29/08/2023
Mudar a forma de pensar e de produzir conhecimento a partir de uma orientação afrocêntrica. O conceito apresentado pelo cientista e filósofo americano Molefi Kete Asante nos anos 80 guiou a aula aberta organizada pelo Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) para abrir o semestre da disciplina Fundamentos da Informação e da Comunicação em Saúde II. Realizada no Salão de Leitura da Biblioteca de Manguinhos (RJ), a aula teve (16/8) como convidados o jornalista Tiago Rogero e a advogada e educadora popular Horrara Moreira.
Atividade teve como tema 'Repensar a Cidadania a partir da Afrocentricidade' (foto: Rodrigo Méxas, Multimeios/Icict/Fiocruz)
Na abertura, Rodrigo Murtinho, diretor do Icict/Fiocruz e um dos coordenadores da disciplina, ressaltou a importância do tema escolhido para o debate: Repensar a Cidadania a partir da Afrocentricidade: direitos à saúde, comunicação e informação na atualidade. “Vai ao encontro de um dos primeiros debates propostos pelo curso: como podemos repensar políticas públicas e a cidadania hoje”, avalia.
Dando início às falas dos convidados, Tiago Rogero apresentou um trecho do 1º episódio do Projeto Querino, podcast com oito episódios que busca rever a História do Brasil sob a perspectiva dos africanos e de seus descendentes. Rogero lembra que o Projeto Querino foi inspirado no projeto 1619, do New York Times, lançado em 2019 como um marco dos 400 anos da chegada aos EUA do primeiro navio com africanos escravizados. “Além de rever a história brasileira com o olhar afrocentrado, dando protagonismo aos personagens negros, nosso objetivo também foi responsabilizar as pessoas brancas por escolhas e atos que até hoje se refletem em desigualdades”, explica. Rogero também apresentou o trecho inicial do episódio 7, Salve-se Quem Puder, que tem como tema central a saúde pública e o SUS.
Iniciativa jornalística premiada, o Projeto Querino faz parte da bibliografia da disciplina Fundamentos de Informação e Comunicação em Saúde II. Rogero falou da linguagem adotada no podcast e dos diferentes públicos que o trabalho alcançou. “A comunicação clara é muito potente, mas no Querino nós também utilizamos estratégias para prender o ouvinte que não sabe que se trata de um conteúdo afrocentrado", explica Rogero. “Vivemos uma guerra de narrativas. Precisamos pensar em como vencer”.
Assista a aula aberta na íntegra.
Como advogada popular e coordenadora da campanha Tire Meu Rosto da Sua Mira, Horrara Moreira traz para o debate o olhar afrocentrado dos perigos que a tecnologia digital utilizada na segurança pública podem causar à sociedade, em especial, às pessoas negras. A campanha foi lançada em 2022 de forma independente e consiste num movimento da sociedade civil pelo banimento das tecnologias de reconhecimento facial.
“O reconhecimento facial usado nos aplicativos de banco, por exemplo, se baseia nos dados de um documento previamente compartilhado com o banco. Ele faz uma comparação. No caso da segurança pública, as imagens são captadas em sistemas espalhados pela cidade. Ou seja, identificar pessoas, classificar corpos e mandar pessoas para a cadeia”, esclarece Horrara, que sabe que tem o desafio de tornar o assunto mais conhecido e, assim, ser mais debatido por todos. “A comunicação é uma ferramenta essencial de luta. Precisamos tornar o debate acessível para que todos participem”, afirma.
Além de Rodrigo Murtinho, a disciplina Fundamentos da Informação e da Comunicação em Saúde II é coordenada também pelas pesquisadoras Renata Gracie (Laboratório de Informação em Saúde - LIS) e Viviane Veiga (Laboratório de Informação Científica e Tecnológica em Saúde - LICTS).