O projeto Formação de Trabalhadores e Trabalhadoras que atuam no Cuidado em Saúde das populações do Campo, Floresta e Águas, fruto de parceria entre Ministério da Saúde, Fiocruz Amazônia e Rede Unida, promoveu, em Manaus, a primeira oficina destinada aos articuladores e facilitadores que ficarão responsáveis pela atuação junto aos profissionais de saúde nos territórios em questão. O projeto pretende beneficiar 3,5 mil profissionais de Saúde Primária em municípios de oito estados da Amazônia Legal, representando um importante passo para a execução da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, das Florestas e das Águas, criada em 2011 e que o Governo Federal começa a implementar com a iniciativa. Participaram, desta primeira formação, 69 pessoas, sendo 31 facilitadores, 8 articuladores, 6 coordenadores e 4 conteudistas do Pará, Amapá, Maranhão, Acre e Amazonas, além de convidados de secretarias estaduais e municipais, conselhos de secretarias municipais de Saúde do Pará, do Amazonas e do Acre e do MS.
Participaram da primeira formação 69 pessoas, sendo 31 facilitadores, 8 articuladores, 6 coordenadores e 4 conteudistas (Foto: Fiocruxz Amazônia)A atividade foi aberta pelo coordenador do projeto, o pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia Júlio Cesar Schweickardt, do Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (Lahpsa). Ele destacou a importância da presença do Ministério da Saúde no processo de construção das estratégias de execução do projeto. “A formação é feita em conjunto e nessa primeira, realizada em Manaus, contamos com o compromisso dos facilitadores e articuladores dos estados, que aceitaram o desafio da construção de conteúdos, metodologias e abordagens a serem aplicadas pelo projeto. Saímos muito felizes com esse processo e, sobretudo, com o entusiasmo de todos que participaram desse momento”, explica o pesquisador. O projeto ganhou o nome Começo Meio Começo, inspirado no pensador quilombola Nego Bispo e como símbolo da busca constante por conhecimento e aprendizado na existência humana.
A diretora da Fiocruz Amazônia, Stefanie Lopes, agradeceu a confiança do Ministério da Saúde e se disse confiante no êxito da execução do projeto, dado o potencial do trabalho em rede da equipe montada pelo Lahpsa. “Receber esse projeto na Fiocruz Amazônia não é difícil quando se trata de uma articulação em rede, com capacidade de integrar e trazer vários parceiros, típico desafio que o Júlio [Schweickardt] nos apresenta e, de pronto, aceitamos, porque sabemos o quanto é importante formar pessoas na busca por melhorias para o sistema de saúde, sendo uma honra para nós atuarmos como protagonistas neste processo”, frisou Stefanie.
Também presente à abertura da formação, a coordenadora de Acesso e Equidade da Coordenação-Geral de Saúde da Família e Comunidade da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, do Ministério da Saúde, Lilian Gonçalves, destacou a importância do projeto como um vetor para o avanço das políticas públicas do Governo Federal no combate à desigualdade, principalmente na região amazônica. “Temos que agradecer pela existência do presidente Lula e por temos a ministra Nísia Trindade à frente do Ministério da Saúde, o que demonstra uma intencionalidade de governo para este processo formativo. O projeto retoma o protagonismo do Governo Federal na condução das políticas públicas de saúde no âmbito nacional e traz o protagonismo de intencionalidade também para as instituições que já estavam fazendo educação permanente”, afirmou Lilian.
Ela destacou ainda a expertise da Fiocruz Amazônia, especificamente do Lahpsa e da Rede Unida, no processo formativo de saúde no território amazônico, com a diversidade de opiniões e de movimentos sociais organizados, e a parceria do Grupo da Terra, instituído pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, em 13 de agosto de 2023, composto por mais de 20 movimentos sociais populares com a finalidade de rediscutir a política nacional de atenção integral à população do campo, da floresta e das águas. “Estamos agora com o compromisso de iniciar esse trabalho, junto com a vigilância e a educação permanente na formação de gestores e profissionais de saúde da Fiocruz Amazônia”, afirmou Lilian.
A coordenadora estadual do projeto, Ana Lúcia Nunes, gestora da Escola de Saúde Pública da Secretaria da Saúde do Maranhão, agradeceu a oportunidade de parceria e destacou que o projeto possibilita o crescimento da atuação da instituição na educação permanente em saúde. “O cuidado com o trabalhador e a trabalhadora do SUS é a missão da escola, mesmo estando na Região Nordeste nós somos Norte e agradecemos estar participando desse processo, com pessoas da Escola de Saúde Pública, da saúde primária e facilitadores do Amazonas que estarão conosco no Maranhão”, afirmou.
Entre as facilitadoras citadas por Ana Lúcia, estão as pesquisadoras Denise Amorim, da Escola de Saúde Pública de Manaus, e Sônia Lemos, docente da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Para Denise, é grande a expectativa de atuação no projeto numa região com peculiaridades diferentes da realidade amazônica. “Participar da formação de facilitadores para o cuidado em saúde das populações do campo, floresta e águas é ter a oportunidade de dialogar com realidades singulares e plurais, na perspectiva de uma ecologia dos saberes que combina conhecimentos científicos e populares. É participar da possibilidade de dar visibilidade a essas populações e contribuir com a justiça social e os direitos à saúde e à vida”, afirmou.
Sônia Lemos ressalta que, ao facilitador, caberá o acompanhamento e a construção de aprendizagens com as turmas por meio dos conteúdos e estratégias pedagógicas propostas para a formação. “As expectativas são as melhores. Estar com as trabalhadoras e trabalhadores é uma grande oportunidade de compartilhar experiências e realizar aprendizagens que visam melhorar e consolidar a política nacional das populações do campo, floresta e águas”, comenta, destacando a importância do Lahpsa na sua atuação acadêmica, como docente e pesquisadora. “São os projetos desenvolvidos pelo Lahpsa que oportunizam o fazer com as pessoas e os territórios. Possibilitam construir conhecimento e cuidado, coletivos. Ampliam a visão sobre a vida e a importância de estar com nossas gentes”, frisou.
Julio Schweickardt destaca a importância da contribuição dada pelo Grupo da Terra no processo de concepção das formações. “O Grupo é formado por movimentos sociais que elaboraram a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, das Florestas e das Águas. Em março, apresentamos proposta da formação em uma consulta ao Grupo da Terra e fizemos uma consulta aos movimentos sociais acerca dos temas que seriam importantes para fazerem parte da formação”, relembra Schweickardt, afirmando que os integrantes contribuíram com conceitos, preocupações, ideias e experiências, na busca pela qualificação do cuidado com essas populações.
O pesquisador Alcindo Ferla, docente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador geral da Rede Unida, enfatiza a contribuição da Fiocruz Amazônia, por meio da expertise do Lahpsa, na acolhida do projeto pelos movimentos sociais. “A apresentação do projeto pelo Schweickardt teve uma acolhida muito grande pelos movimentos, sempre tão invisibilizados. O desafio do projeto é torná-los visíveis para que as equipes que organizam pontos de atenção nos territórios consigam enxergar esses movimentos, que pleiteam do Governo Federal iniciativas dessa natureza para que possam ter cada vez mais participação.
“Depois dessa escuta, convidamos as pessoas que estão ajudando na elaboração dos materiais e conteúdos e fomos construindo um percurso formativo, que chamamos de trilhas, movimento coletivo de construção, da formação, não trabalhamos com a ideia segmentação por módulos e sim de algo transversal, iremos trabalhar mais de 20 turmas espalhadas por toda a Amazônia”, observou Schweickardt.