecem a transmissão do dengue. No Araripe, a equipe envolvida no projeto Redes de Vigilância e Controle de Dengue fez uma capacitação técnica, em 2005, em parceria com a Secretaria de Saúde do Recife. Os profissionais da capital pernambucana que atuam no Programa de  Saúde Ambiental (PSA) apresentaram aos trabalhadores de saúde local o funcionamento do PSA e as técnicas adotadas no Recife para o controle mecânico do mosquito. Entre essas técnicas está o controle do vetor com o emprego de larvicida biológico colocado em armadilhas especiais para coleta dos ovos do Aedes aegypti, as chamadas ovitrampas. As armadilhas foram instaladas naquela cidade, o que resultou na redução de infestação predial pelo vetor da dengue de 2,52 para 2,03, em 2005, comparando com o mesmo período de 2004.


Os pesquisadores do Departamento de Entomologia do CPqAM fizeram testes para verificar o índice de mortalidade dos mosquitos pelo larvicida químico Temefós. O uso de larvicida químico não apresenta efetividade para o controle vetorial e ainda contamina o meio ambiente, oferecendo riscos para a saúde humana e para o ecossistema em geral. De acordo com os resultados das análises, apenas 3,8% dos vetores coletados naquela área para o estudo morreram com a aplicação do Temefós, o que demonstra a resistência do inseto ao produto químico. Dados semelhantes também foram encontrados em diversas outras cidades de Pernambuco.


A população também participou das discussões refletindo sobre a epidemia do dengue e sobre o papel de cada um dos atores sociais no enfrentamento do problema, estimulando assim uma maior participação da comunidade nas ações individuais de controle do vetor. “A iniciativa de democratização das discussões foi avaliada como de grande importância social para o município. A partir daí pretende-se priorizar o fortalecimento das redes sociais, fazendo um pacto com a população e com as lideranças da sociedade, para escolha e execução de ações de controle do dengue”, afirmou a pesquisadora do Departamento de Saúde Coletiva do CPqAM Lia Giraldo, uma das responsáveis pelo projeto.


Iniciativas de abordagens integradas vêm sendo feitas também por diversos pesquisadores do Centro, no Recife, com resultados bastante promissores. No Cabo de Santo Agostinho estão em curso atividades que fazem parte de uma tese de doutorado, sobre a mesma perspectiva.“Acreditamos, assim, que estas pesquisas darão uma efetiva contribuição para o avanço do modelo vigente de controle do dengue, tirando-o de uma perspectiva vertical e linear, para uma ecossistêmica”, conclui Lia.

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