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28/07/2017

Pesquisador da Fiocruz Amazonas investiga vírus oropouche

Marlúcia Seixas (Fiocruz Amazonas)


Os recentes relatos sobre a possibilidade de emergência do vírus oropouche, um outro arbovírus no país, causaram preocupação na população. No entanto, não há motivo para pânico, informa o vice-diretor de Pesquisa e Inovação do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazonas), Felipe Gomes Naveca.

Ele explica que são necessários alguns fatores para desencadear um novo surto por um arbovírus como: densidade vetorial, circulação do vírus, população vulnerável e até mesmo condições climáticas. “Até o momento, o vetor implicado na transmissão do oropouche é o maruim, portanto não se espera um cenário igual ao dos vírus transmitidos por Aedes aegypti”. O maruim recebe o nome científico de Culicoides paraensis.

Infecção pelo arbovírus causa sintomas parecidos com a dengue, como febre, mal estar e dores no corpo (Foto: Eduardo Gomes - ILMD/Fiocruz Amazonas)

 

O pesquisador adverte que é preciso ampliar a vigilância para monitorar a possibilidade de emergência de casos, e é isto que o ILMD/Fiocruz Amazonas tem feito por meio de projetos em parceria com a Fundação de Vigilância em Saúde  (FVS-AM), Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (LACEN-AM), Hospital Adventista de Manaus (HAM), Fundação de Medicina Tropical – Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), Universidade Federal de Roraima (UFRR), LACEN-RR e o Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará.

“A Fiocruz Amazonas tem atuado em parceria com outras instituições e auxiliado com o desenvolvimento de ferramentas para o diagnóstico dessas arboviroses. Atua também executando e coordenando projetos de vigilância epidemiológica, para a detecção de possíveis casos humanos e a circulação em potenciais vetores”, explica Naveca.

Sintomas

A infecção pelo arbovírus oropouche causa sintomas muito parecidos com a dengue, como febre, mal estar, dores no corpo e, nos casos mais graves e raros pode apresentar encefalite.

A semelhança com os sintomas da dengue dificulta o diagnóstico clínico da febre oropouche. Atualmente, a confirmação laboratorial por técnicas de biologia molecular está disponível apenas em instituições que fazem pesquisa no Brasil. Na Região Norte, por exemplo, pode ser realizado na Fiocruz Amazonas, na FMT-HVD e no IEC.

Novo método de diagnóstico

Um novo protocolo de diagnóstico molecular da infecção pelos arbovírus mayaro e oropouche, desenvolvido por Naveca e pela pesquisadora Valdinete Nascimento, ambos do ILMD/Fiocruz Amazonas, foi publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e teve seu depósito de pedido de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Trata-se do Conjunto de oligonucleotídeos e método para o diagnóstico molecular da infecção pelos vírus mayaro e oropouche, uma invenção que torna possível realizar o diagnóstico molecular da infecção por esses arbovírus, de maneira simultânea, com alta sensibilidade e especificidade, utilizando a técnica de PCR em Tempo Real.

A proposta é que o invento se torne uma nova ferramenta na identificação de casos de febre mayaro e oropouche, utilizando uma estrutura já existente nos laboratórios centrais dos estados brasileiros.

Segundo Naveca, o método já está em uso e o protocolo tem sido utilizado para o estudo de casos humanos suspeitos, mas não confirmados, de dengue, zika e chikungunya, tanto em projetos coordenados por pesquisadores do ILMD/Fiocruz Amazonas, quanto em projetos coordenados por pesquisadores de outras instituições parceiras.

O projeto teve como escopo desenvolver e validar estratégias para a detecção de dois arbovírus emergentes e de importância médica, em especial na região Amazônica e foi financiado pelo edital 012/2009 do Programa de Infraestrutura para Jovens Pesquisadores Programa Primeiros Projetos (PPP-CNPq/FAPEAM).

Lacens

O pesquisador adianta que todos os Lacens do País estão dotados de infraestrutura para fazer o diagnóstico molecular dos casos de dengue, zika e chikungunya. “A mesma infraestrutura pode ser usada para o ensaio que desenvolvemos no ILMD e validamos no IEC”, explica Naveca.

No início de agosto, a equipe do Lacen de Roraima será capacitada para realizar o ensaio. Esta é uma das atividades do projeto Avaliação de fatores epidemiológicos, vetoriais e humanos, ligados à transmissão do vírus zika e outros arbovírus emergentes ou reemergentes em dois estados da Amazônia Ocidental Brasileira – Chamada MCTIC/FNDCT -CNPq / MEC-CAPES/ MS-Decit No 14/2016 – Prevenção e Combate ao vírus zika.

Arbovírus

Arbovírus são vírus transmitidos por artrópodes como, por exemplo, o vírus da dengue, transmitido principalmente pelo mosquito Aedes aegypti. Existem centenas de arbovírus conhecidos, destes, mais de 30 foram identificados infectando seres humanos.
“Esses números, assim como o exemplo do vírus zika e do chikungunya, nos mostram que existe o risco de outros vírus se tornarem um importante problema de saúde pública. Por este motivo o sistema de vigilância em saúde deve ser dotado de diversas tecnologias, as quais permitam identificar os casos de infecções por vírus emergentes de maneira rápida e confiável”, disse.

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