Projeto Mosaic conclui primeiras atividades na Amazônia

Publicado em
Maíra Menezes (IOC/Fiocruz), com informações de Júlio Pedrosa (Fiocruz Amazônia)
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O projeto internacional Mosaic concluiu suas primeiras atividades nas duas áreas de estudo situadas na Amazônia. De 20 de outubro a 2 de novembro, pesquisadores estiveram na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru e na fronteira binacional entre Brasil e Guiana Francesa. Cientistas da França, Portugal, Polônia, Quênia, Colômbia, Peru e Brasil participaram de diferentes etapas da expedição. Intitulado Aplicação multilocal da ciência aberta na criação de ambientes saudáveis envolvendo comunidades locais (Mosaic, na sigla em inglês), o projeto une 15 instituições científicas de sete países, além de centros de pesquisa parceiros.  

Equipe internacional de cientistas se reuniu na sede da Fiocruz Amazônia antes de percorrer áreas de fronteira (foto: Júlio Pedrosa, Fiocruz Amazônia)
 
 

A Fiocruz integra a iniciativa através da Plataforma Internacional para Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (Picitis). Participam: Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia), Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). 

O objetivo final é estabelecer sistemas de informação para apoiar populações em áreas de fronteira e avaliar e enfrentar os impactos das transformações ambientais. Além de duas áreas na Amazônia, a iniciativa contempla a fronteira entre Quênia e Tanzânia, na África, que recebeu o grupo em setembro.  

As atividades de campo na região amazônica tiveram como foco reuniões com atores locais, incluindo pesquisadores, equipes de saúde e lideranças comunitárias.

Paulo Peiter apresenta projeto em reunião com pesquisadores e lideranças locais no campus da Universidade Nacional da Colômbia em Letícia, na tríplice fronteira (foto: Divulgação Mosaic IRD)
 

Líder do grupo de trabalho do Mosaic sobre Ciência compartilhada com as partes interessadas, o pesquisador do Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC/Fiocruz, Paulo Peiter, ressaltou a importância da missão, tendo em vista os pilares da saúde única e da ciência aberta, que norteiam o projeto. 

"O balanço foi extremamente positivo por ter permitido aos participantes conhecerem as áreas de estudo e terem contato com suas populações e lideranças. A abordagem 'Uma Só Saúde’ é nova para os profissionais da área da saúde humana, mas já é adotada tradicionalmente nas comunidades locais, sobretudo as indígenas. Foi uma verdadeira imersão por mais de 15 dias em uma realidade muito diferente daquela com a qual estamos acostumados e, por isso, necessária", disse Paulo, que faz parte do Laboratório Setorial One Health/Global Health da Pictis. 

Tríplice fronteira 

Um evento na Fiocruz Amazônia, em Manaus, marcou o início das atividades na região. Os pesquisadores receberam as boas-vindas da diretora da unidade, Stefanie Lopes, que destacou o caráter inovador da abordagem do Mosaic para a saúde e a vigilância nas regiões de fronteiras e a importância da atuação conjunta de diversas instituições. 

O assessor da Vice-diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do IOC/Fiocruz, Carlos Eduardo Andrade Lima da Rocha, ressaltou que o projeto concilia campos da atuação da Fiocruz na vigilância em saúde nas comunidades locais, trazendo soluções de novos sistemas de monitoramento e de formação em saúde. 

Evento na Fiocruz Amazônia marcou início da missão e ressaltou importância da cooperação internacional (foto: Júlio Pedrosa, Fiocruz Amazônia)
 

 

O coordenador científico da Pictis, José Cordeiro, observou que o Mosaic tem uma trajetória acompanhada com muita atenção por instâncias relevantes no âmbito da União Europeia e do Brasil, a exemplo do Ministério das Relações Exteriores e Delegação da União Europeia em Brasília. 

Paulo fez uma apresentação sobre o projeto e chamou atenção para a seca histórica na Amazônia, observando que o impacto das mudanças climáticas no dia a dia das populações está no foco do Mosaic. 

De Manaus, o grupo seguiu para a tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Em Letícia, na Colômbia, houve reunião com pesquisadores e atores locais na Universidade Nacional da Colômbia, compartilhando experiências em vigilância em saúde, mudanças climáticas e projetos exitosos em saúde e melhoria das condições de vida, envolvendo as comunidades que vivem no território transfronteiriço.  

Vista da cidade de Letícia, na Colômbia, na fronteira com Brasil e Peru (foto: Divulgação Mosaic IRD)
 

 

Os cientistas visitaram também o Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas Sinchi, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia. Em Tabatinga, no Amazonas, a equipe esteve na unidade de Atenção Básica Upetana, do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Alto Rio Solimões. Foram realizadas roda de conversa com as parteiras da etnia Tikuna e apresentação da cartografia social local por técnicos do DSEI, que pertencem à etnia Kokama e são egressos do Programa Educacional em Vigilância em Saúde nas Fronteiras (VigiFronteiras-Brasil), da Fiocruz. Os pesquisadores conheceram ainda o Laboratório de Fronteira (Lafron), ligado ao Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM). 

Fronteira binacional 

A segunda etapa da expedição contou com atividades no Oiapoque, no Amapá, e em Saint Georges de l'Oyapock, na Guiana Francesa. Para chegar à fronteira, os pesquisadores percorreram o trajeto de 590 km pela BR-156, que liga Macapá à Oiapoque, atravessando áreas de agricultura e pecuária até chegar à floresta nativa preservada na Terra Indígena Uaçá. 

Após trajeto pelo rio, pesquisadores desembarcaram em Vila Vitória, bairro afastado do centro de Oiapoque, que fica em frente à cidade de Saint Georges de L'Oyapock, na Guiana Francesa (foto: Acervo IOC/Fiocruz)
 

Em Oiapoque, foi realizado o 3º Encontro Internacional Projeto Mosaic, no Campus Binacional da Universidade Federal do Amapá (Unifap). Pesquisadores de diversas instituições científicas, lideranças comunitárias e autoridades de saúde do Amapá e da Guiana Francesa participaram do evento. 

Na mesa de abertura, estiveram presentes a vice-diretora da Unifap, Ana Flavia Albuquerque; o secretário de Saúde de Oiapoque, Josimar Silva; o superintendente de Vigilância em Saúde do Amapá, Cassio Peterka; o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amapá (Fapeap), Gutemberg de Vilhena Silva; e o coordenador geral do projeto Mosaic, Emmanuel Roux. 

Ao todo, foram 17 apresentações. Entre os temas, foram abordadas as perspectivas do projeto Mosaic na Amazônia e na África, o contexto histórico e questões atuais do território transfronteiriço, a cooperação entre Brasil e Guiana Francesa e iniciativas de saúde e vigilância.  

O painel sobre experiências de pesquisa na região contemplou estudos sobre doenças infecciosas, mobilidade populacional, efeitos da pandemia de Covid-19, biodiversidade, HIV/Aids, hepatites virais, leishmanioses, malária, populações em vulnerabilidade social e populações indígenas. 

Lideranças do Quilombo Kulumbú do Patauazinho e da Associação das Mulheres Indígenas de Oiapoque apresentaram perspectivas de medicina tradicional e dos problemas enfrentados no território. 

Pesquisadores fizeram reunião com profissionais de hospital em Saint Geroges sobre questões de saúde na fronteira, como fluxo de pacientes brasileiros que busca atendimento no país vizinho (foto: Acervo IOC/Fiocruz)
 

Além do seminário, a agenda na fronteira binacional contemplou visitas a unidades de saúde dos dois lados da fronteira. Os pesquisadores também conheceram o projeto Curema, que avalia uma nova intervenção para controle da malária em garimpeiros que se deslocam entre Amapá, Guiana Francesa e Suriname.  

A iniciativa multinacional foi apresentada pela chefe do Laboratório de Doenças Parasitárias do IOC/Fiocruz, Martha Mutis, que lidera a pesquisa Curema no Brasil e integra o projeto Mosaic. 

No último dia na região, o grupo fez um percurso de barco com três paradas: no Comando Especial de Fronteira de Clevelândia do Norte, na obra de construção da Pequena Central Hidrelétrica do Salto Cafesoca e na sede do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena Iepé. 

“Nos dois locais de estudo, a missão nos permitiu conhecer grande diversidade de atores e interesses. A partir desse reconhecimento, vamos buscar a anuência das instituições e atores não institucionais para o projeto, mapear a rede de atores em cada local e esboçar uma primeira lista de problemas e indicadores a serem incorporados nos sistemas de informação do Mosaic”, afirmou Paulo. 

Mosaic 

O projeto Mosaic é coordenado pelo Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD, na sigla em francês), da França, e foi selecionado pelo programa Horizon Europe, da União Europeia, para financiamento no período 2024 a 2027. 

Foi o primeiro edital europeu de fomento à pesquisa com participação da Pictis, centro de pesquisa estabelecido em colaboração entre a Fiocruz e a Universidade de Aveiro, em Portugal.