O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) da Fiocruz acaba de compilar os dados referentes ao ano de 2005, que mostram que o Brasil bateu novo recorde no número de intoxicações naquele ano: quase 90 mil casos registrados. Os animais peçonhentos voltaram a liderar o número de registros, depois de 12 anos. Foram mais de 23 mil acidentes com animais venenosos, sendo 1/3 causado por escorpiões. O número de mortes por intoxicação também cresceu. O aumento foi de 18% em relação ao ano anterior e a principal causa de óbito foram os agrotóxicos. As estatísticas completas de 2005 estão disponíveis aqui e servem de alerta para os profissionais da saúde e a sociedade.
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A ocupação de regiões mais afastadas aumenta o risco de acidentes com animais peçonhentos |
De acordo com os dados do Sinitox, Pernambuco foi o estado que mais registrou acidentes com os escorpiões – cerca de 2.200 casos em 2005. As serpentes e as aranhas seguem na lista dos principais animais que causam acidentes tóxicos. Para a coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner, o alto índice está relacionado à ocupação desordenada do homem em encostas sem saneamento básico e com solos empobrecidos.
O uso indiscriminado de agrotóxicos aparece como outro grande problema brasileiro, de acordo com as estatísticas do Sinitox. A falta de conhecimento e a má manipulação desse produto, nas lavouras, causaram 159 mortes. Os homens são as maiores vítimas dos agrotóxicos agrícolas, respondendo por 70% dos óbitos. Os dados do Sinitox dividem os agrotóxicos em quatro categorias: de uso agrícola, uso doméstico, uso veterinário e raticidas.
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Escorpião amarelo (Tityus serrulatus), espécie formada apenas por fêmeas e bastante comum nas regiões Sudeste e Nordeste (Fotos: Sinitox) |
Os medicamentos ocupam o primeiro lugar na lista dos agentes tóxicos mais perigosos para as crianças menores de 5 anos. Os dados indicam mais de 6.500 acidentes com crianças naquele ano. As plantas também aparecem como as vilãs da intoxicação infantil. Mais de 40% das vítimas está abaixo dos 5 anos de idade. Além disso, a maioria dos acidentes ocorre nos últimos meses do ano, época da primavera e início das férias escolares.
Os produtos farmacêuticos acometeram mais mulheres (64%) do que os homens (36%). Essas substâncias também são as mais procuradas nas tentativas de suicídio (58%), seguidos pelos agrotóxicos de uso agrícola (14%). “O armazenamento de remédios fora de uso, nas residências, aumenta o risco de acidentes infantis e, culturalmente, as mulheres usam mais essas substâncias do que os homens, por isso elas estão mais expostas”, analisa a coordenadora.
Os adultos jovens (idade entre 20 e 29 anos) são as principais vítimas de intoxicação por drogas de abuso. O Sudeste liderou o número de casos com essas substâncias (1.790), em 2005, mas a região Centro-Oeste é a que apresentou a maior letalidade, 8,75%. Em todo o país, o sexo masculino foi 2,6 vezes mais intoxicado do que as mulheres. Os dados do Sinitox sobre drogas de abuso agregam tanto substâncias lícitas como ilícitas.
A região Sul é a campeã nos registros de intoxicação. Um em cada três casos, ocorridos no Brasil, aconteceu nessa região. Mas o alerta de Rosany é que o número de mortes por intoxicação, em todo o país, voltou a crescer. “É preciso que as medidas de prevenção sejam mais difundidas. Não podemos ficar de braços cruzados”, defende a coordenadora.
O Sinitox, coordenado pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict) da Fiocruz, é responsável pela análise, compilação e divulgação dos dados de intoxicação registrados pela Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat), coordenada pela Anvisa. A Renaciat tem 36 unidades, em 19 estados.