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04/07/2011

Revista 'Reciis' aborda imagem etnográfica no processo saúde-doença

Jamile Chequer


O segundo número do quinto volume da Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde (Reciis) aborda a temática “imagem etnográfica no processo saúde-doença”. A revista do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) traz, nesta edição, reflexão teórica sobre a utilização das imagens em pesquisa. A pesquisadora de memória social da UniRio Diana Pinto, em seu texto Análise do discurso, o uso de imagens e o campo da saúde: aspectos teórico-metodológicos,  apresenta as bases da análise do discurso a partir da sociolinguística interacional indicando três vocações teóricas que contribuíram para este tipo de abordagem: análise da conversação com Sacks, a etnografia da comunicação de Dell Hymes e Gumperz, e ainda a análise de enquadramento com Gregory Bateson e Goffman.



Em Filmar, dialogar e editar, o antropólogo Pedro Gradella, atuando no Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces/Fiocruz), aborda as relações entre a antropologia e o audiovisual como suporte a suas produções. Ele reflete sobre questionamentos e mudanças no campo da antropologia e sugere questões para se levar em conta ao buscar relações desse tipo. Em Comissão Rondon e a representação da identidade Paresí: um diálogo através de fotografias, a antropóloga Luciana Barbio discute o papel da fotografia na construção da identidade da sociedade indígena paresí. Por meio do discurso sobre um período histórico considerado ideal pelos indígenas – a Comissão Rondon – a pesquisa contrapõe a visão oficial do projeto ao discurso paresí sobre o tema.


O artigo Os diferentes usos do vídeo no cuidado à saúde materno-infantil, de Mariana Bteshe e de Carlos Estellita-Lins, origina-se de quase uma década de pesquisa no IFF/Fiocruz  e descreve e analisa os distintos modos de uso da imagem - fotografia, filme ou vídeo – já utilizados por clínicos e pesquisadores como ferramentas de pesquisa no âmbito da saúde mental infantil. No texto Sobre o poder de persuasão das imagens médicas, Rafaela Zorzanelli, do Instituto de Medicina Social da Uerj, analisa o poder de persuasão das imagens médicas a partir do uso das fotografias na medicina mental europeia no fim do século 19, e o das neuroimagens, no campo das neurociências contemporâneas, enfatizando problemas concernentes ao seu processo de produção.


Kátia Lerner, pesquisadora do Laces/Fiocruz, aborda no texto Regimes de imagem e poder simbólico: notas sobre algumas concepções de entrevista em disputa duas experiências norte-americanas de pesquisa  – o Arquivo Fortunoff (Yale) e o Instituto Fundação Shoah (USC) – que utilizaram a captura audiovisual como importante instrumento de coleta de dados, de forma a destacar a importância de se refletir sobre os regimes de imagem em pesquisa.


Em Usos da etnografia em mundos virtuais baseados na imagem, o designer Marcelo Vasconcellos, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (Icict/Fiocruz), e Inesita Soares de Araújo exploram as principais técnicas etnográficas aplicáveis ao meio online, discutindo as modificações necessárias para sua utilização em etnografias no campo dos jogos massivos online, denominados massively multiplayer online role-playing (MMORPGs).


No artigo Uma oficina para o audiovisual em saúde: relato de uma experiência, os protagonistas da VídeoSaúde Distribuidora Homero Teixeira de Carvalho e Tania Cristina Pereira dos Santos, detalham o surgimento da Oficina VideoSaúde – Da Ideia ao Argumento, promovida pela VídeoSaúde – Distribuidora da Fiocruz, na qual é abordado o processo de realização audiovisual em saúde, concentrando-se sobre o momento da concepção das propostas temáticas de produção.


Na seção das pesquisas em andamento, o texto O uso de audiovisual na construção compartilhada de conhecimento em saúde: uma experiência na emergência psiquiátrica, de Clarice Portugal e colaboradores sob orientação de Carlos Estellita-Lins, que integram o grupo de pesquisa de prevenção ao suicídio do Labcities, traz  reflexão inicial sobre uma investigação dedicada á exibição de videos em sala de espera clínica, destacando o local como espaço de educação e saúde e analisando suas características, seu processo, e efeitos observados.


Liandro Lindner e Elaine Kabarite, mestrandos do PPGICS, resenham o livro iconográfico Boticas & Pharmacias: uma história ilustrada da farmácia no Brasil, de Flávio Coelho Edler, historiador e pesquisador da COC/Fiocruz, que apresenta imagens da história da farmácia no Brasil, centrada na história do ofício e das práticas terapêuticas nos contextos sociais, culturais e históricos específicos.


A documentarista Flávia Corpas, doutoranda da PUC e Marcus André Vieira, escrevem sobre um raro documentário que trata da vida e obra de Artur Bispo do Rosário, célebre paciente da Colônia Juliano Moreira: Prisioneiro da Passagem, de 1982, dirigido pelo psicanalista e fotógrafo Hugo Denizart, cujas denúncias sobre maus tratos manicomiais foram importantes para a reforma psiquiátrica no Brasil. Paulo Giacomini, jornalista e mestrando do PPGICS, contribui com uma resenha sobre o filme Lixo extraordinário, dirigido por Lucy Walker, que mostra o trabalho do artista plástico Vik Muniz em um dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro.


A revista traz, também, uma homenagem ao trabalho da Reforma Psiquiátrica em torno de um sistema de saúde democrático e aberto ao sofrimento psíquico. Edvaldo Nabuco, pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/Fiocruz), presta homenagem a Doralice Araújo, criadora da TV Pinel. Verônica Miranda e Bianca Reis, mestrandas do PPGICS, entrevistaram com o então diretor do IPP no período da criação da TV Pinel, Ricardo Peret, que possibilitou a implantação desse importante projeto de imagem e saúde mental. Leia a Reciis.

Publicado em 1º/7/2011.

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