Técnica molecular para diagnóstico do HTLV é testada pela Fiocruz no Recife

Publicado em
Bruna Cruz
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O vírus responsável por provocar um tipo raro de leucemia e o desenvolvimento de doenças neurológicas degenerativas, conhecido como HTLV, pode ser diagnosticado de forma mais precisa na triagem de doadores de sangue nos hemocentros. Pesquisa feita na Fiocruz Pernambuco testou uma técnica molecular para o diagnóstico da doença, mostrando que ela é mais sensível do que o método utilizado rotineiramente, a sorologia. O HTLV é transmitido de forma semelhante ao HIV, ou seja, por transfusões de sangue, relações sexuais não protegidas, da mãe para o filho (durante a gravidez, o parto ou a amamentação) e por meio do compartilhamento de seringas.


 O vírus HTLV (em verde) infecta uma célula T humana (em amarelo) / Foto: Enciclopédia Britânica

O vírus HTLV (em verde) infecta uma célula T humana (em amarelo) / Foto: Enciclopédia Britânica


O método testado, chamado de PCR (reação em cadeia da polimerase) em tempo real, também apresenta menor risco de contaminação do que a sorologia, diferencia os tipos de vírus (1e 2) e permite que se conheça a quantidade de vírus existente no paciente, chamada tecnicamente de carga proviral. “O diagnóstico mais preciso e a quantificação da carga do vírus faz com que o acompanhamento clínico do paciente possa ser administrado de maneira mais eficiente e eficaz, já que o Ministério da Saúde preconiza que pessoas com diagnóstico positivo e/ou sintomas da doença sejam avaliadas em intervalos de seis meses”, explica a famacêutica-bioquímica Bruna Arruda, autora do estudo que resultou em sua dissertação de mestrado em saúde pública. O MS estima que, atualmente, no Brasil, 750 mil pessoas sobrevivam com o HTLV, sigla que significa vírus linfotrópicos de células T humanas.


A pesquisa comparou a PCR em tempo real e a PCR convencional, chamada de qualitativa e mais usual do que a primeira, com a sorologia, usada atualmente pelos hemocentros para diagnosticar o vírus na triagem do sangue dos doadores. A PCR em tempo real apresentou uma sensibilidade de 100% e especificidade de 96,67% se comparada à sorologia para a identificação do vírus. Já a PCR qualitativa mostrou, respectivamente, sensibilidade e especificidade de 87,5% e de 100%. “Essas características são essenciais para adoção do método para triagem em hemocentros. Entretanto, o fato de a PCR determinar a carga do vírus no paciente indica que ela é a melhor opção para ser implementada na rotina dos hemocentros como teste confirmatório da doença. O método também pode ser empregado no monitoramento clínico de pacientes infectados”, ressaltou Bruna.


A pesquisadora conta, ainda, que a PCR em tempo real já é utilizada em outras instituições brasileiras, a exemplo do Laboratório de Saúde Pública da Fiocruz da Bahia, o hemocentro de Ribeirão Preto e a Hemominas, em Belo Horizonte, mas que a técnica é empregada com mais freqüência por institutos de pesquisa para a realização de estudos sobre o HTLV.


Durante a pesquisa, que ocorreu de novembro de 2006 a abril de 2007, foram analisadas amostras de sangue de 63 voluntários do ambulatório da Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope), dos quais 33 tinham resultado positivo para a presença do HTLV e 30 eram de doadores de sangue sabidamente negativos. O trabalho, aprovado pelos comitês de Ética em Pesquisa (CEP) da Fiocruz e do Hemope, foi feito sob a orientação da pesquisadora do Departamento de Imunologia do Centro, Yara Gomes.


Vírus


O vírus HTLV apresenta-se em dois tipos: HTLV-1 e HTLV-2. Até hoje, nenhuma doença é atribuída ao tipo 2. Os principais sintomas em um portador do vírus do tipo 1 são dores nos membros inferiores (panturrilhas), na região lombar (parte inferior da coluna lombar) e dificuldade em defecar ou urinar. Para se prevenir da doença, é recomendado o uso de preservativo em todas as relações sexuais. O tratamento do portador do vírus irá depender de uma avaliação médica, grau de comprometimento do paciente, tempo de evolução da doença, presença de outras infecções virais etc.