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09/10/2009

Ópera que homenageia Carlos Chagas faz sucesso em Belo Horizonte

Ricardo Valverde


A ópera Chagas, em dois atos, teve sua primeira apresentação, para cerca de 800 convidados, na segunda-feira (5/10), no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Na terça (6/10), houve outra apresentação, aberta ao público. A obra, que contou com o relevante apoio do Banco do Brasil para se tornar realidade, homenageia o célebre cientista Carlos Chagas, que há 100 anos descreveu a doença que ficou mundialmente conhecida com o seu nome, e seu filho homônimo. A versão recital, composta e regida pelo maestro Sílvio Barbato, foi apresentada em avant-première na embaixada brasileira em Roma, em novembro de 2008, para os membros da Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano, da qual Carlos Chagas Filho foi, por 16 anos, presidente. Com o falecimento de Barbato, a partitura foi concluída pelo compositor Alexandre Schubert.


 Cenas da ópera <EM>Chagas </EM>(Fotos: Divulgação) 

Cenas da ópera Chagas (Fotos: Divulgação) 


O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, acompanhou todo o processo de criação e produção da ópera e estava emocionado porque a estreia ocorreu no ano do centenário da descoberta da doença de Chagas. "E o local da estreia foi bastante apropriado, já que Chagas era mineiro", disse Gadelha, que destacou a alegria, a honra e a responsabilidade de estar à frente da Fiocruz no momento em que se comemoram os 100 anos da descoberta. "Chagas teve uma importância ímpar para a ciência brasileira e tenho certeza de que a ópera tocou profundamente o público", afirmou o presidente, que, na noite de estreia da ópera, homenageou com flores Rosalba Bonaccorsi e Sílvia, mãe e filha do falecido maestro Barbato.    



O libreto da ópera, de Renato Icarahy, foi livremente inspirado em episódios das vidas de Carlos Chagas e seu filho. O que seria uma homenagem a dois homens da ciência passou a ser também um tributo a seu artista idealizador: na concepção do diretor Moacyr Góes o maestro Barbato aparecerá como personagem – o artista que transita eternizado no espaço ficcional de sua própria criação.


A regência ficou a cargo do maestro André Cardoso, com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG).  A direção do coro da Cia Versátil de Música, com 28 participantes, coube ao maestro Jesus Figueiredo. A cenografia é de Paulo Flaksman, a iluminação de Adriana Ortiz, os figurinos são de Bia Salgado e o projeto multimídia de Tainá Diniz. Sebastião Teixeira, Luciana Costa e Silva, Mauricio Luz e Raoni Hubner serão os solistas. O espetáculo contará com a participação dos atores Leon Goes, que interpreta Silvio Barbato,  Giselle Lima, Carla Rosa e Augusto Garcia.


 

 Ilustração retrata Carlos Chagas atendendo criança enquanto fazia pesquisas, no interior de Minas

Ilustração retrata Carlos Chagas atendendo criança enquanto fazia pesquisas, no interior de Minas


A coordenação geral do projeto é de Helena Severo e a realização, da Fiocruz, instituição da qual Carlos Chagas foi presidente de 1917 a 1934. A ópera Chagas deverá ser encenada em outros estados brasileiros.


Personagens


A ópera é cantada por um coro e quatro solistas: um barítono, nos papéis de Carlos Chagas pai e filho, adultos; um tenor, personificando os dois cientistas quando jovens e também a alegórica figura do sertanejo Jeca Tatu; um meio-soprano que canta os personagens de dona Íris Chagas e da sertaneja, mãe da menina Berenice; e finalmente um baixo que se reveza nos papéis do padre Sacramento, do doutor Miguel Couto e do papa, na cena final no Vaticano. O coro representará sucessivamente os diferentes grupos que povoaram as vidas dos dois médicos: os escravos libertos, os trabalhadores da estrada de ferro, o tribunal do delírio de Chagas Filho, a comitiva dos cidadãos desesperançados conduzidos ao gabinete do presidente, os religiosos no Vaticano.



Sinopse


Primeiro ato


Quadro 1 – Um coro de escravos abre o ato, que mostra a juventude de Carlos Chagas em Minas, uma breve ilustração de seus turbulentos primeiros anos de vida, quando morava numa fazenda de café. A seguir, a cena desloca-se para a escola em São João Del Rei, quando o jovem Chagas pai (tenor) descobre sua vocação para as ciências. Em conversas com seu professor, o reverendo padre Sacramento (baixo), aprende sobre as estrelas, a biologia e escuta, fascinado, as histórias de grandes cientistas, como Galileu, que lhe causariam profunda impressão. O quadro termina com um dueto onde a transição de tempo se dá através de um encontro fictício entre o jovem Chagas e o Chagas adulto.


Quadro 2 – Chagas adulto (barítono), já a serviço do Instituto de Manguinhos, encontra-se em Lassance, interior do sertão mineiro, em seu laboratório improvisado num velho vagão de trem. Examinando a pequena Berenice que lhe é trazida no colo de sua mãe (mezzo), faz a famosa descoberta de uma nova tripanossomíase. É o pai da criança, uma personificação do Jeca Tatu (tenor), quem lhe traz os primeiros exemplares do “vum-vum”, o barbeiro transmissor da moléstia, que é levado por Miguel Couto para o Rio de Janeiro a fim de ser estudado. Um coro de trabalhadores da estrada de ferro abre e encerra o quadro.


Segundo ato


Quadro 1 – A nova enfermidade, batizada com seu nome, foi motivo de controvérsias que serão amplamente exploradas pela imprensa, principalmente após a morte de Osvaldo Cruz, quando Chagas assume a direção do Instituto de Manguinhos. As críticas lançadas contra o pai causam grande preocupação ao jovem Chagas Filho (tenor) e sua mãe, dona Íris (mezzo). Durante a grande epidemia de gripe espanhola no Rio de Janeiro, que atinge toda a família, o jovem Chagas Filho é acometido por febre alta e alucinações. O quadro se fecha num grande “concertato” encenando o delírio do menino. De seu leito ele assiste o pai sendo julgado por um tribunal de cientistas, constituído por um coro de detratores e um coro de defensores, durante o qual todos os personagens expõem suas aflições.


Quadro 2 – Carlos Chagas é recebido pelo então presidente da República (baixo), quando leva consigo um coro de sertanejos para mostrar a condição em que se encontrava o homem brasileiro. Em reconhecimento a seus serviços, é nomeado para a pasta da Saúde.



Quadro 3 – Em discurso na Academia  Nacional de Medicina, Carlos Chagas é aclamado pelos alunos, porém, decepciona-se ao constatar a incredulidade de seus colegas ante suas conquistas. O reconhecimento de sua obra tornar-se-á na luta de uma vida para o futuro médico, Chagas Filho. Com a morte prematura de Carlos Chagas, o filho jura à mãe, dona Iris, que dedicará sua carreira para reabilitar o nome e a obra de seu pai.


Quadro 4 (finale) – A ópera termina com Chagas Filho adulto (barítono) na Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano, ouvindo do papa o pronunciamento oficial da Santa Sé sobre a absolvição de Galileu, uma vitória que traz para ele o significado simbólico de reconhecimento universal pela obra de seu pai. 

Ópera Chagas


Mais


Conheça aqui a história da descoberta da doença de Chagas


Atualizado em 7/10/2009.

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