Antes da reconstituição de um caso, o Linha Direta escala um repórter para fazer o trabalho preliminar de apurar e reunir informações sobre o episódio criminal que será retratado. Com esse material, a produção e a direção do programa fazem a reconstituição do caso. O jornalista Fábio Lau, que trabalha no programa da TV Globo há nove anos, conversou com parentes, amigos e colegas de trabalho de Careli, entre eles o então presidente da Fiocruz, Carlos Morel. Abaixo, a entrevista que ele concedeu à Agência Fiocruz de Notícias (AFN).
AFN: Quais foram os principais fatores que pesaram na decisão da equipe de jornalismo do Linha Direta de fazer um programa sobre o caso Careli?
Fábio Lau: Trabalhei no caso à época do desaparecimento de Careli e fiquei impressionado com a truculência policial empregada e com a ineficiência do governo em chegar aos culpados. Daí a aguardar ansiosamente a possibilidade de retomar o caso. E acredito que o objetivo foi alcançado. Especialmente porque agora podemos saber o que levou a polícia à favela da Varginha e a razão de os policiais estarem convencidos de que Careli era um seqüestrador.
AFN: Durante a apuração, quais as maiores dificuldades encontradas?
Lau: Foi convencer aos atuais representantes da Varginha a garantir o acesso. O que acabei não conseguindo. Mas a negociação chegou a ser tensa em algum momento. No final prevaleceu o conselho do representante comunitário: “sabe o que é? Os garotos hoje não conheceram Careli. Não vêem importância alguma nisso...!” Lamentável.
AFN: Ao longo do trabalho de produção do episódio sobre o caso Careli, quais os momentos mais marcantes/ emocionantes?
Lau: Marcantes e emocionantes foram os depoimentos dos amigos. Os olhares daqueles que falavam em Careli eram ternos de amor, saudade, carinho, gratidão. Ele, Careli, era um amigo, um cavalheiro, um jovem idealista e apaixonado pela vida. Foi um grande prazer poder chegar mais próximo desse personagem carioca através desse trabalho.
AFN: A produção desse episódio teve alguma particularidade que chamasse a atenção? Qual?
Lau: O respeito que Careli despertava em todas as categorias profissionais. Do presidente ao contínuo, todos conheciam e adoravam Careli. E vi que isso ocorre ainda hoje. A Fiocruz é antes de tudo uma grande casa familiar. Trabalhar aí, ter acesso a este universo de conhecimento e saber é privilégio de poucos.
AFN: Quando o programa sobre o caso Careli for ao ar, que tipo de resposta vocês esperam despertar no telespectador?
Lau: Indignação. Chega de passividade para com a polícia e a criminalidade.