01/04/2010
Renata Moehlecke
Em 8 de maio de 1979, uma das maiores conquistas da saúde internacional foi anunciada na Assembléia Mundial da Saúde: “a erradicação da varíola foi alcançada em todo o mundo”. Hoje, 30 anos após, o Brasil, e a Fiocruz, comemoram o feito com um simpósio internacional, que ocorrerá nos dias 24, 25 e 26 de agosto de 2010, no auditório da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Com o título Erradicação da varíola após 30 anos: lições, legados e inovações, o simpósio visa reunir protagonistas nacionais e internacionais do campo da saúde, a fim de alavancar uma série de iniciativas e parcerias importantes que possam auxiliar a erradicação de outras doenças, como a poliomielite.
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Reprodução da capa de boletim da OMS em maio de 1980 |
“É notável que as avaliações do programa de erradicação da varíola em todo o mundo continuem a ser a base para uma infinidade de debates sobre questões importantes tais como ‘programas verticais’ e ‘horizontais’ de saúde; diferentes noções de cuidados primários de saúde; alternativas para inovação e gestão de programas de imunização; perspectivas futuras para erradicação de outras doenças; e, mais recentemente, o bioterrorismo, a biosegurança e o impacto da nova arquitetura da saúde internacional na pesquisa e desenvolvimento em imunobiológicos”, comenta o historiador Gilberto Hochman, um membros da comissão organizadora do simpósio pela Fiocruz. “A perspectiva de erradicação global da poliomielite é um desses produtos da experiência com a varíola”.
O simpósio contará com a presença de palestrantes de vários países, dentre eles Estados Unidos, França, Índia, China, Japão, Rússia, Somália, México, Canadá, Itália, Noruega, Dinamarca, Peru e Nigéria. As mesas-redondas abordarão diversos temas, como o painel histórico da doença, as experiências obtidas com programas de concepção e execução da imunização contra a varíola em países endêmicos, os princípios e as lições apreendidas com o planejamento, a implementação, a pesquisa e a avaliação contínua da erradicação da doença, o legado de programas e recomendações que podem ser utilizadas para outras doenças, novas oportunidades para o século 21 e outras contribuições.
A eliminação da varíola é considerada por muitos pesquisadores o maior sucesso da saúde internacional, que envolveu inúmeras instituições, governos e milhões de pessoas: a Organização Mundial da Saúde (OMS), outras agências do sistema Organização das Nações Unidas (ONU), os rivais da Guerra Fria (a União Soviética e os EUA), agências bilaterais e multilaterais, e vários profissionais e sistemas de saúde de países onde a varíola ainda era endêmica nos anos 1960 (como Brasil e Índia).
O Programa de Erradicação da Varíola da OMS (1967-1980) produziu uma inesperada e bem-sucedida cooperação internacional em torno da produção e controle de qualidade de vacinas, técnicas e tecnologias de vacinação, do desenvolvimento da vigilância epidemiológica e estratégias de imunização. O programa brasileiro, a Campanha de Erradicação da Varíola (CEV), iniciado em novembro de 1966, teve êxito – com muitos esforços nacionais e cooperação internacional – datando de 1971 o último caso. O Brasil, o último país endêmico na região das Américas, foi certificado como livre da varíola em agosto de 1973. “É impossível imaginar o Programa Nacional de Imunização e o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária sem a experiência da erradicação da varíola no Brasil”, afirma Hochman.
Confira aqui o site do simpósio.
Publicado em 31/3/2010.