Representantes da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Fundação Eduardo dos Santos (Fesa), de Angola, estiveram reunidos na tarde desta terça-feira (15/4) para debater o estado da arte em DST, durante o 2º Congresso da CPLP sobre DST/Aids, no Rio de Janeiro. “Embora o tema principal deste evento seja a Aids, não se pode esquecer que outras DST funcionam como porta para a propagação do HIV”, alertou Paula Figueiredo, da Fesa. Para ilustrar a situação, Philippe Godefroy, da UFF, citou o exemplo das úlceras genitais. “Uma úlcera genital aumenta em 18,2% a chance de transmissão do HIV”, disse.
Godefroy fez uma apresentação sobre exame clínico, diagnóstico laboratorial e tratamento de doenças como sífilis, herpes simples, linfogranuloma venéreo, cancro mole e donovanose. Destacou a importância do exame da cavidade bucal, onde podem surgir lesões por causa do sexo oral. “A boca também é um foco de DST”, sublinhou. O médico ressaltou, ainda, a importância de orientar o paciente e seus parceiros. “Muitas DST são doenças milenares. É imperativo que sejam corretamente diagnosticas e tratadas”.
Maria Luiza Bezerra Menezes, da UFPE, falou especificamente sobre a sífilis, que contabiliza 12 milhões de casos novos por ano, a maioria deles nos países em desenvolvimento. No Brasil, são 937 mil novos casos anualmente, associados a fatores como baixa escolaridade e antecedente de ferida genital.
Em relação ao atendimento das gestantes, preconizam-se dois testes para sífilis durante a gravidez e um no parto. No entanto, somente 14% das mulheres grávidas realizam este procedimento. A conseqüência desta lacuna é a sífilis congênita (transmitida de mãe para filho). De 1998 a 2006, foram notificados no país mais de 36 mil casos de sífilis congênita, número que, segundo Maria Luiza, pode estar bastante subestimado. “É preciso melhorar a cobertura dos serviços de saúde e incrementar a vigilância epidemiológica”, disse.
Outra lacuna identificada pela palestrante diz respeito ao atendimento ao parceiro da gestante. “Se a mulher é diagnosticada e faz o tratamento, mas o parceiro não, permanece o risco de ela contrair a doença novamente e transmitir a bactéria para o bebê”, explicou. Atualmente, apenas cerca de um quinto dos parceiros é tratado. Contudo, a meta é que, até o final deste ano, a testagem para sífilis nos companheiros das gestantes se torne rotina no pré-natal.
A tricomoníase – tema da palestra de Renato de Souza Bravo, da UFF – também recebe pouca atenção nos homens, que, na maioria dos casos, são portadores assintomáticos e transmitem a doença às mulheres. Segundo Bravo, há 170 milhões de novos casos por ano em todo o mundo. A taxa de prevalência da infecção varia de 5% a 10% na população geral e atinge índices de 50% a 60% entre a população carcerária e os profissionais do sexo. “Na grávida, a tricomoníase pode causar complicações, como ruptura prematura de membranas, parto pré-termo e baixo peso do bebê”, avaliou.