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23/05/2013

Trabalho é premiado em evento internacional de leishmanioses

Isadora Marinho


Promovido a cada quatro anos, o Congresso Internacional de Leishmanioses, conhecido como World Leish, ganhou, em 2013, sua quinta edição – a primeira a ser realizada no continente americano. Coube ao Brasil, mais precisamente à cidade de Porto de Galinhas (PE), a tarefa de reunir os mais de 1,3 mil inscritos, oriundos de 44 países, em cinco dias de atividades. De 13 a 17 de maio, entomologistas, biólogos, epidemiologistas, clínicos, imunologistas, patologistas e estudantes participaram de 43 apresentações, 14 simpósios satélite e 21 sessões especiais, destinadas a assuntos considerados controversos, desafiadores ou pouco debatidos pela comunidade científica. Pesquisadores do Instituto Oswaldo  Cruz (IOC/Fiocruz) integraram a organização do evento e o trabalho desenvolvido por uma estudante de iniciação científica do instituto foi premiado.

Taíse Oliveira (à esquerda), bolsista do Laboratório de Pesquisa em Leishmaniose e vencedora do prêmio de melhor pôster na categoria Genética, Evolução e Taxonomia e a vice-presidente Claude Pirmez (Foto: acervo pessoal)
 

Ao longo do evento, foram apresentados 962 pôsteres, distribuídos entre 13 áreas temáticas. “Trata-se de um tema amplo, afinal, existem as formas cutânea e visceral da doença, assim como seus respectivos aspectos bioquímicos, proteômicos, terapêuticos e clínicos”, justificou a integrante do Comitê Organizador, a vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz e pesquisadora do IOC Claude Pirmez. De acordo com a especialista, o número de participantes e de trabalhos inscritos bateu recordes nesta edição. Não por acaso, 50% dos participantes eram brasileiros. “As leishmanioses são problemas significativos de saúde pública, motivo pelo qual contamos, hoje, com um grande contingente de pesquisa e de pesquisadores dedicados ao assunto. Inclusive, isto somente foi possível graças a um aumento nos investimento em ciência e tecnologia e na formação de profissionais, observada nos últimos 20 anos”, explicou Claude.  

Destaque entre os premiados

Dentre os 962 pôsteres, foram escolhidos os 13 melhores, sendo um de cada área temática. A premiação da área de Genética, Evolução e Taxonomia foi recebida pelo Laboratório de Pesquisa em Leishmaniose do IOC, que participou com o trabalho Análise de sítios ambíguos nas sequências de um fragmento do gene 6pdg de Leishmania spp: multiclonalidade ou heterozigose?, de autoria da bolsista de iniciação científica Taíse Salgado de Oliveira, de 22 anos. O estudo faz parte da tese de doutorado de Mariana Côrtes Boité e conta, ainda, com a participação do pós-doutorando Gabriel Melim Ferreira, o mestrando Marcos Augusto Trannin e a tecnologista Bárbara Neves Santos.

“É raro um estudante de graduação ser premiado em um congresso internacional. Embora se trate de uma pesquisa de excelência realizada em conjunto, foi a Taíse que a apresentou e passou pela avaliação da comissão”, comentou a orientadora das estudantes e chefe do laboratório, Elisa Cupolillo, recentemente eleita vice-diretora de Ensino, Informação e Comunicação do IOC. O mesmo trabalho rendeu a Taíse, em 2012, uma bolsa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq).

Elisa explicou que a inovação do trabalho reside tanto no tema quanto na abordagem. “Geralmente, os sítios ambíguos são apenas identificados e não interpretados. Escolhemos um assunto pouco estudado e utilizamos procedimentos simples, tanto na abordagem de cultura como nas metodologias de análise molecular e genética. O fato de contarmos com uma coleção biológica representativa de Leishmania, que nos permite analisar cepas das mais diversas espécies, nos rendeu mais um diferencial”, disse Elisa. De acordo com Claude, os pôsteres foram apresentados em rodas de discussão batizadas como thinking box, que consistiam no agrupamento de cerca de oito trabalhos sobre o mesmo tema e oriundos de diferentes países.

A leishmaniose visceral e os cães

Ao lado de outros sete pesquisadores do IOC, Elisa integrou o Comitê Científico do World Leish 5. De acordo com a pesquisadora, o papel dos cães na transmissão da leishmaniose visceral foi um dos assuntos mais discutidos no evento. “A recomendação que temos hoje é a de fazer eutanásia nos animais diagnosticados, uma medida drástica. Por outro lado, as vacinas disponíveis não têm cobertura total”, explicou. O desenvolvimento de vacinas e novos métodos de diagnóstico para a doença nos humanos foram outros temas de destaque.

Endêmicas em 98 países – sendo a maioria nações em desenvolvimento – as leishmanioses são responsáveis pela morte de cerca de 50 mil pessoas todos os anos. São as formas mais comuns da doença a leishmaniose visceral, que leva à morte se não for tratada nas primeiras semanas, e a leishmaniose cutânea, que provoca lesões crônicas ou de cura espontânea na pele e nas cartilagens. O Brasil é o único representante das Américas na lista de países que concentram 90% dos novos casos, figurando ao lado de Bangladesh, Índia, Etiópia, Nepal e Sudão. Ao serem picados por insetos flebotomíneos infectados, animais silvestres e domésticos, como cães e gatos, se tornam repositório do parasita, contribuindo com a propagação da doença. A coinfecção é uma das principais preocupações da comunidade médica, principalmente nos casos de pacientes portadores do HIV.

Também participaram do comitê científico do evento os pesquisadores do IOC Marcello Barcinski, do Laboratório de Biologia das Interações; Alda Cruz, do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas; Reginaldo Brazil, do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos; Sergio Mendonça, chefe do Laboratório de Imunoparasitologia; Elizabeth Rangel, chefe do Laboratório de Transmissores de Leishmanioses; e Yara Traub-Cseko, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Parasitos e Vetores. O evento foi organizado pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, a Sociedade Brasileira de Protozoologia, a Sociedade Brasileira de Parasitologia e a Fiocruz.

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