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01/07/2020

Seminário debate Atenção Primária em Saúde contra a Covid-19

Fernanda Marques (Fiocruz Brasília), Thamiris Carvalho (Ensp/Fiocruz) e Amanda Sobreira (Fiocruz Ceará)


A Fiocruz realizou (24/6) a segunda e última parte do seminário online A Atenção Primária em Saúde no enfrentamento à Covid-19: a experiência da Fiocruz e os desafios para o fortalecimento do SUS. A atividade foi organizada pela Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), pela Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (Vpeic/Fiocruz) e pela Fiocruz Brasília. A íntegra deste segundo dia do seminário está disponível no YouTube da VideoSaúde:

A mesa de abertura do evento abordou As experiências educacionais da Fiocruz no âmbito da APS. “Este seminário se insere em um esforço coletivo e integrado da Fiocruz para o enfrentamento de uma crise que não é somente sanitária, mas também humanitária, com muitas vidas perdidas e os efeitos acentuados das imensas desigualdades socioeconômicas que existem em nosso país”, disse Cristiani Vieira Machado, vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz. Esse esforço está alinhado a três diretrizes institucionais e estratégicas da Fundação, que são a formação para o SUS e o sistema de ciência e tecnologia em saúde, a redução das desigualdades no campo da educação em saúde e a educação articulada à pesquisa, à geração do conhecimento e à cooperação. “A gente, muitas vezes, atrela a atividade de pesquisa à pós-graduação stricto sensu, mas o lato sensu também produz conhecimento – e muito conhecimento relevante. Nossos alunos das residências, cursos de especialização e cursos técnicos produzem muito conhecimento. São sujeitos de prática que estão na ponta dos serviços, na interface direta com a população. Nós não conheceríamos tão bem o SUS se não fossem esses nossos alunos”, afirmou a vice-presidente, lembrando, em especial, os mestrandos, residentes, técnicos, agentes comunitários e demais profissionais de saúde que têm atuado na atenção primária nesta pandemia.

“Este evento apresenta um retrato das experiências educacionais realizadas em todo o Brasil, das mais tradicionais às mais recentes, denotando a potência de ação formativa da Fiocruz e sua unicidade a partir da diversidade, considerando os aspectos culturais, sociais e históricos de cada território”, afirmou Fabiana Damásio, diretora da Fiocruz Brasília, na abertura do seminário, reiterando o papel histórico da Fiocruz, com seus 120 anos, para o enfrentamento da pandemia, com destaque para a Atenção Primária em Saúde (APS). Nesse sentido, ela ressaltou o compromisso institucional com a integração ensino-serviço, o reforço ao trabalho em rede e o fortalecimento do SUS, garantindo a equidade, a integralidade do cuidado e o acesso aos serviços para toda população, ainda mais neste contexto da Covid-19.

Residências e Especialização em Atenção Primária em Saúde

Logo após a mesa de abertura, o painel Residências em Atenção Primária em Saúde apresentou as ações realizadas por diversas unidades da Fiocruz no país que ofertam cursos destinados à Atenção Primária em Saúde, além das alternativas e atuações dos residentes diante da pandemia da Covid-19. Compartilhando as experiências educacionais na área de APS da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), a coordenadora da Residência Multiprofissional em Saúde da Família, Mirna Barros Teixeira, apresentou o programa da Ensp e as medidas adotadas pelos residentes para enfrentar o novo coronavírus. “Os residentes do curso ficam inseridos nas Clínicas de Saúde da Família nos municípios do Rio de Janeiro e Mesquita. Além da atuação nessas unidades, eles também acompanham e alimentam dados de painéis de indicadores de Covid-19 nas comunidades de Manguinhos e Jacarezinho”, detalhou Mirna. 

No Laboratório de Inovação na Atenção Primária à Saúde (Inovaaaps), no Estado de Mato Grosso do Sul, o pesquisador da Ensp Daniel Soranz discorreu sobre as alterações no formato da residência. Segundo ele, novas medidas foram criadas para melhor atendimento da população e proteção dos residentes e trabalhadores do local. Teleatendimento, divisão de pacientes por sintomas nas unidades de saúde para evitar possíveis contágios e um projeto de telemonitoramento para a Covid-19 foram algumas medidas citadas pelo médico. O “teleinfectologia”, por sua vez, foi criado para os profissionais de saúde no início da pandemia, a fim de auxiliar as dúvidas sobre a Covid-19. O laboratório criou também atividades para a saúde dos trabalhadores locais, incluindo cuidados para a saúde mental dos profissionais de saúde durante a pandemia. “Além dos pacientes, um cuidado especial também para os profissionais”. 

A coordenadora da Especialização da Gestão da Atenção Primária em Saúde da Ensp/Fiocruz, Roberta Godim, explicou que o curso surgiu da necessidade de expansão da APS no Estado do Rio de Janeiro. Um dos objetivos pedagógicos é o campo de prática do exercício da gestão da atenção primária. “O curso nasceu da demanda dos próprios alunos, já que muitos profissionais de Saúde da APS eram designados para o trabalho de gestão sem ter conhecimento específico da área”. Além disso, para enfrentar a pandemia, a pesquisadora afirmou que os residentes estão atuando na produção de planos de contingência, além de frentes de educação em saúde com o município do Rio e atenção à saúde de populações vulneráveis.  

Já o coordenador da Comissão de Residência Médica (Coreme) e supervisor da Residência em Medicina de Família e Comunidade de Brasília, Armando Raggio, apresentou um projeto de inteligência cooperativa. Um dos diferenciais do curso, conforme explicou, é a forma de aprendizagem. “Ao invés de planejar as residências em disciplinas, propomos ao aluno um aprendizado singular. Isso demonstra experiências interessantes para a expansão com outros programas, com os quais desejamos trocar conhecimento”, disse o coordenador listando, em seguida, as medidas adotadas pelo programa para o enfrentamento da pandemia, como grupo de atendimentos terapêuticos, suporte psicossocial para residentes dos programas da Fiocruz, dentre outros. 

Grace Rosa, gestora dos Programas Integrados de Residência da Fundação Estatal de Saúde da Bahia e coordenadora da Residência Multiprofissional em Saúde da Família do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia) enalteceu o papel desse modelo de formação no serviço e na produção de conhecimento em tempos de pandemia. “A residências são locais privilegiados para a produção do conhecimento porque que reúnem duas dimensões: a da formação e do trabalho. Ou seja, para além de contribuírem para as necessidades assistenciais do SUS, contribuem na sistematização de uma série de conhecimentos”, admitiu.

Segundo Domício Sá, coordenador da Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva do Instituto de Pesquisa Aggeu Magalhães, essa formação tem como objetivo uma forma mais ampla de aprendizado. “A residência é aberta para diversas categorias, formando o sanitarista num contexto mais amplo, com foco na gestão do Sistema Único de Saúde”, detalhou ele reforçando os eixos de atuação formados pelo tripé Atenção Primária, vigilâncias e a gestão propriamente dita, como regulação, políticas estratégicas, dentre outros. 

Formação técnica e mestrados profissionais na Atenção Primária em Saúde

No segundo painel do evento, que debateu Formação técnica e mestrados profissionais na Atenção Primária, a pesquisadora Vanira Matos, da Fiocruz Ceará, doutora em Saúde da Família, falou sobre o desafio político e estratégico de garantir formação continuada aos profissionais de nível técnico. Vanira destacou a relação histórica entre os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e a Fiocruz Ceará, por meio do médico sanitarista Carlile Lavor, criador do Programa, e atual coordenador técnico da Fiocruz Ceará. A pesquisadora citou algumas ações desenvolvidas nas áreas de Saúde da Família e Saúde e Ambiente que contribuem para a consolidação do modelo de atenção à saúde embasado na APS. Além de seminários e cursos de fortalecimento e qualificação, Vanira discorreu sobre a atual pesquisa desenvolvida com foco no monitoramento da situação de saúde dos ACS e das condições de trabalho dos profissionais que trabalham em Fortaleza e no município de Maracanaú na Região Metropolitana, durante a pandemia do novo coronavírus.

A pesquisadora Anya Vieira, também da Fiocruz Ceará e coordenadora da Rede Nordeste em Formação de Saúde da Família (Renasf), destacou as atividades de ensino da Fiocruz Ceará, por meio da Renasf e seu colegiado gestor, que atuam em 26 estados do Nordeste e 1 estado do Norte do Brasil. Anya falou que o retorno e as novas tecnologias aplicadas a partir de agora, em virtude da pandemia do novo coronaVírus, estão sendo debatidos pelo colegiado, priorizando a metodologia ativa e o cuidado com estes profissionais, que muitas vezes trabalham na linha de frente de combate à Covid-19, e mantendo o aluno como centro do processo de aprendizagem. A pesquisadora apresentou ainda o Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família, que já formou 350 mestres e teve o doutorado aprovado pela Capes em 2020. As aulas e defesas dos estudantes seguem de forma remota. A quarta turma do mestrado deve começar no segundo semestre como EAD.

A mesa de debates também contou com a presença de Cristina Guilam, da Vpeic/Fiocruz; de Grácia Gondim, da Escola Politécnica de Saúde (EPSJV/Fiocruz); e de Elyne Engstrom, da Ensp/Fiocruz. 

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