Tese é premiada por mapear acesso à saúde no Brasil

Publicado em
Alessandro Pereira
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A tese de doutorado A multiplicidade do único – territórios do SUS, orientada pela pesquisadora do Centro de Informação Científica e Tecnológica (Cict) da Fiocruz Claudia Travassos, ganhou o Prêmio Capes de Tese em Saúde Pública. A pesquisa vencedora é da geógrafa do IBGE, Evangelina Gouveia. Em A multiplicidade do único, a geógrafa examina a distribuição territorial dos serviços hospitalares e investiga como a regionalização do SUS pode melhorar o acesso aos atendimentos. O trabalho, que já recebeu menção honrosa no Prêmio de Tecnologia para o SUS, em 2005, foi defendido em janeiro daquele ano na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp).


Para realizar a pesquisa, Evangelina utilizou dados do Censo de 2000, que trabalha com informação dos 5.507 municípios existentes no Brasil na ocasião. A partir daí, a pesquisadora conseguiu identificar que os serviços de uso mais freqüente como as internações para o parto, insuficiência cardíaca e crises pulmonares estavam disponíveis na maior parte do território nacional. “Das internações de pacientes do SUS, 85% ocorreram no município de sua residência e apenas 1,3% dos internados percorreram mais de 60 quilômetros busca de atendimento”, pondera a geógrafa.


Questionada sobre o panorama do acesso à saúde no Brasil, Evangelina se mostra otimista: “A minha maior satisfação foi observar a melhora da cobertura do sistema no país. Hoje, os atendimentos relacionados às doenças do cotidiano estão disponíveis em quase todo o Brasil. Ainda é preciso diminuir o tempo de espera das consultas, dos exames e também melhorar a distribuição de recursos, mas é preciso reconhecer que a gestão do SUS está evoluindo” defende.


Por outro lado, a tese aponta que os serviços de maior complexidade, como a neurocirurgia, não acompanham a proporção dos serviços mais comuns. Em 2000, 42% dos pacientes internados para a neurocirurgia no SUS percorreram mais de 60 quilômetros em busca de atendimento. Nesse mesmo período, apenas 145 municípios internaram pacientes nessa especialidade. "Isso significa que, em linhas gerais, os serviços de alta complexidade estão disponíveis em cerca de 50% dos municípios brasileiros", diz Evangelina.


Para Claudia Travassos, o trabalho contribui com ferramentas novas para temas como a regionalização e criação de redes de serviços, o mapeamento dos fluxos de pacientes e avaliação das barreiras geográficas no acesso a serviços de saúde. “O prêmio representa o reconhecimento do trabalho em conjunto, que também contou com a co-orientação da pesquisadora da Ensp, Marília Sá Carvalho. Estou feliz em contribuir para o reconhecimento dos projetos desenvolvidos pela Fiocruz”, comemora a orientadora. 


A co-orientadora Marília Carvalho afirma que a tese permite ao gestor verificar o acesso aos serviços de saúde por regiões. "A vantagem é que os municípios podem planejar seus gastos ao acompanharem o destino dos pacientes que procuram atendimento. Espero que o reconhecimento formal do trabalho estimule o IBGE a investir em outras pesquisas com esta temática”, sugere Marília.


A premiação ocorrerá em 9 de novembro, em Brasília, e contará com a presença do ministro da Educação, Fernando Haddad. Os interessados no trabalho podem encontrá-lo na página do DataSUS. Além desse prêmio, as orientadoras também receberam este ano o primeiro Prêmio de Incentivo ao Desenvolvimento e à Aplicação da Epidemiologia no SUS, pela tese de doutorado Variações no uso de serviços de saúde: o infarto agudo do miocárdio no Rio de Janeiro, de Enirtes Caetano Prates Melo.