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12/04/2021

Fiocruz vai coordenar projeto da Unitaid em doença de Chagas

Antonio Fuchs (INI/Fiocruz)*


O Consórcio Chagas, liderado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), através da Fundação de apoio à Fiocruz (Fiotec), firmará no dia 14 de abril, em meio às comemorações do Dia Mundial da Doença de Chagas, um convênio com a Unitaid para o projeto que visa eliminar a transmissão congênita da doença de Chagas em países endêmicos da América Latina. A iniciativa, que conta com o cofinanciamento do Ministério da Saúde do Brasil, tem como objetivo aumentar a conscientização sobre a doença de Chagas, ampliando e melhorando o acesso ao diagnóstico, tratamento e atenção integral, por meio de estratégias terapêuticas melhoradas, tendo como foco a redução da transmissão congênita, considerada uma das principais vias de infecção da doença em todo o mundo. A transmissão do evento será pelo canal da Fiocruz no YouTube, a partir das 9h. Confira a programação completa

Coordenado pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), o projeto Projeto CUIDA Chagas – Comunidades Unidas para Inovação, Desenvolvimento e Atenção para a doença de Chagas é endossado pelos Ministérios da Saúde de Bolívia, Brasil, Colômbia e Paraguai, e compreende atores-chave no panorama da saúde pública de cada um dos quatro países que o compõe, contando ainda com apoio técnico da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Segundo a investigadora principal do Consórcio Chagas e chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doença de Chagas do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz), Andréa Silvestre, o projeto apresentará uma abordagem abrangente e integrada através de uma combinação entre pesquisa de implementação e protocolos de inovação, para chegar ao objetivo de contribuir para a eliminação da transmissão congênita da doença de Chagas.

Philippe Duneton, diretor executivo da Unitaid, afirmou que disponibilizar os meios de diagnóstico adequados e os melhores tratamentos às mulheres e aos recém-nascidos pode salvar as gerações futuras das consequências potencialmente fatais da doença de Chagas. “É com orgulho que nos unimos aos esforços globais de combate a esta doença insidiosa, investindo em soluções inovadoras de rastreio, tratamento e cuidados de saúde para prevenir a sua transmissão de mãe para filho”, destacou.

Devido ao relativo sucesso das medidas de controle da transmissão vetorial e transfusional da doença, a transmissão congênita tem se tornado proporcionalmente mais relevante em países latinos, além de ser a principal fonte de novos casos em regiões não endêmicas. Segundo estimativas da OMS, ainda existem 1,12 milhão de mulheres em idade fértil infectadas na América Latina, onde são esperados anualmente entre 8 mil e 15 mil bebês nascidos com a doença.

Atualmente, a escassez de ferramentas diagnósticas e opções de tratamento, a baixa adesão ao tratamento, a falta de conhecimento e compreensão entre profissionais de saúde e pessoas em risco, as vulnerabilidades socioeconômicas de áreas endêmicas e a baixa mobilização social agravam ainda mais o problema. A pandemia de Covid-19 traz um desafio adicional, uma vez que os pacientes com doença de Chagas correm um risco maior de complicações devido ao novo coronavírus, e o tempo e os recursos que foram transferidos da atenção primária à saúde para atender aos efeitos da pandemia significaram uma diminuição ainda maior na atenção para as doenças tropicais negligenciadas, como a doença de Chagas. Desta forma, o projeto estabelecerá ações de monitoramento e mitigação necessárias para ser capaz de se ajustar às novas circunstâncias, e sua execução será adaptada às condições e regulamentos locais para Covid-19.

O projeto será implementado em 34 municípios, sendo 10 na Bolívia, seis no Brasil, 13 na Colômbia e cinco no Paraguai, selecionados pelos países de acordo com as prioridades de saúde pública, garantindo contextos geográficos e epidemiologicamente diversos, tendo a atenção primária à saúde como o foco central das intervenções, integrando-se às iniciativas existentes mais relevantes para o contexto de cada um deles. A estratégia mais econômica para reduzir os casos congênitos é o tratamento etiológico de mulheres em idade fértil antes da gravidez, população-alvo deste projeto. Cerca de 234 mil mulheres em idade fértil, seus bebês e crianças e seus contatos domiciliares serão testados ativa e sistematicamente durante toda a iniciativa.

Consórcio Chagas

Com a coordenação do INI/Fiocruz e Fiotec, o Consórcio Chagas tem como parceiros internacionais o Instituto Nacional de Laboratorios de Salud (Inlasa), da Bolívia, o Instituto Nacional de Salud (INS), da Colômbia, e o Servicio Nacional de Erradicación del Paludismo (Senepa), do Paraguai, além da iniciativa Foundation for Innovative New Diagnostics (Find). Na Fiocruz, reúne pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), da Casa de Oswaldo Cruz (COC), do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) e do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas), além de parceiros de Universidades Federais do Brasil, como UFG, UFBA, UFRJ e UFC.

Iniciativa global

A Unitaid é uma iniciativa global de saúde que trabalha com diversas parcerias na busca por inovações para prevenir, diagnosticar e tratar doenças importantes de forma mais acessível, eficaz e rápida, em países de baixa e média renda, com ênfase na tuberculose, malária e HIV/Aids, entre outras, proporcionando assim um melhor acesso aos serviços de saúde para as populações que mais necessitam. De forma inovadora, pela primeira vez a entidade lançou um edital voltado para a doença de Chagas e América Latina.

Doença é endêmica em 21 países das Americas

A doença de Chagas é uma Doença Tropical Negligenciada causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, cujos vetores são os triatomíneos, insetos conhecidos como barbeiros ou bicudos. A doença se apresenta clinicamente em duas fases distintas (aguda e crônica), sendo endêmica em 21 países das Américas. Afeta cerca de seis a sete milhões de pessoas, com incidência anual de 30 mil casos novos na região, ocasionando em média 14 mil mortes por ano e oito mil recém-nascidos infectados durante a gestação. A estimativa é de que cerca de 65 milhões de pessoas vivam em áreas de exposição e corram risco de contrair a doença.

No Brasil, a estimativa é de que pelo menos um milhão de pessoas tenha sido infectada, em algum momento da vida, pelo protozoário T. cruzi. De 2010 a 2018 foram registrados 41.122 óbitos tendo como causa básica a doença, sendo 4.391 destes só em 2018.

*Com informações do Ministério da Saúde do Brasil.

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