17/10/2024
O país vai conhecer o panorama atual dos casos de violências e acidentes que chegam aos serviços de urgência e emergência. O VIVA Inquérito iniciou a coleta de dados neste mês de outubro e fornecerá as informações necessárias para a formulação de políticas públicas de prevenção e controle. Sete anos após a última edição, a pesquisa terá uma abrangência inédita, com representatividade nacional. Serão realizadas 50,5 mil entrevistas em hospitais, prontos-socorro e UPAs nas capitais, regiões metropolitanas e no interior. O foco da pesquisa é a vigilância das causas externas, como acidentes de trânsito, quedas, afogamentos, queimaduras e diferentes tipos de violências, incluindo interpessoais e autoprovocadas.
Iniciativa do Ministério da Saúde, a pesquisa é coordenada por um colegiado formado pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e pela Universidade Federal do Pará (UFPA), em parceria com os estados e municípios. Em sua sétima edição, o VIVA Inquérito faz parte da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências (PNRMAV). A pesquisadora do Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) da Ensp/Fiocruz, Joviana Avanci é representante da Fiocruz nessa coordenação ao lado de Liana Pinto, também do Claves.
“A ideia é aprimorar o atendimento às pessoas em situação de violência que chegam aos serviços de saúde de urgência e emergência, trabalhar na prevenção desses casos e também dos acidentes, além de elaborar novas políticas públicas. Desde o último levantamento, houve muitas mudanças na dinâmica da sociedade, como no mundo do trabalho com o surgimento de novas ocupações de motociclistas e motoristas ligados aos aplicativos, por exemplo. Outro ponto interessante a ser investigado é sobre o interior do país, do qual sabemos muito pouco, enquanto a violência tem se interiorizado. Portanto, será uma oportunidade de conhecer essa realidade”, explicou a pesquisadora.
A previsão é que coleta de dados nos serviços se encerre até o fim deste ano. O VIVA Inquérito vai traçar o perfil de vítimas de violência e de acidentes atendidas nas unidades de saúde, identificar fatores de risco e de proteção associados à ocorrência de violências e acidentes e propor medidas específicas de vigilância e prevenção e de promoção da saúde e da cultura da paz. Na etapa seguinte à coleta de dados, será realizada a análise. “Será possível conhecer a magnitude dos casos, suas características, o perfil dos casos, do atendimento que é oferecido, das situações de violência, dos autores das agressões, por exemplo”, explicou Joviana. Pesquisadores do Claves/Ensp/Fiocruz, Edinilsa Souza, Simone de Assis e Cosme Marcelo da Silva também participam da pesquisa.
A diretora do Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis (Daent/SVSA/MS), Letícia Cardoso, que também é pesquisadora da Ensp/Fiocruz, coordena o inquérito pelo Ministério da Saúde. “Com a presença de uma instituição acadêmica, um inquérito como esse, que compõe um sistema de vigilância de violências e acidentes, ganha em termos de estratégias de controle de qualidade da pesquisa, ou seja, podemos garantir que estamos usando instrumentos qualificados, já que existe um rigor metodológico, seja do desenho amostral, seja do cumprimento do que foi preconizado em termos de aferição. O questionário que está sendo aplicado nos serviços é padronizado com parâmetros pré-estabelecidos, com manual para checagem, instrumentos de controle de dados ao longo da coleta”, explicou.
Letícia Cardoso disse, ainda, que todas as instituições envolvidas saem ganhando com a parceria. “Há um enriquecimento da parte da academia, colocando seu input no rigor metodológico desse componente da vigilância. Enquanto isso, para dentro da academia, a vigilância leva o que é de fato relevante para ser investigado. Então, é uma troca muito importante. Nesse campo da vigilância das violências e acidentes, o Brasil tem poucos grupos de pesquisa com expertise. A produção do conhecimento é escassa comparada a outras áreas. Por isso, uma pesquisa epidemiológica servindo a um componente de vigilância, com o rigor metodológico que a gente preconiza, traz um grande benefício”, detalhou a diretora do Daent/SVSA/MS.
“O Ministério da Saúde, através do Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis, viabilizou a realização da pesquisa nesses moldes, que demanda mais investimento e outra logística. Esse desenho possibilita o conhecimento dos casos de violência de forma mais apurada. É mérito dessa gestão investir para conhecermos os casos de acidentes e violências que existem no país hoje”, analisou Joviana.
Antes do início da coleta de dados, o Ministério da Saúde entrou em contato com os hospitais selecionados para participar da pesquisa. Os coletadores de informações estão identificados com crachás e roupas com logos do VIVA Inquérito e apresentam ofícios do Ministério da Saúde nos serviços onde serão realizadas as entrevistas. A pesquisa tem a aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conepe). "Para o sucesso desta pesquisa, é essencial que gestores e trabalhadores da saúde estejam devidamente sensibilizados. Esse processo é crucial para que compreendam não apenas a importância do estudo e seus impactos na saúde pública, mas também para facilitarem o acesso dos pesquisadores aos serviços, garantindo a coleta de dados de forma eficaz e colaborativa”, apontou Letícia Cardoso.