Saúde Talks 2024: presidente da Fiocruz fala sobre o Ceis na Firjan Sesi

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Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Notícias)
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A Fiocruz vive uma nova fase em sua estratégia de inovação, em que acordos de transferência de tecnologias dão espaço aos investimentos em desenvolvimento tecnológico. “Estamos reposicionando as nossas parcerias, sobretudo com as grandes farmacêuticas internacionais, para que os nossos projetos agora sejam projetos de desenvolvimento”, disse o presidente da Fundação, Mario Moreira, durante o Saúde Talks 2024, evento da Firjan Sesi, nesta quarta-feira (4/12), na Casa Firjan, no Rio de Janeiro. Reunindo instituições, órgãos públicos, empresas privadas e a comunidade acadêmica, o evento teve como foco os desafios da saúde para o aumento da produtividade e da competitividade, além de boas práticas corporativas e segurança do trabalhador.

Evento teve como foco os desafios da saúde para o aumento da produtividade e da competitividade, além de boas práticas corporativas e segurança do trabalhador (foto: Peter Ilicciev)

 

Em uma das principais palestras do dia, Moreira abordou O complexo econômico-industrial da saúde. Ele recordou o desafio lançado pela pandemia de Covid-19, quando os países do Norte compraram a produção de vacina em escala mundial, e os países do Sul, incluindo o Brasil, foram “para o final da fila”. Mas destacou também mudanças, desafios e oportunidades. Citando o secretário da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde do Ministério da Saúde (Sectics/MS), Carlos Gadelha, que falara minutos antes, lembrou que o Brasil está hoje presente nos principais fóruns mundiais de saúde, influenciando grandes questões, como a construção de uma coalizão para a produção local e regional de tecnologias em saúde aprovada no G20.

Moreira destacou que, por conta da característica universal de seu sistema de saúde, o Brasil é o grande provedor: indo do atendimento básico e das vacinas à internação. “Isso traz um desafio econômico importante. Hoje, o Brasil é um exportador de renda. E o setor de saúde é um gerador de déficit”, observou. “Ao lado do desafio, há uma grande oportunidade para o desenvolvimento do Brasil. É impressionante como a indústria farmacêutica brasileira se desenvolveu nesses últimos anos, inclusive deixando de ser processadora para ser desenvolvedora.” Para o presidente da Fiocruz, o desafio da indústria farmacêutica nacional é “não só expandir a sua capacidade de produção, mas expandir também a sua capacidade de inovação”.

A Fiocruz tem buscado parcerias com universidades brasileiras como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para unir essa base científica com a base tecnológica industrial da Fundação. Outro acordo é com o Butantan. “Estamos formando uma aliança estratégica para o desenvolvimento de produtos”, contou Mario Moreira. “Embora o Butantan tenha 124 anos, e a Fiocruz esteja prestes a completar 125, é a primeira vez que a gente assina um acordo de cooperação. É quase um armistício com os paulistas, onde a gente possa, de fato, atuar conjuntamente para o desenvolvimento de produtos”, brincou Moreira.

Além disso, a Fundação participa de um projeto da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS) para fazer um levantamento da capacidade de produção da América Latina, a fim de evitar episódios de escassez de medicamentos e equipamentos hospitalares como na época da pandemia. Em breve, deverá participar de um acordo similar com o Centro Africano de Controle e Prevenção de Doenças (CDC África). Segundo Moreira, a participação vai além do levantamento, com um possível engajamento no processo de capacitação desses países, a exemplo da experiência com Moçambique. Um movimento que poderia representar também uma oportunidade para a indústria brasileira.

O presidente da Fiocruz destacou ainda a construção do Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde (Cibs) em Santa Cruz, no Rio de Janeiro, que, além de aumentar a capacidade de produção de vacinas do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), deverá gerar dois mil empregos diretos e mais dois mil indiretos. “É uma obra que não só atende à demanda da Fiocuz, mas da indústria brasileira pública e privada, sobretudo no campo de finalização de produtos biológicos”, acrescentou.

O Saúde Talks 2024 foi aberto pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Luiz Césio Caetano. O evento foi lançado em 2023, visando o bem-estar e a qualidade de vida do trabalhador, contou Caetano. “Nosso objetivo é conectar todo o sistema de saúde, através de painéis, tendências de inovações, sobre os principais desafios dessa área tão importante: promover a competitividade e produtividade da indústria fluminense”, disse.

Caetano foi seguido pela palestra de Carlos Gadelha, representando a ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima. Gadelha, que já liderou o Centro de Estudos Estratégicos CEE/ Fiocruz), destacou que a indústria é hoje uma agenda do Ministério e que “a base produtiva-industrial nunca foi tão reconhecida como decisiva para atingir as condições de saúde”. “A gente aprendeu que sem ventiladores, sem vacinas, sem medicamentos, sem tecnologia digital não conseguimos enfrentar e lidar com os desastres das pandemias”, disse. O secretário destacou que o Ministério de Saúde está abrindo uma área dentro da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde para tratar da Produção e Inovação Global. “O mundo pós-pandemia não pode cruzar os braços”, ressaltou.

Além das palestras Mario Moreira e Carlos Gadelha, o ex-jogador de vôlei e campeão olímpico Nalbert Bitencourt deu seu depoimento em Jornada de campeão. O evento teve ainda cinco painéis, que discutiram os temas Atenção Primária à Saúde e principais impactos na saúde integral; O impacto social da inteligência artificial e da ciência de dados na saúdeInovações e novas tendências em saúde e segurança; Saúde mental: do bem-estar à saúde baseada em valor e Ergonomia e acessibilidade na inclusão de pessoas com deficiência (PCDs)