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13/05/2016

Alunos da Escola Politécnica debatem violência em comunidades

Talita Rodrigues (EPSJV/Fiocruz)


Unindo uma discussão sobre questões de gênero e violência, a coordenação da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) promoveu (4/5) o evento Mulheres, Trabalho e Classe Social. “Este ano, juntamos a discussão de gênero, que normalmente fazemos em março, mês da mulher, com a discussão do trabalho, no mês de maio. A maioria de nossos alunos são mulheres e moradoras de Manguinhos [complexo de favelas do Rio de Janeiro, onde está localizada a Fiocruz], então essas questões estão presentes em seu dia-a-dia”, disse Daniel Vieira, da equipe de coordenação da EJA.

Como parte da atividade, alunos e professores produziram cartazes com questionamentos sobre a violência e as questões de gênero (imagem: EPSJV/Fiocruz)

 

A mesa-redonda teve a participação de mulheres que representam algumas categorias da sociedade: Elizabeth Campos, coordenadora da Rede CCAP, organização que luta por Educação e Cultura em Manguinhos; a militante transexual Bárbara Aires; e Sandra Souza, moradora de favela Vila Kennedy há 40 anos e que atua no Pré-Técnico Comunitário da comunidade, preparando jovens para ingressarem nas escolas públicas de ensino médio de qualidade. O debate foi mediado pela professora Jaqueline Andrade, que é oficineira de Teatro na EJA. “Achei muito importante a gente discutir esse assunto. As mulheres já deveriam ter esses direitos há muito tempo, mas agora estão conquistando seus direitos”, disse o aluno João Batista.

O evento é parte das atividades do tema Trabalho, definido como eixo do semestre pela equipe de coordenação da EJA. A cada semestre, é definido um tema, que é trabalhado de forma transversal em todas as disciplinas. Como parte deste trabalho, alunos e professores produziram cartazes com questionamentos sobre a violência e as questões de gênero, que foram afixados na EPSJV/Fiocruz. “Usamos os cartazes como estratégia para promover o debate desde o momento em que os alunos entrassem na escola no dia do evento”, explicou Daniel, acrescentando que o debate reuniu cerca de 250 alunos da EJA, a maioria moradores de Manguinhos, que vivenciam a violência em seu cotidiano, desde os casos mais graves, como violência policial e assassinatos, até problemas que interferem no dia-a-dia dos moradores. “Estou sem telefone fixo há quase um mês porque roubam os casos de telefonia da rua. Essa semana a empresa veio de novo, recolocou os cabos e, no mesmo dia, à noite, roubaram de novo, e fiquei sem telefone outra vez”, contou João Batista, que é morador de Manguinhos há mais de 30 anos.

A aluna Elisabeth Vieira Alves, que também é moradora de Manguinhos há mais de 30 anos, disse que a violência os deixa sempre em alerta. “Hoje, estamos sitiados. Enquanto nossos filhos, sobrinhos, não chegam do trabalho, não ficamos tranquilos. Quando escutamos um tiro, já pensamos logo nos nossos filhos que estão na rua”, disse ela, acrescentando que os moradores da comunidade não têm voz para falarem sobre seus problemas. “Esse direito nos é negado”, afirmou Elisabeth.

Moção de repúdio

Também como parte das ações dos alunos da EJA, desta vez em parceria com representantes da comunidade de Manguinhos e de movimentos sociais, foi produzida, em abril, uma moção de repúdio à atual política de segurança do estado, que tem gerado muitas vítimas na região. Nos últimos quatro anos, seis jovens foram assassinados em Manguinhos durante operações policiais na comunidade.

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