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13/12/2019

Pesquisador da Fiocruz Paraná recebe prêmio internacional inédito

ICC/Fiocruz Paraná


Primeiro cientista da Fiocruz a receber o prêmio Pasteur Network Talent Award, o pesquisador Paulo Costa Carvalho, do Laboratório de Proteômica Estrutural e Computacional do Instituto Carlos Chagas (ICC/ Fiocruz Paraná), conquistou a honraria na capital de Camarões, Iaundê. A cerimônia ocorreu durante a reunião anual dos diretores do Instituto Pasteur e posteriormente contou com a presença da embaixadora do Brasil no país, Vivian Loss Sanmartin. De sua candidatura ao recebimento do prêmio, Paulo contou com a assessoria e o trabalho do Centro de Relações Internacionais da Fiocruz.

Paulo Carvalho tem uma trajetória reconhecida na área da proteômica computacional, com três artigos publicados na Nature, uma das revistas científicas mais importantes do mundo, e é o único brasileiro que atua como um dos editores do periódico Journal of Proteomics. No ICC, lidera um grupo que acumula reconhecimentos internacionais de seus pesquisadores e alunos de pós-graduação. Em entrevista, o pesquisador reafirma o seu compromisso com a ciência e fala sobre a importância da conquista para a Fiocruz e para o país.

ICC/Fiocruz Paraná: O que esse prêmio significa?

Paulo Costa Carvalho: Vejo um reconhecimento internacional deste porte como uma chancela para a qualidade da pesquisa nacional.

ICC/Fiocruz Paraná: Como funciona a Rede Pasteur?

Carvalho: Atualmente, o Instituto Pasteur está presente em 25 países e conta com 33 institutos considerados unidades da Rede. A Fiocruz conta como uma destas unidades do Pasteur, apesar de ser uma instituição gigante com presença de norte a sul do Brasil. Aqui no cone sul, também contamos com o Pasteur de Montevidéu, instituição que mantenho muitas colaborações científicas.

ICC/Fiocruz Paraná: Como se deu a sua candidatura?

Carvalho: O edital para este prêmio é anual. Na primeira etapa faz com que cada unidade da Rede Pasteur selecione um pesquisador para representá-la e, para isso, as regras são as mesmas, o edital é um só para toda as unidades. Para se candidatar, é preciso preparar um memorial e um texto de nossa trajetória cientifica e relatar sobre planos de atuação na Rede Pasteur e como ocorrerá a articulação nessa rede. Também é necessário cartas de recomendação de cientistas renomados. No meu caso, apresentei cartas de recomendação do John R Yates, criador da Proteômica Shotgun, minha área de atuação. Uma das cartas de recomendação precisa ser da instituição de onde atuo e contei com uma carta assinada pela presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.  Após cada unidade selecionar o candidato para representá-la, apenas 2 destes, oriundos das 33 unidades do Pasteur, serão selecionados por comitiva internacional.  

ICC/Fiocruz Paraná: Como se sentiu quando soube que era o representante da Fiocruz?

Carvalho: Ser selecionado pela Fiocruz já foi uma grande vitória, esse reconhecimento da minha instituição foi muito importante para mim.

ICC/Fiocruz Paraná: E como ficou sabendo que foi escolhido para receber o prêmio?

Carvalho: Em outubro, recebi um e-mail diretamente do Instituto Pasteur, confirmando que fui selecionado como cientista a ser laureado durante a reunião dos diretores do Instituto Pasteur, que aconteceu no dia 11 de novembro. Essa reunião, acontece anualmente em uma das sedes do Pasteur. Esse ano, aconteceu na capital dos Camarões. Me apresentei durante a cerimônia e no dia seguinte participei de um evento científico. Eu tive a oportunidade de realizar uma apresentação científica aos diretores do Pasteur.  

ICC/Fiocruz Paraná: Ao que atribui essa conquista?

Carvalho: Esse prêmio compartilho com as pessoas que estão do meu lado, estudantes de pós-graduação e alguns poucos cientistas que fizeram a diferença na minha vida, meus pais, minha família, minha esposa, o professor John R Yates, o professor Valmir Carneiro Barbosa da UFRJ, que foi meu orientador de doutorado, o pesquisador Jonas Perales  e toda sua equipe do laboratório de Toxicologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/ Fiocruz Paraná) e os pesquisadores Carlos Batthyany, do Instituto Pasteur de Montevideo e Fabio Gozo, da Unicamp.  Finalmente, agradeço à pesquisadora Tatiana Brasil que embarcou junto comigo na criação de um novo laboratório na Fiocruz com uma linha de pesquisa inovadora.   Ciência não é feita a sós, ciência é troca e o fruto está ai.

ICC/Fiocruz Paraná: Como vê o atual panorama da ciência no Brasil?

Carvalho: Eu reconheço que o Brasil está passando por uma fase difícil na ciência, mas é preciso fazer jus a Fiocruz Paraná, onde atuamos em ambiente privilegiado. Aqui existem ótimas condições de trabalho, muitas vezes até melhor que em países de primeiro mundo.  Agradeço também ao diretor do Instituto, Bruno Dallagiovanna pelo apoio que tem dado ao nosso grupo.

ICC/Fiocruz Paraná: O que diria aos jovens cientistas para que trilhem uma trajetória exitosa como a sua?

Carvalho: O mestrado e doutorado devem ser realizados por paixão, jamais embarque nesta aventura por embarcar.  A carreira não é fácil, é preciso ser persistente, acreditar, se esforçar muito. E finalmente, é preciso ser ousado em todos os aspectos. Não fique intimidado com os “big journals”. O rejeite desses periódicos faz parte da trajetória, se você não está recebendo rejeite é porque deveria estar tentando periódicos ainda maiores.  Finalmente, é preciso sempre buscar o equilíbrio entre a mente, o corpo e a alma; portanto, a prática de atividade física assim como de outras atividades correlatas é importante.

ICC/Fiocruz Paraná: Foi essa forma de pensar que lhe rendeu três publicações na Nature?

Carvalho: No nosso grupo, estamos sempre buscando o limite, sempre tentando mostrar mais e, com isso, buscar outros tipos de reconhecimento. Já existiram outros reconhecimentos internacionais, por exemplo, atuei como features panel do periódico secular Analytical Chemistry, sou um dos editores da Journal of Proteomics, e recebemos diversos prêmios em congressos internacionais; entretanto, acredito que o premio Pasteur Network Talent Award será um divisor de águas na minha carreira porque coloca a Fiocruz e o Brasil em uma posição de destaque muito grande.

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