28/08/2024
Mariana Moebus (Cooperação Social da Fiocruz)
Meu quintal é maior que o mundo, minha sede é maior que o mar, como rios confluentes, estamos em todo lugar é o que diz uma das músicas produzidas pelos alunos da segunda edição do Curso de Produção Musical, da Casa Viva/Rede CCAP, que entra em sua terceira e última edição em setembro. Inspirada nos conceitos do poeta e ativista quilombola Nêgo Bispo, as “confluências” guiam os alunos através do ensino coletivo da música e da educação popular, contribuindo para a construção de uma sociedade menos desigual. A elaboração do Estúdio Escola Casa Viva/Rede CCAP faz parte das metas do projeto Promoção da Saúde, Cultura, Cidadania e Populações Vulnerabilizadas desenvolvido pela parceria entre a Cooperação Social da Presidência da Fiocruz e o Instituto 100% Suburbano.
O projeto tem como objetivo promover cidadania, educação e oportunidades em territórios vulnerabilizados a partir da capacitação de jovens e adultos em produção musical (Foto: Cooperação Social da Fiocruz)
“O curso vem para somar com as nossas outras duas frentes dentro do universo musical. Ele começa com o aprendizado de base, com a Escola de Música de Manguinhos, a prática de conjunto e profissionalização, com o Grupo Música na Calçada e, agora, com o estúdio escola, damos um passo em direção à gravação e composição autoral”, explica Tomás Rosati, professor do projeto. “O espaço também tem um simbolismo dentro da cultura local, pois, na década de 80, abrigava o Estúdio Rancho, lugar em que passaram grandes nomes da música popular brasileira, como Tim Maia e Roupa Nova. Com esse projeto, nós conseguimos agregar um caráter político e pedagógico de militância que o Espaço Casa Viva representa no território, reivindicando a identidade da periferia e da favela com acolhimento e troca de saberes", destaca.
O projeto tem como objetivo promover cidadania, educação e oportunidades em territórios vulnerabilizados a partir da capacitação de jovens e adultos em produção musical. O programa, iniciado em abril deste ano, já atendeu, em suas duas edições, 44 pessoas de diversos bairros do Rio de Janeiro, como Manguinhos, Jacarezinho, Engenho de Dentro, Jacarepaguá, entre outros. Um dos eixos da iniciativa é o desenvolvimento de estratégias de promoção de saúde em territórios vulnerabilizados, com o objetivo de minimizar os efeitos dos determinantes sociais de saúde, isto é, do conjunto de fatores que envolvem vida econômica, social, ambiental, política e cultural, que influenciam negativamente no acesso à saúde da população.
“Sabe-se que os empregos do futuro estão ligados as áreas tecnológicas e de produção do conhecimento. Transformar este potencial em desenvolvimento é qualidade de vida, e qualidade de vida é promoção da saúde, é vislumbrar caminhos de possibilidades e oportunidades em busca da cura e a mitigação dos adoecimentos físico e psicossocial. Ações produtoras de uma cidadania crítica e criativa, como o projeto estúdio escola, promovem saúde integral, pois a cultura também cura”, afirma Elisabeth Campos, representante da Casa Viva/Rede CCAP.
No curso, os alunos têm a oportunidade de se qualificar em um conteúdo programático completo, passando por disciplinas de composição, arranjo, produção, gravação, mixagem e masterização, sempre valorizando a prática e a criatividade artística, além de promover a aproximação dos participantes com o mercado de trabalho. Durante as aulas, os alunos também são motivados a pensar sobre temas importantes como questões raciais, de gênero e classe nas periferias e favelas, evidenciando o papel social que a música e a cultura têm para a sociedade.
“O que me marcou no projeto foi ter uma troca com outras pessoas de outras vivências e de outros lugares. O curso foi uma experiência muito importante para mim pois tive a oportunidade de aprender coisas novas dentro do universo da produção e gravação, conseguir produzir algo do zero e com qualidade é muito significativo. Eu já vinha querendo musicalizar alguns poemas que escrevo e o curso me mostrou que é possível fazer isso de forma descomplicada”, afirma Caio Oliveira, ex-aluno do curso.
A presença de um centro cultural gratuito é considerada estratégica pelo Espaço Casa Viva e gera impactos positivos para comunidade, segundo a coordenação e os alunos. “A minha experiência com o curso de Produção Musical no Casa Viva foi de grande importância para minha formação não só enquanto artista, mas também como pessoa. Eu tive o privilégio de ter aula com professores que são artistas e que eu já admirava antes mesmo de conhecer o curso e que passei a admirar muito mais depois. Além disso, foi muito bom também ter uma troca com os outros alunos com bagagens culturais diferentes da minha, o que permitiu que eu enriquecesse meu repertório enquanto artista”, diz Maria Eduarda Confort, ex- aluna do curso.
Ao final do curso, com duração de dez semanas, os alunos têm a oportunidade de gravar suas produções autorais em um estúdio profissional e apresentarem seus arranjos em uma Mostra organizada no Espaço Casa Viva, além de receberem um certificado de conclusão. As pré-inscrições para a terceira turma do curso estão abertas até 30 de agosto e os interessados deverão preencher o formulário disponível. O início das aulas está previsto para 3 de setembro. As produções das edições anteriores podem ser ouvidas no YouTube da Casa Viva/Rede CCAP.