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28/07/2020

Plataforma 'Saúde Mental em Casa' promove humanização

Nathállia Gameiro (Fiocruz Brasília)


Na última sexta-feira (24/7), foi lançado o Saúde Mental em Casa, realizado pelo Movimento Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim, de Fortaleza, com apoio da Fiocruz. O projeto surgiu com a proposta de ocupar os espaços virtuais com informações e atividades gratuitas para promover um local de cuidado e afeto, e humanizar as experiências mediadas pela tecnologia, especialmente diante do distanciamento social (principal medida protetiva contra a pandemia do novo coronavírus) e dos sentimentos que esse isolamento pode trazer para as pessoas.

A plataforma virtual oferece conteúdo para diversos públicos. Podcasts, lives, meditação guiada, sessão de vídeos sobre temas como ansiedade, depressão, prevenção ao suicídio e transtornos alimentares, atendimento online orientado pela inteligência artificial Marisol, artigos, estatísticas e outros conteúdos de saúde mental para as pessoas que precisam de apoio psicológico, além de 14 grupos terapêuticos.

“As diversas atividades são uma oportunidade para cuidar das várias manifestações clínicas de transtornos como ansiedade, depressão, dependência química, entre outros, e prevenir o desenvolvimento do transtorno pós-traumático de estresse”, afirmou o presidente do Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim, Padre Rino Bonvini.

O psiquiatra destacou que a plataforma é uma nova maneira de chegar às pessoas com base no afeto e no acolhimento, e transformar o medo social e o luto neste momento tão difícil. Ele explicou como o Movimento Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim surgiu, com a criação de espaços de escuta e de acompanhamento terapêutico para famílias em situação de risco que viviam em condição de extrema pobreza. “A experiência nasceu na comunidade, com a comunidade e para a comunidade. O processo de escuta integra os grupos vulneráveis que não podem acessar grupos terapêuticos caríssimos”, lembrou, ao explicar que o projeto oferece atendimento psicológico para os moradores da regional 5, região com o menor Índice de Desenvolvimento Humano de Fortaleza, que abrange os bairros: Aracapé, Bom Jardim, Canindezinho, Conjunto Ceará I e II, Conjunto Esperança, Genibaú, Granja Lisboa, Granja Portugal, Jardim Cearense, Maraponga, Mondubim, Parque Santa Rosa, Parque São José, Planalto Ayrton Senna, Prefeito José Walter, Presidente Vargas, Siqueira e Vila Manoel Sátiro.

Os atendimentos a essa população serão feitos por agendamento na plataforma e podem ser online ou por telefone, para os que não têm acesso à internet. Além disso, eles receberão conteúdos que auxiliem o cuidado com a saúde mental em meio à pandemia.

Para a coordenadora do projeto Saúde Mental em Casa, Isabel Viana, é muito importante pensar em ações inclusivas e diversas que garantam atenção e cuidado digno a toda a população, especialmente a grupos vulneráveis, que “não têm acesso gratuito a atendimentos ou outra forma de cuidado psicológico”. Isabel destacou a atuação da Fiocruz na saúde, ciência e tecnologia do país e no combate a epidemias.

O lançamento do projeto contou com a participação da psicóloga e diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio. “Partimos do conceito ampliado de saúde, reconhecendo a saúde como vida. Em 2020, a Fundação completou 120 anos de ação fortalecendo o Sistema Único de Saúde (SUS) e promovendo saúde pública. Ela cumpre seu destino histórico de enfrentamento a epidemias, com a prioridade de trabalhar com as populações vulnerabilizadas”, afirmou.

O projeto Saúde Mental em Casa foi contemplado no edital da Fiocruz Covid-19: Chamada Pública para Apoio a Ações Emergenciais Junto a Populações Vulneráveis, com foco em cinco áreas: segurança alimentar, comunicação, saúde mental, assistência específica a grupos de risco e ações que facilitem o cumprimento das medidas de afastamento social e higiene pessoal e coletiva anunciadas pelas autoridades públicas.

De acordo com Fabiana, ao todo, foram enviados 837 projetos. Destes, 145 iniciativas dos 26 estados e do Distrito Federal foram aprovadas, em vez de apenas 20, como planejado inicialmente, um aumento possível graças às doações recebidas pela Fiocruz. Com o tema saúde mental, foram enviados 248 projetos e 28 foram contemplados. Ela reforçou que o edital buscou frear o novo coronavírus considerando a realidade das comunidades e garantir condições dignas para as famílias. “O distanciamento social foi a primeira estratégia pensada para evitar a contaminação, mas o isolamento traz consequências, especialmente em um país que tem desigualdades sociais históricas. Por isso, precisamos pensar em saúde de forma inclusiva e abrangente, garantir a escuta das necessidades e apoiar projetos em curso ou sendo construídos por instituições sociais”, disse.

Para a psicóloga, o projeto Saúde Mental em Casa construiu uma dinâmica terapêutica que faz as pessoas se sentirem verdadeiramente acolhidas, identificando as melhores ferramentas, possibilidade de interação e um espaço receptivo, humanizando o atendimento e promovendo a vida e a saúde integral.

“Não sabemos quanto tempo a pandemia vai durar e as consequências psicológicas duram ainda mais tempo. São muitos medos de infecção de familiares, medidas de proteção, violência doméstica e vários outros fatores que precisamos observar com cuidado. Coloca-se um novo desafio para todos os trabalhadores da saúde”, ressaltou.

Fabiana afirmou que, mesmo diante de um cenário tão difícil, vê a oportunidade de se construir uma grande rede de experiências de cuidados psicossocial, com atividades e informações que garantam acesso e cuidado ampliado às pessoas. “O cuidado mútuo é importante. Cuidar de mim é cuidar do outro também. Que mesmo diante de tantos desafios que temos que enfrentar, possamos reconhecer as fragilidades e potencialidades neste período, de modo a assegura acesso e condições dignas de cuidado para toda a população”, finalizou.

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