21/02/2018
Um artigo publicado na edição de fevereiro da revista The Lancet Global Health lançou a hipótese de que a infecção do vírus zika, transmitido principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, pode gerar imunoproteção contra o vírus da dengue. O estudo intitulado Does immunity after Zika vírus infection cross-protect against dengue? foi resultado de pesquisas realizadas com pacientes infectados pelos vírus zika, dengue e chikungunya, em Salvador, no estado da Bahia.
O trabalho, que tem dentre os autores o pesquisador da Fiocruz Bahia Guilherme Ribeiro, apresenta evidências estatísticas sobre a redução na frequência de dengue antes e após a epidemia de zika, ocorrida em 2015. A pesquisa começou a ser realizada em 2009 e se estendeu até 2017, com cerca de 3.300 moradores de Salvador, que estavam com uma doença febril aguda e foram atendidos em uma unidade de pronto-atendimento da cidade.
Entre 2009 e 2013, os participantes foram testados para o vírus da dengue e depois de 2014, com a chegada dos vírus da zika e da chikungunya no Brasil, passaram a ser testados também para esses vírus.
De acordo com a estudo, de 2009 até março de 2015, 25% (484 de 1937) dos pacientes analisados foram diagnosticados com dengue. A partir de abril de 2015, início da epidemia de zika, até 2017, a frequência de dengue diminuiu para apenas 3% (43 de 1334). Além disso, desde 2016 não houve mais picos na ocorrência de dengue, embora a frequência de casos de chikungunya permanecesse elevada. Como os vírus da dengue e da chikungunya são transmitidos pela mesma espécie de mosquitos, a manutenção na ocorrência da chikungunya indica que o ambiente continuava propício para a transmissão do vírus da dengue.
Com isso, os pesquisadores chegaram à conclusão de que pode haver uma imunoproteção contra a dengue em pacientes que foram infectados pelo vírus zika. Caso essa hipótese seja confirmada, ela poderá ajudar a direcionar estudos sobre a imunopatogênese da dengue e da zika, bem como no desenvolvimento de vacinas contra esses vírus.