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31/07/2017

Rede Global de BLH: modelo brasileiro auxilia mais de 17 milhões de mulheres

Renata Moehlecke (Agência Fiocruz de Notícias)


O impacto positivo para a saúde materno infantil das ações da Rede de Bancos de Leite Humano no Brasil chamou atenção de outros países. Hoje, após pouco mais de uma década de cooperações bilaterais e multilateral, a Fiocruz, em conjunto com a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e o Ministério da Saúde, colabora com 23 nações, 18 da América Latina, duas da Península Ibérica e três da África, na chamada Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH). Ao todo, já são mais de 300 Bancos de Leite Humano (BLHs) baseados no modelo brasileiro em funcionamento pelo mundo e mais de 17 milhões de mulheres assistidas em aleitamento materno. Os dois parceiros mais recentes da Rede Global são Angola e Moçambique. 

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“Com Angola, estamos montando um projeto conjunto de estruturação do primeiro Banco de Leite Humano. Agora, vamos começar o processo de qualificação de recursos humanos para garantir seu funcionamento”, destacou o coordenador técnico da Secretaria Executiva do Programa Iberoamericano de Bancos de Leite Humano (IberBLH), Alejandro Rabuffetti. “No caso de Moçambique, já estamos em estágio um pouco mais avançado de construção de um Banco de Leite Humano no Hospital Central de Maputo”. 

De acordo com Rabuffetti, o trabalho com os países africanos já tem apresentado frutos bastante positivos. “Em Cabo Verde, em menos de um ano de funcionamento, o hospital Agostinho Neto com o Banco de Leite Humano integrado apresentou 55% de diminuição da mortalidade na uti neonatal”, comentou o coordenador.  

O reconhecimento internacional do modelo brasileiro de Banco de Leite Humano data do início dos anos 2000. Durante a 54ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada em 2001, a Organização Mundial da Saúde (OMS) concedeu à Rede Brasileira o Prêmio Sasakawa de Saúde, por ser uma das iniciativas que mais contribuíram para a redução da morbimortalidade infantil na década de 90 em todo o mundo. Em 2003, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) demandou as primeiras ações de cooperação com os países da América Latina para a implantação e implementação de BLHs. No entanto, foi a partir de 2005 que teve início o processo de articulação interinstitucional entre a ABC, ligada ao Ministério das Relações Exteriores, a Assessoria Internacional (Aisa) e a Coordenação Geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno, ambas do Ministério da Saúde, e a Fiocruz, que permitiu levar a experiência brasileira para outros países, por meio de projetos de cooperação técnica bilateral.

Os primeiros projetos oficiais de cooperação bilateral foram assinados logo depois, em 2006, quando a Fiocruz já tinha auxiliado a implementação de dois BLHs na América Latina, um na Venezuela, em 1996, e outro no Uruguai, em 2004. As articulações entre os países levaram à criação, em 2007, do Programa Iberoamericano de Banco de Leite Humano, cuja Secretaria Executiva, responsável pela execução e condução do Programa, está instalada no Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), em uma ação interunidades com o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). 

O marco para o estabelecimento de uma Rede Global ocorreu em 2015, com a assinatura da Carta de Brasília III por 20 países, organizações internacionais e não-governamentais, durante o 2º Fórum de Cooperação Internacional em Bancos de Leite Humano. “A Carta estabeleceu as diretrizes do trabalho da Rede, que passou a estar oficialmente alinhada com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU. Consta no documento que os países reconhecem a Rede como uma aliança global para o enfrentamento de três dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, explicou a consultora técnico-científica da Rede, Virginia Gonzalez. “Um desses três ODS tem ligação direta com o tema da Semana Mundial do Aleitamento Materno 2017: ‘trabalhar juntos para o bem comum’”. 

Rede Global de BLH

“A Rede Global funciona como uma família: todos em prol de um bem comum. É uma verdadeira rede de proteção à vida”, apontou Rabuffetti. Com essa premissa, ele complementa que o grande diferencial do modelo brasileiro é que os BLHs são casas de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno. “Não importa em que país você está: a proposta é que as mães recebam o auxílio necessário e possam sair dessas casas amamentando seus filhos”, esclareceu. De 2009 a 2016, a Rede Global contou com mais de 1,8 milhão de doadoras. Foram coletados mais 1,5 milhão de litros de leite e quase 1,9 milhão de recém-nascidos foram beneficiados. 

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“É importante ressaltar que a cooperação horizontal hoje praticada pela Rede Global respeita a realidade local e apresenta os princípios do modelo brasileiro adaptados ao país em que esses estão sendo aplicados”, afirmou Virgínia. “Os países se apropriam do conhecimento e passam a operar, de forma autônoma e segura, sem depender do Brasil”.    

O processo de aprendizado não ocorre apenas na via do Brasil para outros países, mas constitui uma troca de experiências entre todos os envolvidos. “Observamos que cada país apresenta uma realidade e tem uma solução para algo que a gente nunca experienciou. Em El Salvador, por exemplo, estão criando um novo sistema de informação com novas operacionalidades, que podem servir de base para aprimorarmos o sistema brasileiro”, disse o coordenador de Ensino da Rede Global de BLH, Euclydes Arreguy. 
Para contribuir ainda mais para essa troca de experiências, a Rede Global tem investido em uma plataforma de ensino à distância e na utilização de novas tecnologias para a comunicação. “Todos os países têm acesso à mesma qualificação e aos mesmos conteúdos, oferecidos em português e espanhol, o que permite que um profissional em um BLH no México trabalhe da mesma forma que outro na Argentina, por exemplo”, explica Arreguy. “Também temos aproveitado novas tecnologias, como grupos de WhatsApp, Skype, dentre outras. O canal para o diálogo está sempre aberto”. 

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Dentre os diversos estágios de cooperações bilaterais em que os países se encontram (que vão de obras, instalação de equipamentos e qualificação de profissionais até a implementação do BLH), uma futura etapa em comum será a certificação gradual dos Bancos de Leite Humano no exterior, baseada no processo que já está em andamento nos BLHs no Brasil. “A nossa preocupação é criar mais uma oportunidade de melhorias e aprendizado continuo colaborando para a qualidade dos serviços e produtos oferecidos pelos BLHs em todo o mundo”, concluiu Rabuffetti.

Na Fiocruz

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