Pesquisadores estudam as relações entre Aids e hanseníase

Publicado em
Catarina Chagas
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Entre os trabalhos a serem apresentados no 2º Congresso da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) sobre DST/Aids, no Rio de Janeiro, de 14 a 17 de abril, está o de especialistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz que avaliam casos de co-infecção entre o HIV, vírus causador da Aids, e o bacilo Mycobacterium leprae, causador da hanseníase. Os estudos, realizados com pacientes do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), também da Fiocruz, apontam que, embora a infecção por HIV não pareça agravar o quadro de hanseníase, o tratamento anti-retroviral usado para combatê-la pode gerar reações nos pacientes co-infectados.


O primeiro painel apresenta estudo de caso com paciente diagnosticado com HIV em julho de 2005 e que, após tratamento, começou a apresentar sintomas de hanseníase, como edema de mãos e pés, febre e lesões no corpo. “O aumento da imunidade por causa da terapia anti-retroviral levou a uma reação do organismo, sob a forma de inflamação aguda”, conta Anna Maria Salles, do Laboratório de Hanseníase do IOC, uma das responsáveis pelo trabalho.


Em estudo complementar, os pesquisadores relacionam esses episódios reacionais em pacientes com hanseníase – como o do paciente do primeiro trabalho – à síndrome de recuperação imune do HIV, um quadro de febre, mal estar e inflamação nos gânglios que pode acometer pacientes sob tratamento com anti-retrovirais. “Quando submetidos aos medicamentos, os pacientes têm seu sistema imunológico alterado, o que pode levar a este tipo de manifestação clínica”, justifica Anna Maria.


Foram incluídos no estudo todos os pacientes do Ipec co-infectados e que apresentaram reação relacionada à hanseníase até seis meses após o início da terapia anti-retroviral contra o HIV, período em que a carga viral é reduzida por causa do tratamento. Todos os pacientes apresentaram reação num período de, em média, seis semanas após o início da terapia.


O trabalho, que constitui a maior série de casos de síndrome de reação imune em pacientes co-infectados por HIV e M. leprae já descrita na literatura, aponta que o início da terapia anti-retroviral pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de estados reacionais em portadores de hanseníase.