15/12/2022
Wagner Oliveira (VídeoSaúde Distribuidora Fiocruz)
A Plataforma de Filmes em Acesso Aberto VideoSaúde Fiocruz, que reúne uma ampla diversidade de obras sobre temas de saúde coletiva e ciência e tecnologia, de documentários a dramas, passando por animações, oriundas do acervo institucional da Fiocruz e de parceiros externos, chega a 200 obras audiovisuais neste mês de dezembro de 2022. Para marcar a data, a VideoSaúde estreia na Plataforma o documentário Travessias, produzido pelo Projeto Educação através das Imagens da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em colaboração com a VideoSaúde.
Dirigido pelo documentarista Beto Novaes, Travessias trata de questão central nas relações entre saúde, ambiente e desenvolvimento sustentável. O Brasil é o segundo maior produtor de fumo no mundo. 96% da produção se concentra nos estados do sul do país. A partir deste cenário, produtores familiares da região compartilham as dificuldades do cultivo do fumo, a falta de retorno financeiro, o impacto do agrotóxico na vida e no ambiente. O filme retrata recomeços e mudanças em torno das famílias por meio da agroecologia que trouxe uma alternativa mais segura e saudável para a população.
Catálogo diversificado
Depois de um ano do seu lançamento, em outubro de 2021, a Plataforma segue crescendo em número de títulos e na variedade de temas sobre saúde e ciência. Há filmes para todos os gostos, públicos e aplicações. Histórias de entregadores e motoristas de aplicativos, narrativas a respeito de vivências durante a pandemia de Covid-19, cinebiografias de cientistas e profissionais da saúde, sobre a presença das mulheres na ciência, histórias de povos indígenas, de agentes de saúde no campo e de moradores do entorno de barragens de mineração.
De acordo com a VideoSaúde, o desenvolvimento da plataforma representa uma série de acúmulos e reflexões, seja pela observação de demandas que o setor recebeu do público, de como os filmes foram visualizados e comentados no YouTube ou em redes sociais, de apontamentos de parceiros exibidores do acervo institucional. Mais que isso, na visão dos organizadores: o campo do audiovisual passa por profundas modificações, principalmente nas formas de distribuição e capilarização de acervos por meio da internet. E a Plataforma, completa a VideoSaúde, procura trabalhar esses aspectos como desafios para a comunicação pública.
Os filmes, para a VideoSaúde, ampliam a oferta de conteúdos audiovisuais pela Fiocruz, visando a circulação de informações e os debates qualificados, que retratem distintas realidades regionais, territoriais, de profissionais e de populações no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS) e dos desafios dos campos da ciência e da tecnologia.
Acessibilidade e legendas em seis idiomas
A Plataforma foi lançada em outubro de 2021, contando inicialmente com 115 filmes sobre diferentes temas dos campos da saúde e da ciência. De biografias e animações a direitos humanos e doenças negligenciadas. De história da ciência e da saúde a saúde da mulher e da criança, entre outros temas associados às determinações sociais da saúde. Também apresenta 60 versões das produções com recursos de tradução em Libras e audiodescrição. Oferece, ainda, filmes com legendas em cinco diferentes línguas além do português.
São produções próprias ou realizadas em parcerias, ou de instituições e realizadores parceiros que integram o acervo da VideoSaúde. O projeto também foi concebido numa perspectiva de comunicação integrada, onde cada filme aponta links para outros conteúdos da Fiocruz, principalmente da Editora Fiocruz, Canal Saúde, revista Radis, Portal Fiocruz e Agência Fiocruz de Notícias.
De acordo com a equipe da VideoSaúde, o projeto da plataforma tem um perfil experimental, onde a disponibilização do acervo e o contato com o público servirão para aprimoramento e de ausculta permanente. A pandemia, segundo a VideoSaúde, fez crescer ainda mais o interesse e a procura por audiovisuais, seja para ações de educação ou treinamento, ou por temas de saúde e ciência. Presente há quase dez anos no YouTube, o setor conta com filmes com mais de um milhão de visualizações e centenas de comentários nessa plataforma. Também vem se destacando por filmes de seu acervo alcançarem seleções em festivais e mostras de cinema e audiovisual, no Brasil e exterior.
Em 2023, a equipe da VideoSaúde trabalhará para ampliar o acervo disponível e para reforçar o posicionamento da Plataforma como um espaço de exibição, circulação, disponibilização de filmes sobre saúde e ciência, de toda a Fiocruz e de distintos agentes do SUS, e ainda como espaço de associação com os campos da educação e o ensino.
Produção brasileira de distintas as regiões e coletivos
Entre os filmes que integram o projeto, há também aqueles produzidos por cineastas convidados. De Maria Lutterbarch, que já participou de sessão do Núcleo de Estudos Audiovisual e Saúde (Neavs/VSD), há dois documentários sobre a participação das mulheres na ciência. Beth Formaggini, consagrada e premiada professora e pesquisadora, vem com a pequena pérola Ar, um microcurta que traz a visão da cineasta, internada com Covid-19, em uma cama de hospital.
Neste contexto, destaque para o premiado documentário no Brasil e exterior O índio cor de rosa contra a fera invisível: a peleja de Noel Nutels, que integra o Catálogo do selo Fiocruz Vídeo. Belo e lírico resgate do pensamento de Noel Nutels sobre os povos originários brasileiros.
Covid-19 e Reforma Psiquiátrica
A plataforma de filmes oferece, ainda, vários títulos que levantam reflexões sobre a pandemia de Covid-19. A série Trajetos e Trajetórias Invisíveis na Cidade, da Escola Politécnica da Fiocruz, apresenta diálogos com entregadores e motoristas de aplicativos sobre o cotidiano, a saúde, a segurança e os processos de organização coletiva desses trabalhadores. Em Saúde sem máscara e em Na linha de frente, trabalhadores do SUS relatam as suas difíceis condições de enfrentamento à pandemia, além de revelar os desafios diários enfrentados por enfermeiros, técnicos e auxiliares, como a falta de recursos, jornadas extensas e baixa remuneração.
Duas outras séries comparecem com histórias sobre a Reforma Psiquiátrica Brasileira e a respeito de realidades territoriais. Em Retratos da Reforma Sanitária, as câmeras viajam para três cidades brasileiras para olhar a trajetória de ex-internos do sistema psiquiátrico que narram suas histórias e recriam suas vidas em liberdade. Os curtas-metragens de Campos, Águas e Florestas, produção da VideoSaúde, dá visibilidade à forma como profissionais de saúde utilizam para prevenção de doenças, promoção da saúde e para a melhoria na qualidade de vida da população nesses territórios.
Humor
Conferência sinistra agrega drama com muito humor ao Catálogo da Plataforma. O roteiro original, segundo os produtores, traz uma conversa macabra, bem-humorada, e com crítica social entre as doenças que assolavam cidades brasileiras no início do século 20: febre amarela, peste bubônica, varíola. Qualquer semelhança com os tempos de atual pandemia de Covid-19, assinalam os produtores, não é mera coincidência.
Já os dois filmes do projeto Mestres e Ofícios, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), visam a registrar e divulgar o universo dos ofícios tradicionais que permeiam o patrimônio cultural brasileiro. Seu principal objetivo é reavivar as práticas e os saberes construtivos e artísticos tradicionais de forma a colaborar para sua preservação e para a conservação do patrimônio cultural material.
A Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) compõe a sua participação na Plataforma com dois filmes: um sobre saúde e patrimônio de populações indígenas, outro sobre desastres da mineração. Em MBORAIHU, por meio de um olhar sensível e abordagem etnográfica, o filme retrata a realidade dos povos Guarani e Kaiowá que vivem na região conhecida como Cone Sul. O documentário Vidas suspensas, fruto de projeto de pesquisa, teve como objetivo “construir uma narrativa que considerasse a complexidade dos rompimentos de barragens, a partir da visão dos atingidos por ela".
Da Fiocruz Brasília, vem o recém-lançado Vigilância Popular do Campo, que narra a experiência do curso de Agentes Populares de Saúde do Campo no Ceará. Um atento e potente relato da presença dos trabalhadores do SUS no interior do Brasil.