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11/11/2024

Queimadas e ondas de calor demandam atuação a partir da Saúde Única

Thayssa Maluff (Fiocruz Mato Grosso do Sul)


O Brasil enfrenta, em 2024, uma das mais intensas ondas de calor já registradas, somada a uma devastadora temporada de queimadas que afeta principalmente as regiões da Amazônia e do Pantanal. Esses fenômenos, além de alarmantes para a preservação ambiental, têm repercussões diretas na saúde pública. A Fiocruz, por meio de seus especialistas, alerta para a gravidade da situação, destacando a necessidade de um olhar integrado, conhecido como Saúde Única, que entende a saúde humana, animal, vegetal e ambiental como interdependentes.

As queimadas não afetam apenas o ambiente e a qualidade do ar, mas também intensificam a crise climática (Imagem: Ministério da Saúde)

 

Pesquisador da Fiocruz Mato Grosso do Sul, Eduardo de Castro Ferreira destaca que os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde pública são cada vez mais evidentes. As altas temperaturas, associadas à fumaça das queimadas, aumentam a incidência de doenças respiratórias, como asma e bronquite, além de agravar condições preexistentes em grupos vulneráveis, como crianças e idosos, além da possibilidade de intoxicação pelos componentes presentes nessa fumaça. “A qualidade do ar se deteriora gravemente em regiões atingidas pelas queimadas, e isso tem consequências sérias para a saúde das populações locais. A exposição prolongada à fumaça pode causar danos permanentes à saúde respiratória e do coração, além de alterações do estado de consciência, variando entre fraqueza, sonolência e até desmaio”, explica o Ferreira.

As queimadas não afetam apenas o ambiente e a qualidade do ar, mas também intensificam a crise climática, que, por sua vez, está diretamente ligada ao surgimento e à proliferação de doenças. O aumento das temperaturas e a alteração no regime de chuvas favorecem a propagação de vetores de doenças tropicais, como o mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão de dengue, zika e chikungunya. 

O conceito de Saúde Única adotado pela Fiocruz e reconhecido por instituições internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH), propõe que a saúde humana não pode ser vista isoladamente, mas em conjunto com a saúde animal, vegetal e ambiental. A degradação dos ecossistemas, como ocorre com as queimadas no Pantanal e na Amazônia, aumenta o risco de zoonoses — doenças transmitidas entre animais e humanos. Ferreira destaca que a destruição desses ecossistemas empurra animais silvestres para mais perto de áreas urbanas, elevando o risco de contato com humanos e, consequentemente, a possibilidade de transmissão e o surgimento de novas doenças. 

Para o pesquisador, a aplicação do conceito de Saúde Única no Brasil é fundamental para que se compreendam e se enfrentem os desafios que as mudanças climáticas estão trazendo para a saúde pública. Ele ressalta a necessidade de políticas públicas que integrem questões ambientais e de saúde, promovendo ações coordenadas para preservar os ecossistemas e proteger a saúde das populações mais vulneráveis. "Sem uma abordagem integrada, continuaremos a enfrentar crises de saúde pública associadas às transformações climáticas, com consequências cada vez mais graves para a sociedade", conclui o especialista.

Diante desse cenário, o especialista da Fiocruz reforça a importância de um debate mais amplo sobre as interações entre mudanças climáticas e saúde, defendendo que a prevenção e a mitigação dos danos causados por esses fenômenos devem ser prioritárias na agenda pública do país.

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