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05/06/2018

Pesquisador fala sobre malefícios do cigarro à saúde do fumante

Suely Amarante (IFF/Fiocruz)


Em cada tragada, o fumante inala mais de 4.720 substâncias tóxicas, como: monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína, naftalina e fósforo P4/P6 (usado para matar rato), além de 43 substâncias cancerígenas, sendo as principais: arsênio, níquel, benzopireno, cádmio, chumbo, resíduos de agrotóxicos e substâncias radioativas (Polônio 210, por exemplo). Como resultado, fumar é causa direta de cerca de 50 doenças, muitas delas incapacitantes e fatais, como câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), isso representa a principal causa de mortes evitável em todo o mundo, sendo responsável por 63% dos óbitos relacionados às doenças crônicas não transmissíveis.

A nicotina presente no cigarro é responsável por estimular a sensação de prazer que o fumante tem ao fumar. Com a inalação contínua da droga, o cérebro se adapta e passa a precisar de doses cada vez maiores para manter o nível de satisfação que tinha no início. Para lembrar o Dia Mundial sem Tabaco (31 de maio), o pneumologista e pesquisador do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) Hisbello da Silva Campos, esclarece algumas dúvidas sobre os malefícios do cigarro à saúde do fumante e das pessoas que inalam essa fumaça e o que é possível fazer para minimizar os impactos causados.

IFF/Fiocruz: Quais são os agravos que o cigarro pode trazer à vida do fumante?

Hisbello da Silva Campos: O fumo é causa direta de mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica (bronquite e enfisema), por diversos tipos de câncer (pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, colo de útero, estômago e fígado), por doença coronariana (angina e infarto), cerebrovasculares (acidente vascular cerebral). Também aumenta o risco para desenvolver outras doenças, como tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose, catarata, entre outras.

IFF/Fiocruz: Quais são os perigos que o cigarro pode causar ao fumante passivo?

Hisbello da Silva Campos: O fumante deve saber que a fumaça do seu cigarro pode causar doenças nas pessoas com quem convive em casa, no trabalho e nos demais espaços coletivos. Não existe nível seguro de exposição à fumaça do cigarro alheio. A fumaça que sai da ponta do cigarro e se difunde homogeneamente no ambiente, contém em média três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que o fumante inala. A exposição involuntária à fumaça do tabaco pode acarretar desde reações alérgicas (rinite, tosse, conjuntivite, exacerbação de asma) em curto período, até infarto do miocárdio, câncer do pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica) em adultos expostos por longos períodos. Em crianças, aumenta o número de infecções respiratórias. A lei que proíbe fumar em local público e fechado foi um grande avanço nas medidas de proteção.

IFF/Fiocruz: O cigarro pode afetar o seu desempenho no ambiente de trabalho? Como?

Hisbello da Silva Campos: Reconhecidamente, fumar também afeta negativamente o ambiente de trabalho. Para tentar reduzir os problemas que o cigarro leva para o ambiente de trabalho, muitas empresas têm programas de conscientização dos funcionários e de apoio para aqueles que querem deixar de fumar. Na perspectiva da direção de uma empresa, o primeiro problema causado pelo cigarro no ambiente de trabalho é o número elevado de faltas. O fumante tem constantes problemas físicos e muitas vezes, acaba tendo que ficar em casa ou até no hospital, além de precisar mais de consultas médicas que o não-fumante, o que atrapalha o seu rendimento no trabalho e reduz sua produtividade, principalmente em funções que demandem esforço físico. Numa empresa, particularmente naquelas em que a produtividade do funcionário é acompanhada com atenção, a diminuição no rendimento abre espaço para que colegas e até “concorrentes” se destaquem mais. Quem fuma, normalmente precisa fazer pausas frequentemente para aliviar o vício. Essas pausas são percebidas pelos gestores que podem se incomodar com o excesso de tempo que o fumante fica fora do horário de trabalho. Para quem fuma, é difícil controlar essas pausas.

IFF/Fiocruz: Existem programas e, ou medicações no sistema público para parar de fumar?

Hisbello da Silva Campos: Sim, o Sistema Único de Saúde (SUS) dispõe de estrutura especializada em ajudar os fumantes a largar o cigarro. As Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde contam com uma Coordenação de Controle do Tabagismo. Os medicamentos disponibilizados pelo Ministério da Saúde para o tratamento do tabagismo na Rede do SUS são os seguintes: Terapia de Reposição de Nicotina, através do adesivo transdérmico, goma de mascar e pastilha, e o Cloridrato de Bupropiona.

IFF/Fiocruz: Além das campanhas contra o fumo que já são produzidas pelo sistema público, existem outras medidas que poderiam ser adotadas para melhorar essa conscientização? Quais?

Hisbello da Silva Campos: Além da legislação específica, que proíbe o fumo em locais públicos e a publicidade, o aumento significativo do preço do maço de cigarros é um fator relevante na decisão de parar de fumar. Paralelamente, os currículos escolares deveriam incluir informações sobre os malefícios gerados pelo fumo desde o pré-escolar. Conscientizar a criança e o jovem para não começar a fumar é mais efetivo e exequível que convencer o fumante a deixar o cigarro.

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