Pesquisadores do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco, detectaram quatro casos positivos de filariose em Salvador, entre indivíduos nativos. Isso indica que a área, até então considerada sob controle para a doença, parece apresentar transmissão da enfermidade que acomete aproximadamente 120 milhões de pessoas em 80 países. Os dados confrontam-se com os estudos realizados naquele estado, em 1976, mostrando que o município de Castro Alves seria o único foco importante da doença.
"Para comprovarmos que existe transmissão ativa na cidade e a sua real dimensão, precisamos dar continuidade à nossa investigação", explicou Zulma Medeiros, pesquisadora do Departamento de Parasitologia do CPqAM. Ela é assessora da área epidemiológica do trabalho de reavaliação de controle da doença que será desenvolvido pelo Serviço de Referência Nacional em Filariose do CPqAM com a Secretaria de Saúde da Bahia até o primeiro semestre de 2006.
O estudo de prevalência de infecção pela doença está sendo realizado entre jovens de 18 a 20 anos que se apresentaram ao serviço militar do Exército. Foram coletadas cerca de 6,4 mil lâminas para fazer o exame da gota espessa (que indica a infecção por filariose). A análise do material ainda não foi concluída.
Na reavaliação de áreas consideradas controladas, a literatura indica utilizar como população de estudo um grupo com maior risco de adquirir a doença. Pesquisas realizadas no Brasil mostram que a filariose atinge mais indivíduos do sexo masculino a partir dos 11 anos, quando comparados com o feminino.
Os indivíduos identificados como positivos para a infecção serão tratados e terão o perfil clínico avaliado, além de serem submetidos a exames complementares para a pesquisa e quantificação das microfilárias (forma larvária da filária, parasita causador da filariose), por meio da técnica de filtração em membrana de policarbonato, pesquisa antigênica com o cartão ICT e com o método Og4C3-Elisa, e ao exame ultra-sonográfico na bolsa escrotal.
De acordo com as áreas de origem dos indivíduos positivos, serão verificadas, ainda, as condições socioeconômicas e ambientais em que eles estão inseridos. Os residentes no mesmo domicílio dessas pessoas também serão submetidos à investigação.
Numa etapa posterior, será realizado um inquérito epidemiológico e entomológico nas áreas de origem dos casos positivos para averiguar, com esse conjunto de informações, se a filariose foi ou não controlada em Salvador.
O Ministério da Saúde deve reavaliar sete antigos focos de filariose considerados controlados no Brasil: Manaus, São Luís, Castro Alves (BA), Florianópolis, Barra de Laguna (SC), Ponta Grossa (PR) e Porto Alegre. A medida visa atender o objetivo proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de que a filariose seja uma doença potencialmente eliminável até 2020. O CPqAM já trabalha para comprovar que a transmissão da doença foi interrompida em Belém. A Região Metropolitana do Recife (RMR) e a cidade de Maceió permanecem como focos da endemia.