21/06/2013
Para melhorar a assistência às gestantes com suspeita de dengue, a Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro e a Fiocruz produziram o folder Dengue na gravidez 2013. O folder é a terceira edição de um protocolo de atendimento e manejo clínico das gestantes com dengue voltado para profissionais de saúde (clique nas imagens para vê-las em tamanho maior). Dez mil folderes estão sendo distribuídos em todas as unidades da rede pública de saúde que atendem gestantes, sejam unidades básicas ou hospitalares.De acordo com Tizuko Shiraiwa, médica sanitarista da área técnica de Saúde da Mulher, Criança e Adolescente da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, hoje pode-se afirmar que, de fato, as gestantes são mais vulneráveis a dengue. “Os cuidados são prioritariamente da prevenção e proteção em períodos epidêmicos e, no caso da doença, ser prontamente atendida e acompanhada de perto para que as medidas possam ser tomadas a tempo em caso de agravamento clínico”, diz.
Segundo Tizuko, durante a epidemia de dengue de 2002, o Comitê Estadual de Prevenção e Controle da Morte Materna e Perinatal observou a ocorrência de óbitos de gestantes, possivelmente atribuídas a dengue, nos hospitais estaduais Rocha Faria, em Campo Grande, e Azevedo Lima, em Niterói. Também foi observado um pico no coeficiente de mortalidade materna do estado devido à dengue. “Encontramos na ocasião um único artigo referindo-se a casos de aborto e morte materna em um grupo de gestantes que tinham tido a doença”, conta a médica, que preside o comitê.
Ela conta que a médica Christiane Ribeiro, do núcleo de Vigilância Hospitalar do Hospital Azevedo Lima, havia feito um levantamento sistemático dos casos e precisava que as maternidades enviassem as placentas das gestantes com dengue para estudo. Evidenciou-se na ocasião a pouca familiaridade dos profissionais que atendiam as gestantes em relação ao tema. Formou-se então um grupo técnico com a missão de elaborar um folder com orientações para o atendimento das gestantes com dengue. Na epidemia que se seguiu, a implantação de um polo de referência para o atendimento das gestantes com dengue no Hospital Municipal Fernando Magalhães, em São Cristóvão, possibilitou não só uma observação de um maior número de casos como o ganho de maior experiência no manejo clínico das pacientes.
De acordo com o médico Roger Rohloff, integrante do grupo técnico, o folder produzido em 2007 e amplamente difundido entre profissionais de saúde no estado continha a orientação de internação hospitalar para os casos do grupo B, com prova do laço positiva ou trombocitopenia. “Isso permitiu que nossa maior série de casos fosse depois observada no hospital”, explica. Ele lembra que, naquele primeiro folder, os membros do grupo de trabalho colocaram seus próprios telefones pessoais para poderem orientar os profissionais de saúde do estado, caso necessário. A segunda versão do folder, que permaneceu como referência para os profissionais da linha de frente, teve a contribuição da infectologista Patrícia Brasil, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz – instituição que apoiou a impressão de 10 mil exemplares desta terceira edição do folder.
Patrícia Brasil, a médica Rita Nogueira, também da Fiocruz, a professora Christiane Ribeiro, da UFF, e Roger Rohloff, que hoje representa a Sociedade de Medicina Intensiva do Rio de Janeiro, são pesquisadores que se destacam neste campo. Tizuko esclarece que a ideia da parceria entre a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro e a Fiocruz é que o grupo continue aprofundando os estudos da dengue na gravidez, mantendo-se em contato permanente com os profissionais dos serviços. Para ela, parcerias entre instituições de pesquisa e profissionais dos serviços podem ser muito bem sucedidas desde que haja a compreensão da necessidade de se resolver problemas que trazem sofrimento para a população. “A parceria contribui para qualificar o atendimento a população”, afirma.
Tizuko explica que a grávida precisa de uma observação mais rigorosa que outros pacientes pois apresenta maior risco tanto de fazer hiperhidratação quanto de evoluir para o choque, dependendo se está no primeiro, segundo ou terceiro trimestre de gestação e se apresentou sangramento devido a causas obstétricas, como no abortamento. “Parece que a gestante, principalmente no último trimestre, tem um fator protetor para o choque, que seria a hipervolemia que naturalmente ocorre durante a gestação”, afirma. Segundo ela, os sinais da dengue são semelhantes, porém a gestação pode causar confusão. “Por exemplo, uma mulher no terceiro trimestre com uma condição hipervolêmica natural desta fase pode apresentar hemoconcentração com valores mais baixos que os esperados”, explica.
Tizuko acha necessário aprofundar a pesquisa das doenças infecciosas na mulher, que biologicamente é diferente do homem, e que tem uma fisiologia própria, não só na gravidez. “Isso faz pensar que o curso das doenças na mulher deve ser diferente do curso das doenças no homem. E pensar também nas repercussões de sua condição de saúde sobre o feto”, diz. Para ela, é importante o esclarecimento para que haja um controle maior das medidas de prevenção onde existem grávidas e crianças, o que pode ser feito pelos agentes de saúde. “Também é da maior importância difundir e esclarecer o maior número possível de profissionais envolvidos com o atendimento das gestantes, organizar fóruns de debates e qualificar o atendimento das gestantes”, enfatiza.