Pesquisa investiga propensão para doenças cardiovasculares em crianças

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Informe Ensp
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Hipertensão arterial, diabetes e obesidade não podem mais ser consideradas apenas como doenças de adulto. É o que revela a pesquisa Vigilância dos fatores de risco para as doenças cardiovasculares do adulto em uma coorte de criança em idade escolar atendidas no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da Ensp, coordenada pelas pesquisadoras Sueli Rosa Gama e Elyne Montenegro Engstrom. O estudo tem o objetivo de detectar a prevalência de fatores de risco em crianças de 5 a 9 anos em comunidades de baixa renda.


 As pesquisadoras querem estimular uma mudança de atitude que envolva alimentação e atividade física

As pesquisadoras querem estimular uma mudança de atitude que envolva alimentação e atividade física


A pesquisa, contemplada no edital do Programa de Auxílio à Pesquisa (APQ1) da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), é um desdobramento da dissertação de mestrado de Sueli. O estudo está sendo aplicado em cerca de 350 crianças pré-púberes usuárias do Centro de Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz. “Essa é uma mostra aleatória de crianças em idade escolar. Além das crianças que já participaram das pesquisas para o mestrado, no período de 2004 a 2007, estamos captando também crianças que correspondam à faixa etária menor”, explica. Esse estudo é longitudinal, e a idéia das pesquisadoras é acompanhar essas crianças até a fase adulta. “Queremos observar como os fatores de risco se desenvolvem, quando e porque eles acontecem”, diz Elyne.


De acordo com Sueli, o desenvolvimento de ações, para que os fatores de risco não se tornem doenças, é a meta principal do projeto. Durante o mestrado, Sueli detectou a presença desses fatores em crianças com peso adequado e com pouco peso. “Não aconteceu apenas em crianças obesas. Isso comprova a ocorrência silenciosa dessas doenças”, alerta. Para alcançar as crianças e as famílias e conseguir mudar hábitos de vida a pesquisa conta com a colaboração das equipes do Programa Saúde da Família e das escolas da região de Manguinhos. Elyne comenta que mudar hábitos e incorporar melhorias em prol de uma vida mais saudável não é fácil. “Isso requer uma mudança de atitude que envolve alimentação, atividade física e muitas outras coisas. Entretanto, se a criança crescer em um ambiente saudável, certamente será um adulto menos propenso a desenvolver doenças cardiovasculares”, afirma a pesquisadora.


 “Aqui no Centro de Saúde”, explica Elyne, “trabalhamos com a idéia de prevenção. Nossa abordagem não é a doença. Não podemos dizer que uma criança de 8 anos é doente porque tem a taxa de colesterol elevada para a idade. O que ela tem é um aspecto em seu corpo que precisa e pode ser melhorado”. De acordo com a pesquisadora, isso mexe com a auto-estima da criança. “O foco é vigiar de forma saudável e criar hábitos em toda a família. Já conseguimos melhorias significativas dentro de famílias inteiras, como o caso de pais que são hipertensos e diminuíram a quantidade de medicação receitada”. Em alguns casos, a criança tem autonomia para escolher o que quer comprar e comer. “Suas escolhas farão toda a diferença, e os hábitos saudáveis serão levados por toda a vida”, destaca Sueli.


Todas as crianças que participam da pesquisa passam por uma primeira consulta e fazem diversos exames. As que apresentam problemas recebem um acompanhamento mais rigoroso com uma nutricionista e uma pediatra. As crianças que não apresentam problemas voltam de três em três anos para repetir os exames. “Assim conseguimos acompanhar o desenvolvimento da criança e dos possíveis fatores de risco”, diz Sueli. Pesquisas assim costumam durar mais de dez anos e acompanham as crianças até a fase adulta. “A nossa pesquisa vai até quando conseguirmos consolidar dados suficientes”, afirma Elyne, que completa entusiasmada: “À medida que os problemas vão aparecendo, nós criamos intervenções criativas para reverter o quadro clínico. Grupos educacionais e atividades físicas são algumas delas. Evitamos ao máximo intervenções médicas. Tenho certeza que podemos mudar a situação com alternativas saudáveis”.


O projeto tem uma parceria com o Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos (Demqs) da Ensp, por meio das pesquisadoras Letícia de Oliveira Cardoso e Marília Sá Carvalho. Com a pesquisa está sendo construída uma forma de assistência mais organizada para o grupo. É uma tentativa de melhorar o atendimento coletivo. “Temos um bom espaço dentro do campus que pode ser aproveitado, mas não temos profissionais para as atividades. Outra perspectiva é conseguir implementar atividades fora do campus, nas escolas de Manguinhos. O PSF é a nossa ponte, nossa parceria com esses locais. Com isso, as equipes de saúde da família também serão sensibilizadas e conseguirão ter uma visão ampliada dos problemas de cada área. Isso melhora o trabalho deles e o nosso”, conta Sueli.