Início do conteúdo

11/07/2023

Reciis aborda Inteligência Artificial e práticas de arquivamento na saúde

Roberto Abib (Reciis/Icict/Fiocruz)


O segundo número da Reciis de 2023 propõe refletir sobre os potenciais da inteligência artificial na saúde pública numa perspectiva além das leituras salvacionistas e apocalípticas. O número também é composto pelo dossiê Arquivo, memória e saúde, o qual reúne artigos originais que lançam olhares críticos às políticas, processos e práticas de arquivamento relacionados a documentos que versam sobre a saúde, além dos textos submetidos em fluxo contínuo. A Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde (Reciis) é editada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).

Em Nota de Conjuntura, Fernanda Bruno, Paula Cardoso Pereira e Paulo Faltay indagam: “de que modo os últimos acontecimentos no campo da pesquisa, desenvolvimento e discussão em torno da Inteligência Artificial nos interpelam e nos convocam a pensar? Que questões precisam ser colocadas e que estamos perdendo de vista?”. Na resposta dos questionamentos, autoras e autor ressituam na análise as narrativas de que a Inteligência Artificial (IA) tornará o humano obsoleto, não ocupando mais o seu lugar central constituído desde a modernidade ocidental, pois a questão a ser pensada é como essa relação entre máquinas e humanos transformará o que somos e o que historicamente nós entendemos como humano.  

Outro aspecto a ser deslocado são as previsões futuras e apocalípticas que desviam a discussão sobre os efeitos reais já existentes no passado e no presente com a IA, os quais atingem as populações historicamente marginalizadas: pretas, periféricas e pobres. Nesse sentido, propõem pensar a IA voltada ao cuidado e a saúde da população com atenção a supervalorizar os benefícios e/ou subestimar seus riscos a partir de três questões principais: “discriminações reproduzidas e amplificadas por estas tecnologias, potenciais perigos à segurança dos pacientes e do meio ambiente e coleta e uso antiético de dados sensíveis e de saúde”. 

Salvar, gravar e arquivar

Conforme os editores convidados do dossiê Arquivo, memória e saúde, Igor Sacramento, Luciana Heyman e Ana Paula Goulart, ao longo do século 20 as fronteiras entre arquivo e o cotidiano são porosas diante das tecnologias de gravação e armazenamento digital, pois ‘salvar’, ‘gravar’ e ‘memória’ são palavras-chave do nosso presente. Nesse sentido, pensar sobre o arquivo e na ação de ‘arquivar’ envolve refletir sobre os silêncios, os esquecimentos, os apagamentos e as invisibilidades que constituem os fundos arquivísticos. 

Os artigos originais reunidos neste dossiê trazem perspectivas críticas sobre as políticas de arquivamento no âmbito da saúde e no contexto da cultura digital. O dossiê abre com o texto bilíngue de Agnès Magnien, Inspetora Geral de Assuntos Culturais do Ministério da Cultura da França, que discute políticas contraditórias nas práticas de arquivamento: a produção massiva e o acesso aberto; e a destruição e a restrição de acesso. Para a pesquisadora o arquivo é lugar do visível e do invisível das sociedades.

Na sequência, Luciana de Almeida Cunha, Franceli Guaraldo e Priscila Ferreira Perazzo exploram como a pandemia da Covid-19 gerou aumento de repositórios de dados digitais que registram a memória e a história de vida de pessoas sobre a pandemia. Ainda na temática sobre arquivos e pandemias, Marcela Barbosa Lins e Ângela Cristina Salgueiro Marques promovem um exercício crítico e criativo de análise dos registros de arquivo da febre amarela e gripe espanhola, no acervo da Fiocruz, da Biblioteca Nacional e do Arquivo Nacional, observando as tensões entre a catástrofe e a melancolia dos eventos arquivados. Por fim, Andrea Cristiana Santos e Jônatas Pereira do Nascimento Rosa analisam a produção da jornalista Eliane Brum como uma operação de memória a respeito dos impactos da pandemia de covid-19 e das violações ao direito à saúde do povo Yanomami.

Arquivo marginal

Na seção Entrevista, Viviane Trindade Borges conta sobre sua trajetória acadêmica norteada pelo estudo das práticas, histórias de vida e experiências em instituições de internamento/confinamento – como manicômios, leprosários e prisões – com base em arquivos institucionais. Para a pesquisadora, os documentos provenientes desses lugares “de sequestro”, como se refere Foucault a essas instituições, dizem respeito a memórias não reivindicadas e a eventos controversos marcados por traumas e violações de direitos humanos. A entrevistada comenta sobre o seu entendimento do conceito de arquivo marginal e a importância da comunicação histórica que permite ativar memórias, interagir e elaborar visões sobre o passado que ainda reverberam no presente.

O número conta ainda com a resenha de Daniela Muzi na qual analisa o documentário Quando falta o ar, de Ana Petta e Helena Petta (Brasil, 2021). Para a autora, o filme é uma homenagem aos profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) que resistiram e enfrentaram a pandemia e também um convite para os brasileiros conhecerem a importância e a capilaridade do sistema público de saúde do Brasil. Em editorial, os editores científicos Christovam Barcellos, Kizi Mendonça de Araújo e Igor Sacramento mapeiam a história da política editorial da Reciis a partir das suas seções.  

Por meio de submissão em fluxo contínuo, este número apresenta ainda artigos originais que versam sobre a relação entre saúde, comunicação e informação, por exemplo, por meio de análise de pronunciamentos contra vacinação, e de análise de estratégias digitais para ampliar a presença de canais institucionais on-line de ciência no Brasil. Indicadores de mortalidade, morbidade e acesso ao diagnóstico são analisados tendo como principal fonte de informação o Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de Políticas do Idoso (Sisap-Idoso).

Voltar ao topo Voltar