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24/01/2008

Pesquisa abre novas perspectivas para enfrentar o mosquito da dengue


A variabilidade genética do Aedes aegypti, mosquito transmissor do vírus da dengue, vem sendo alvo de estudo desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz em colaboração com o Instituto Pasteur. A pesquisa traçou um perfil da variabilidade genética em áreas endêmicas e livres da dengue no sudeste e sudoeste do Brasil. Os resultados evidenciam a existência de duas linhagens do mosquito introduzidas no país e alertam para os variados níveis de diferenciação genética, espacial e temporal dessas populações.


 Arte de Guto Mesquita sobre foto do <EM>Aedes agepyti</EM> feita por Genilton Vieira

Arte de Guto Mesquita sobre foto do Aedes agepyti feita por Genilton Vieira


O projeto Variabilidade genética de Aedes agepyti no Brasil foi iniciado em 2003. A pesquisa, idealizada a partir de estudos anteriores realizados pelo pesquisador Ricardo Lourenço na instituição francesa, resultou na tese de doutorado de Magda Clara Viera da Costa, que desenvolveu o trabalho no Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC. “A investigação da estrutura genética de populações de A. aegypti possibilita avaliar o fluxo gênico desse vetor no ambiente, o que é de interesse particular para a saúde pública, visto que sua dispersão pode estar envolvida com a disseminação do vírus da dengue”, enfatiza Magda.


Para realizar o estudo do A. aegypti em caráter espaço-temporal, foram feitos testes com três marcadores (isoenzimas, microssatélites e DNA mitocondrial) em amostras coletadas de dezembro de 2002 a dezembro de 2003, em 24 áreas urbanas com variadas incidências de casos de dengue e densidade populacional humana, sendo 14 bairros da cidade do Rio de Janeiro, nove cidades dos quatro estados do Sudeste e Porto Alegre, onde não há casos registrados de dengue.


“A avaliação da diversidade genética de populações do vetor em escalas menores, como dentro de uma cidade, e maiores, como entre estados, por exemplo, permite avaliar indiretamente a capacidade e freqüência de dispersão dos mosquitos”, explica Magda. “Populações com maior variabilidade genética denotam considerável fluxo gênico dentro das áreas estudadas, o que tem implicação na disseminação de genes que controlam geneticamente a suscetibilidade aos vírus da dengue, assim como aos inseticidas empregados no controle”, observa Lourenço.


Magda ressalta como principal diferencial do estudo a análise da variabilidade genética do vetor nos períodos inter e intra-epidêmico de transmissão do vírus da dengue, assim como em áreas endêmicas e não-endêmicas. “Observamos que as populações de A. aegypti se dispersam pouco no período de mais chuva, principalmente em grandes centros urbanos, quando, além de criadouros permanentes, um maior número de depósitos transitórios passa a ser preenchido pelas chuvas, aumentando a concentração de criadouros potencias para a desova em cada área. E, quando dispersam pouco, há tendência das populações dos mosquitos terem menor variabilidade genética”, esclarece.


Porém, este padrão de dispersão não foi observado em todas as localidades estudadas, sugerindo que as diferenças devem decorrer de características particulares de cada área, desde características climáticas até a disponibilidade de focos para oviposição dos mosquitos. “Do ponto de vista epidemiológico, os resultados obtidos sugerem processos migratórios do vetor não são suficientemente freqüentes para dispersar o vírus da dengue em escala micro e macrogeográfica, sendo esta mais facilitada pela movimentação de humanos em viremia”, conclui a pesquisadora.


O estudo também mostrou o baixo fluxo gênico entre as populações de A. aegypti, em escalas microrregional (dentro da cidade do Rio de Janeiro) e macrorregional (entre as áreas endêmicas e indenes). Porém, foi detectada elevada diferenciação nos níveis intra e interpopulacionais. Além disso, foi notada a ausência de correlação entre a diferenciação genética das populações e a distância entre as localidades. “O estudo mostrou que as populações do mosquito podem ser mais diversas dentro da mesma cidade do que entre estados, por exemplo”, explica Lourenço. “Os dados sugerem que a dispersão passiva do mosquito ao longo das rotas pesquisadas não é suficientemente freqüente para promover homogeneização genética”, sintetiza o especialista.


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