29/07/2020
Aline Câmera (Agência Fiocruz de Notícias)
Membros da Comissão Externa do Coronavírus da Câmara dos Deputados estiveram, nesta terça-feira (28/7), no campus Manguinhos para conhecer as atividades da Fiocruz voltadas para o enfrentamento da pandemia, em especial no que diz respeito ao processo de produção da vacina. Recentemente, a Fundação e o Ministério da Saúde anunciaram que vão firmar um acordo com a biofarmacêutica AstraZeneca para compra de lotes e transferência de tecnologia da vacina para Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford. Além de conhecer as instalações do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), onde serão produzidas as doses, a agenda também incluiu uma visita técnica à Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19.
“O processo de desenvolvimento de uma vacina é normalmente longo e precisa ser orientado por preceitos de eficácia, segurança e ética em pesquisa. Temos visto um esforço mundial sem precedentes em acelerar esse processo. Como instituição estratégica do Estado brasileiro, a Fiocruz não poderia ficar de fora dessa mobilização. A Fundação tem 120 anos de história e atuação na saúde pública e buscamos ser parte da resposta à crise humanitária que estamos vivendo desde o início da pandemia”, declarou a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade.
Com a liderança do presidente da Comissão, dr. Luizinho Teixeira (PP-RJ), estiveram presentes os deputados federais Carmen Zanotto (Cidadania-SC), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Chico D’Angelo (PDT-RJ), Alexandre Padilha (PT-SP), Carla Dickson (Pros-RN), Christiano Aureo (PP-RJ), Soraya Manato (PSL-ES), Mariana Carvalho (PSDB-RO), Hiran Gonçalves (PP-RR), Pedro Westphalen (PP-RS), General Peternelli (PSL-SP), Antônio Brito (PSD-BA), Rodrigo Coelho (PSB-SC), Alexandre Serfiotis (PSD-RJ) e Alessandro Molon (PSB-RJ). A comitiva contou ainda com a participação de Patricia Ferraz (PODE-AP), suplente do deputado Vinicius Gurgel (PL-AP), do vereador Felipe Michel (Progressistas-RJ) e dos assessores Daniela Sholl, Thiago Medeiros e Monique Monteiro.
Para iniciar a agenda da visita, a presidente da Fiocruz apresentou as ações que a Fundação vem realizando de forma articulada com o Ministério da Saúde. Entre os destaques, ações de vigilância, educação, pesquisa, inovação tecnológica, produção de vacinas e medicamentos; a atenção direta aos pacientes contaminados pela doença no Centro Hospitalar para a Pandemia de Covid-19 – Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), que foi erguido em regime emergencial no campus e que ficará como um legado para o Sistema Único de Saúde (SUS) pós-pandemia; o papel da Fundação na produção dos testes e na ampliação da capacidade nacional de testagem à população; e o trabalho envolvido na prospecção e fabricação especificamente da vacina contra a doença.
Nísia explicou aos parlamentares os detalhes da negociação para a produção da vacina desenvolvida pela universidade britânica. O acordo prevê a aquisição de 30,4 milhões de doses do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) ainda durante a realização dos estudos clínicos, para processamento final e controle de qualidade, sendo 15,2 milhões de doses em dezembro e 15,2 milhões de doses em janeiro do ano que vem.
Ao término dos estudos e com a eficácia da vacina comprovada, está prevista a absorção total da tecnologia por Bio-Manguinhos e a aquisição de 100 milhões de doses do IFA, sendo 30 milhões entregues entre dezembro e janeiro e as 70 milhões restantes ao longo do primeiro trimestre de 2021. Para ter a totalidade das doses da vacina e a garantia da produção em solo nacional, o Brasil vai investir cerca de dois bilhões de reais. Durante o encontro, a Comissão se comprometeu a apoiar à Fundação nas negociações, que incluem, entre outros aspectos, uma medida provisória, já chamada de MP da Vacina, que segue em andamento pelo governo federal.
“Aqui na Fiocruz se faz educação, se faz ensino, produção de medicamentos. Nós precisamos mais do que nunca, como Congresso, apontar para as autoridades a importância da independência da produção de certos insumos e vacinas no Brasil. É fundamental investir em tecnologia, inovação e principalmente em pesquisa. A Fiocruz tem todas as condições de fazer isso. Portanto, vamos empregar esforços para que não falte orçamento, de forma que os brasileiros tenham a qualidade da Fiocruz à disposição da sua saúde", ressaltou o presidente da Frente Parlamentar de Imunização, Pedro Westphalen.
Além de conhecer as instalações do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), onde serão produzidas as doses, a agenda também incluiu uma visita técnica à Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19 (foto: Peter Ilicciev)
Com os resultados positivos dos testes feitos até agora, a vacina de Oxford é umas das mais promissoras no cenário mundial, inclusive do ponto de vista econômico. Considerando a taxa cambial atual, cada unidade da vacina sairia a menos de R$ 15. “Os Estados Unidos estão sugerindo uma vacina de U$ 40 (R$ 260) a dose. Só aí, temos uma economia de R$ 22 bilhões de reais. Nosso SUS, que tem a Fiocruz e tem capilaridade, vai conseguir entregar à população brasileira uma vacina de qualidade, provavelmente antes do que a maioria dos países do mundo. Se agirmos com antecedência, teremos condições tecnológicas para abastecer o mercado interno e ainda vender a vacina para o exterior”, afirmou o deputado Luizinho Teixeira.
“É importante ressaltar que estamos trabalhando na ampliação de nossa capacidade de produção para que possamos a atender a essa demanda e ao nosso fluxo regular de produção de diversas vacinas. Neste campo temos desafios para um futuro que esperamos possa se concretizar: o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde (Cibs), em Santa Cruz, o maior investimento do país em biotecnologia e que aumentará a capacidade atual de 20 milhões para 120 milhões de frascos de vacinas e biofármacos por ano”, destacou a presidente da Fundação.
Após a recepção no Castelo Mourisco, a comitiva se dividiu em dois grupos para visitar as instalações do complexo de Bio-Manguinhos e da Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19. Os parlamentares puderam conferir de perto o passo a passo que envolve a fabricação de uma vacina e a tecnologia empregada no processamento das amostras suspeitas da doença que seguem para análise na Fiocruz.
"Na condição de relatora da Comissão Externa e parlamentar da área da saúde, só temos o que agradecer a história da Fiocruz nesses 120 anos e mais ainda agora no momento da pandemia. O Brasil precisa se fortalecer e a Fiocruz é, sim, uma das instituições que precisa ser reconhecida, não só no momento da pandemia, mas com a garantia dos orçamentos necessários", finalizou a deputada Carmen Zanotto.