04/08/2017
Na revista Radis edição n°179 de agosto de 2017, disponível on-line, o repórter Luiz Felipe Stevanim, pai há quatro meses de João Miguel, foi o responsável pela matéria de capa da publicação, que, no mês de comemoração do Dia dos Pais, debate como as relações de paternidade podem ser transformadoras para o homem, os filhos e a sociedade. Ele conversou com outros pais que cuidam dos pequenos e sobre participação no pré-natal, acompanhamento do parto, licença paternidade, apoio para a mãe na amamentação, expectativas, descobertas e aprendizados na convivência diária com as crianças. “É um direito da criança ter ambos os pais envolvidos no seu desenvolvimento”. É o que defende Viviane Castello Branco, médica pediatra e mestre em Saúde Coletiva, coordenadora do Comitê Vida, criado no Rio de Janeiro em 2001 a fim de promover políticas públicas voltadas para saúde e direitos reprodutivos. “O que a gente vem tentando discutir é como a política pública pode contribuir para que o homem tenha mais envolvimento nas ações de cuidado. Às vezes, ele participa de uma forma mais tradicional, apenas como provedor da família”, explica Viviane.
A reportagem considera que o vínculo do pai deve ir além daquela figura de autoridade do lar, que apenas provê o sustento. “O que essa proposta busca valorizar é que o pai tenha uma participação mais afetiva, que se envolva nas coisas concretas da vida, como dar banho, acordar à noite, levar à escola, conversar, ler um livro e ter preocupação com os sentimentos dos filhos”, explica a pediatra Viviane. Segundo ela, quando o homem se permite mergulhar um pouco mais no universo doméstico, ele também passa a entrar mais em contato com suas emoções e sentimentos e também se torna um exemplo melhor para os filhos. “Ele liberta a menina para ser o que ela quiser e educa o menino, por meio do exemplo, para ele fazer o mesmo no futuro”, reflete.
De acordo com a matéria da Radis, a participação do homem no pré-natal ajuda a melhorar as condições de saúde da mãe, do bebê e do próprio pai. Por essa razão, o Pré-Natal do Parceiro é considerado uma estratégia da Paternidade e Cuidado, um dos eixos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem - que completa 10 anos em 2018. “A partir do momento que está envolvido no pré-natal, ele começa a ajudar na alimentação da mulher, a entender o que tem que fazer para cuidar da criança, que ele não pode fumar dentro de casa; isso vai mergulhando o homem no universo do cuidado com a saúde, que é tradicionalmente mais feminino”, pontua Viviane.
Ainda assim, a maioria dos profissionais de saúde que realizam as consultas de pré-natal focam suas orientações principalmente na gestante. Esse é um dado da pesquisa Saúde do Homem, Paternidade e Cuidado no Brasil, de 2017, realizada pelo Ministério da Saúde com homens ou cuidadores que assumiram a figura paterna e acompanharam o pré-natal, parto e pós-parto de crianças nascidas no SUS. A pesquisa revela que mais da metade dos homens (56,8%) diz que o foco do pré-natal é apenas a gestante, o que mostra a invisibilidade do pai, mesmo quando ele está presente. Outro dado importante é que 4 de cada 5 homens pesquisados não participaram de nenhuma palestra, roda de conversa ou curso sobre cuidados com o bebê durante o pré-natal, nem tiveram exames de rotina solicitados.
Os dados também apontam para a ausência do pai nesse momento da gestação e do parto, segundo a Radis. Um de cada quatro homens pesquisados não esteve ao lado de sua parceira nas consultas de pré-natal. O principal motivo foi que precisavam trabalhar (78,6%). Também cerca de um em cada três pais não acompanhou o nascimento do seu filho. Um dado alarmante é o principal motivo alegado: quase um terço (31,8%) disse que o serviço não consentiu acompanhante, o que contraria a Lei n.11.108, de 2005. Conhecida como Lei do Acompanhante, ela determina que hospitais e maternidades são obrigados a permitir a presença de um acompanhante indicado pela gestante em todas as etapas da gestação, no parto e no pós-parto.