18/05/2023
Ana Paula Blower e Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Notícias)
Novo chefe da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais (Aisa) do Ministério da Saúde, o embaixador Alexandre Ghisleni esteve pela primeira vez na Fiocruz nesta terça-feira (16/5). Em reunião com o presidente da Fundação, Mario Moreira, o embaixador discutiu formas de aumentar a sinergia com a Fiocruz e de articular estratégias de cooperação internacional. Em visita de dia inteiro, Alexandre Ghisleni se encontrou ainda com pesquisadores do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz) e participou de uma reunião da Câmara Técnica de Cooperação Internacional (CTCI), a fim de conhecer melhor a Fundação e de que forma ela pode contribuir mais amplamente com a Aisa.
Novo chefe da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais (Aisa) do Ministério da Saúde, o embaixador Alexandre Ghisleni esteve pela primeira vez na Fiocruz (foto: Peter Ilicciev)
Na reunião no Castelo Mourisco (RJ), Mario Moreira destacou a experiência da Fiocruz no campo da cooperação internacional e na diplomacia em saúde, lembrando que a Fundação se tornou um ponto de referência na articulação de diversas redes, em colaborações estruturantes e de ciência e tecnologia. Ele lembrou ainda a escolha da Fundação pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para ser o hub de vacina de mRNA na América Latina. “Com a fábrica de vacinas que está sendo construída, vamos aumentar em seis vezes nossa capacidade de produção. O Butantan também está ampliando. O Brasil vai ser um dos maiores produtores de vacina”, disse Moreira. “E a Fiocruz, como base de ciência e tecnologia do Ministério da Saúde, está à disposição”.
O embaixador, que assumiu o cargo há três meses, explicou que vem pensando em meios de aumentar essa sinergia. Ele destacou que o Brasil está entrando em um momento de grande projeção externa, assumindo a presidência do Mercosul no segundo semestre, a do G20 em sete meses, a dos Brics em 2025, além de um brasileiro, o médico Jarbas Barbosa, estar no momento à frente da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Essa conjuntura pode favorecer o compartilhamento de experiências brasileiras bem-sucedidas no campo da saúde. Paulo Buss, coordenador do Cris/Fiocruz – que junto com o vice-coordenador, Pedro Burger, e o assessor sênior Luis Augusto Galvão, participou do encontro – lembrou que o Brasil tem muito a compartilhar, como as experiências do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Farmácia Popular. O embaixador complementou: “Está claro que não podemos ignorar a importância dessa sinergia. Vamos buscar meios de otimizá-la”.
Entre os frutos da reunião, está a possibilidade de realização de workshops e de formação de grupos de trabalho para aprofundar a discussão em determinadas áreas (foto: Peter Ilicciev)
Na sede do Cris/Fiocruz, Ghisleni continuou a reunião com Buss, Burger e Galvão, além de Francisco Campos, especialista em Ciência, Tecnologia, Inovação e Produção da Fiocruz e assessor sênior da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS), Ilka Vilardo, assessora do Cris/Fiocruz para Europa, e Erica Kastrup, coeditora dos Cadernos Cris Saúde Global. Buss colocou o Cris/Fiocruz à disposição da Aisa, seja com os relatórios produzidos quinzenalmente pelo Observatório do Centro e que integram os Cadernos Cris de Saúde Global, ou com trabalhos em questões específicas. Entre os frutos da reunião, está a possibilidade de realização de workshops e de formação de grupos de trabalho para aprofundar a discussão em determinadas áreas.
Reunião da CTCI
À tarde, o embaixador participou da reunião da Câmara Técnica de Cooperação Internacional, no Auditório do Centro de Documentação e História da Saúde (CDHS) da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), com representantes de todas as unidades e vice-presidências da Fiocruz. Na ocasião, o coordenador do Cris/Fiocruz, Paulo Buss, fez uma apresentação do Centro, detalhando suas frentes de atuação, visão estratégica e gestão. Em seguida, foram apresentadas as redes de cooperação estruturantes das quais a Fiocruz faz parte e lidera, as redes de Institutos de Saúde, de Escolas de Saúde Pública, de Educação Técnica em Saúde, de Banco de Leite Humano (BLH) e a UNA-SUS.
Nesse momento, o embaixador levantou a possibilidade de se ampliar a oferta de cursos na UNA-SUS e de outras atividades para além do português, incluindo o francês e o inglês para atingir outros países na África além dos de língua portuguesa. Ele voltou ao tema em sua apresentação, ao final da reunião, salientando que, ao pensar a cooperação com países irmãos e de língua portuguesa, o potencial de cooperação com a África fica limitado. “Estamos revendo nossa posição no sentido de que podemos fazer mais e de que precisamos utilizar essas possibilidades para fortalecer o sistema nacional de saúde brasileiro e, com isso, os do Sul Global e a comunidade internacional como um todo”. Para ele, o trabalho da Fiocruz é “uma contribuição muito importante para a realização disso, na construção de uma ordem internacional de saúde”. E acrescentou que toda a experiência acumulada pela Fundação pode ser usada de forma “mais protagonista”.
Ghisleni destacou a importância do momento atual para a saúde global, uma "confluência" de fatores”, chamando atenção para o momento de retomada que o país vive, citando, por exemplo, a reunião do G-20 em 2024 no Rio de Janeiro e a volta da Unasul. “É uma oportunidade para impulsionar o tratamento de temas que nos importam, e isso passa por várias camadas, como reforma da arquitetura global de saúde, financiamento da saúde, reconfiguração das cadeias internacionais de valor. Outros desafios são o tratamento das doenças negligenciadas, capacitação da força de trabalho da saúde, avançar na contribuição que a saúde pode dar para as mudanças climáticas”.
Sobre as prioridades da nova gestão na Saúde, ele disse que a ministra elenca, principalmente, a preparação para próximas pandemias, cobertura universal da saúde, saúde digital e a relação entre saúde e mudanças climáticas. Ao destacar como maior prioridade e desafio “como incentivar a construção de um complexo industrial de saúde”, ressaltou que não enxerga oposição entre a busca por uma capacidade de autoabastecimento e a cooperação. “O Brasil precisa ter uma capacidade provedora para abastecer o mercado brasileiro, sem a pretensão de abastecer 100%, mas também contribuir para o abastecimento de países vizinhos e africanos. Essas coisas não se excluem”.
Em sua apresentação, o embaixador comentou como a ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, enxerga e valoriza o tema da saúde global e diplomacia da saúde e que este é um momento de consolidação de uma ordem internacional de saúde estável e pautada pelos princípios de equidade e solidariedade. Além disso, ele pontuou que agora é preciso avaliar como redimensionar e avançar no tema, ressaltando a importância da Fundação: “A contribuição que a Fiocruz tem dado é central na cooperação”.
Na sequência, ele destacou a importância da cooperação na fronteira, explicando que não é possível resolver a crise Yanomami, por exemplo, sem cooperação com países vizinhos. Nesse sentido, ele ressaltou também a importância de se ter um arranjo produtivo regional que permita o abastecimento de insumos estratégicos para a saúde. “Por isso, incentivamos parceiros a desenvolverem suas indústrias, para que possamos nos ajudar”. A afirmação corrobora outro aspecto de cooperação, o viés político do tema. “Como passar de uma postura de competição para uma de cooperação no âmbito internacional”, pontuou ele.
Em sua visita, o embaixador conheceu ainda o Castelo Mourisco. Na Biblioteca de Obras Raras, ele pôde ver um exemplar do Annalen der Physik, de 1905, que contém quatro artigos de Albert Einsten, um deles com o autógrafo dado pelo físico durante sua visita à Fiocruz em 8 de maio de 1925.