08/10/2021
Ana Flávia Pilar (Agência Fiocruz de Notícias)
O Boletim InfoGripe publicado nesta sexta-feira (8/10) enfatiza cenário de estabilidade nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), com pequenas oscilações, em todas as faixas etárias analisadas. Para as crianças, grupo etário com zero a nove anos de idade, no entanto, os níveis permanecem fixo em valores entre mil a 1.200 casos semanais. A análise demonstra que esses números são próximos aos que foram registrados no pico de julho de 2020, ou seja, 1.282 casos notificados na Semana Epidemiológica 29. Nas demais faixas etárias, o patamar atual representa os menores valores desde o início da epidemia no Brasil. O estudo se baseia nos dados inseridos no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) até o dia 4 de outubro e compreende a Semana Epidemiológica 39 (26/9/2021 à 2/10/2021).
O Brasil como um todo apresenta sinal de estabilização na tendência de longo prazo, ou seja, em relação às últimas seis semanas, e de crescimento no curto prazo, últimas três semanas. Nesta atualização, apenas nove dos estados apresentaram sinal de crescimento na tendência de longo prazo. São eles: Distrito Federal, Espírito Santo, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina e Sergipe. É válido ressaltar que, na maioria desses estados, o cenário de crescimento reflete pequenas oscilações em torno de valores estáveis. A única exceção é o Distrito Federal, onde se observa crescimento claro e expressivo na população acima de 60 anos. O cenário para o grupo etário com mais de 70 anos é especialmente preocupante.
Em continuidade ao que vem sendo destacado pelo InfoGripe, é fundamental que esses dados sejam correlacionados às taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente porque o número de novos casos semanais de SRAG ainda é elevado mesmo nos estados que apresentaram queda nas internações.
“Do ponto de vista epidemiológico, a flexibilização das medidas de distanciamento social facilitam a disseminação de vírus respiratórios e, portanto, podem levar a uma retomada do crescimento no número de novos casos. Dada a heterogeneidade espacial da disseminação da Covid-19 no país e estados, recomenda-se que sejam feitas avaliações locais, uma vez que a situação dos grandes centros urbanos é potencialmente distinta da evolução no interior de cada estado. A situação das grandes regiões do país serve de base para análise de situação, mas não deve ser o único indicador para tomada de decisões locais, conforme explicitado em nota técnica elaborada pela Fiocruz”, diz o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe.
Síndrome Respiratória Aguda Grave nos estados
Dentre os estados, doze registram sinal de queda na tendência de longo prazo: Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Roraima, São Paulo e Tocantins. Alagoas, Ceará, Goiás e Mato Grosso do Sul, ainda que em maioria oscilando ao redor de números estáveis, apresentam sinal de crescimento apenas na tendência de curto prazo. Onde também há compatibilidade com essas pequenas flutuações é em Goiás, mas a situação dos idosos é semelhante ao observado no início do processo de crescimento do DF.
O Distrito Federal e o Espírito Santo apresentam sinal forte de crescimento (prob. > 95%) na tendência de longo prazo e moderado (prob. > 75%) na tendência de curto prazo. Em ambos, esse crescimento está concentrado na população mais idosa. Mas, enquanto no ES ainda não é claro se é apenas oscilação natural em período de estabilidade, no DF a tendência de crescimento em idosos é clara. Na população acima de 80 anos no estado, o número de novos casos semanais já é similar ao que foi registrado no pico de março de 2021, quando foram registrados cerca de 60 casos na semana com maior volume. No Espírito Santo, embora com sinal moderado de crescimento na população com 70 a 79 anos, os valores ainda são relativamente baixos em relação ao histórico. Na população acima de 80 anos o cenário é de estabilidade.
Pernambuco e Rio Grande do Sul também apresentam sinal forte de crescimento na tendência de longo prazo, porém ainda compatíveis com situação de oscilação, mantendo valores relativamente baixos em comparação com o histórico da epidemia. No Rio Grande do Sul ainda chama a atenção a manutenção de patamar elevado entre crianças, com média semanal acima de 70 casos, índice superior aos picos de 2020. No Paraná e em Santa Catarina, nota-se uma situação similar àquela do Rio Grande do Sul, com manutenção de casos semanais em crianças superiores aos picos de 2020. Um ponto importante é que no Rio Grande do Sul, além da Covid-19, o surto de vírus sincicial respiratório (VSR) foi significativo para o aumento expressivo dos casos de SRAG entre as crianças. Além dos estados da região Sul, outros estados que merecem destaque em relação aos casos de SRAG em crianças são: Mato Grosso do Sul no Centro-Oeste; Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo no Sudeste; e Bahia no Nordeste.
Todas as macrorregiões de saúde se encontram em nível epidêmico ou inferior nos estados do Amapá, Maranhão e Rondônia. Todos os demais estados contam com ao menos uma macrorregião de saúde em nível alto ou superior. Apenas três ainda apresentam uma macrorregião em nível extremamente elevado: Distrito Federal, Paraná e Santa Catarina.
Síndrome Respiratória Aguda Grave nas capitais
Quanto às capitais, oito delas apresentam sinal de crescimento na tendência de longo prazo: Aracaju (SE), plano piloto de Brasília e arredores (DF), Maceió (AL), Porto Velho (RO), Recife (PE), Rio Branco (AC), Salvador (BA) e Vitória (ES). Assim como foi destacado para os estados, a análise sugere somente crescimento leve com oscilação ao redor de patamar estável.
Em 12 capitais, foi registrada queda na tendência de longo prazo: Boa Vista (RR), Campo Grande (MS), Curitiba (PR), João Pessoa (PB), Macapá (AP), Natal (RN), Palmas (TO), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), São Luís (MA), São Paulo (SP) e Teresina (PI). Quatro capitais apresentam sinal de crescimento apenas na tendência de curto prazo (Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), Goiânia (GO), e Palmas (TO)(, mas todas elas sugerem leve crescimento oscilatório.
A maioria das capitais estão em macrorregiões de saúde com nível alto ou superior, embora diminuindo gradativamente. Das 27 capitais, três integram macrorregiões de saúde em nível pré-epidêmico (Boa Vista, Macapá e São Luís), uma integra macrorregião de saúde em nível epidêmico (Belém), 15 integram macrorregiões de saúde em nível alto (Aracaju, Campo Grande, Cuiabá, Fortaleza, João Pessoa, Maceió, Manaus, Natal, Palmas, Porto Velho, Recife, Rio Branco, Salvador, Teresina e Vitória), sete em nível muito alto (Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo) e uma em nível extremamente alto (Brasília).