28/08/2024
Isis Breves (Fiocruz Mata Atlântica)
Em uma pesquisa publicada na revista Brazilian Journal of Microbiology, pesquisadores da Fiocruz Mata Atlântica, em parceria com a Universidade Federal do ABC e o Instituto Pasteur, ambos de São Paulo, apresentam o resultado do monitoramento do vírus da raiva na Floresta da Pedra Branca, a maior floresta urbana do mundo, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Segundo o pesquisador Ricardo Moratelli, um dos líderes do estudo e coordenador-executivo da Fiocruz Mata Atlântica, “com o sucesso do controle da raiva transmitida por cães domésticos por meio da vacinação contra o vírus da raiva, campanha implementada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os animais silvestres têm desempenhado um papel epidemiológico relevante na transmissão desse vírus no país. Morcegos, primatas não-humanos e canídeos silvestres têm sido os principais vetores do vírus da raiva, principalmente, pela capacidade de adaptação às áreas urbanas por essas espécies. A finalidade da pesquisa foi avaliar a circulação do vírus da raiva na Floresta da Pedra Branca, área de mata atlântica no Rio de Janeiro”.
Foram obtidas 60 amostras de oito espécies de morcegos e 13 amostras de primatas (Foto: FMA)
Sócrates Costa-Neto, também pesquisador da Fiocruz Mata Atlântica e coautor do artigo, explica que foram coletadas amostras de saliva e sangue de mamíferos da Floresta da Pedra Branca para avaliar a circulação do vírus na região. “Foram obtidas 60 amostras de oito espécies de morcegos e 13 amostras de primatas, por meio de trabalho de campo. Essas amostras foram submetidas à análise de reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa, um tipo de análise laboratorial usado nas amostras de saliva. Já nas amostras de sangue foram utilizados testes rápidos de inibição do foco Ffuorescente para detecção de anticorpos para o vírus da raiva”. Essas análises foram feitas no Instituto Pasteur, coordenadas por Helena Beatriz de Carvalho Ruthner.
Como resultado do estudo, 8% das amostras de morcegos indicaram a presença de anticorpos para o vírus da raiva. “A presença de anticorpos neutralizantes contra o vírus da raiva encontrado nas amostras de morcegos, destaca a circulação do vírus nas espécies estudadas na Floresta Pedra Branca. Como desdobramento deste resultado, se faz necessário novos estudos para entendimento da epidemiologia viral, visando à vigilância epidemiológica, já que o potencial contato dessas espécies com outros animais e humanos podem levar a novos casos de raiva humana”, esclarece Roberto Novaes, pesquisador da Fiocruz Mata Atlântica e tabmém coautor do artigo.
Ricardo Moratelli, que coordena projetos com levantamento e monitoramento de patógenos em animais silvestres e domésticos na região da Fiocruz Mata Atlântica e outros locais do Brasil, reforça a importância da conservação da biodiversidade para a saúde. “As florestas abrigam uma grande diversidade de espécies de animais, plantas, fungos e microrganismos. Alguns desses microrganismos podem circular entre animais e humanos e eventualmente causar doenças em humanos, essas doenças são chamadas zoonoses. Florestas preservadas, onde populações animais estão em equilíbrio, oferecem menores riscos de transmissão desses microrganismos de potencial zoonótico. Entre as principais ações humanas que levam ao aumento da incidência de zoonoses de origem silvestre, podemos citar o desmatamento e a fragmentação dos ambientes naturais. Já sabemos que o desmatamento pode levar ao aumento do risco de transmissão da malária, leishmaniose, doenças de Chagas e febre amarela, para citar apenas alguns exemplos conhecidos".
A Fiocruz Mata Atlântica
A Mata Atlântica é um bioma rico em biodiversidade e ameaçado de extinção com grande variedade de espécies de plantas, animais e microrganismos, muitos endêmicos e ameaçados por pressões antrópicas sobre o bioma. A Mata Atlântica ocupa atualmente 15% do território brasileiro e é a segunda maior floresta tropical do Brasil. Na cidade do Rio de Janeiro, o maior remanescente de vegetação é a Floresta da Pedra Branca, com mais de 12 mil hectares, que se apresenta como a maior floresta urbana do mundo. A floresta está localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro, a qual na sua vertente leste se localiza o campus da Fiocruz Mata Atlântica (FMA). Por ser um campus diferenciado em suas características geográficas – situado na fronteira entre a área urbana e um importante remanescente florestal, a FMA realiza projetos e ações para o desenvolvimento sustentável e saudável dos territórios adjacentes. Essas ações incluem o levantamento da biodiversidade, restauração ecológica, pesquisas e monitoramento de patógenos que circulam na fauna doméstica e silvestre, estudos e implantação de tecnologias ambientais para sustentabilidade do campus e para comunidades urbanas e periurbanas do Rio de Janeiro, além de ações nos campos da promoção da saúde, saúde única e segurança alimentar.